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CRUZES
As maravilhas da cozinha soviética :)
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- Registado: segunda ago 13, 2012 6:13 am
Fiquei estupefacto.. da parte de eles nem saberem o que eram bananas já tinha ouvido por parte de colegas meus que foram estudar para a russia nos anos 80..agora isto é ainda pior do que eu pensava..enfim o grande império dos sovietes
Amigos meus professores que iam á antiga RDA ficavam doentes com a qualidade e variedade da comida....
Bananas e laranjas??? Isso era inimaginável. Salada, verduras frecas, legumes variados era mentira....muita batata, nabo,beterraba.
Água engarrafada um luxo. A da torneira, uma porcaria.
Mas toda a gente sabia que as cúpulas do partido tratavam-se muito bem. Não eram anda parvos, o povinho que se lixasse
Bananas e laranjas??? Isso era inimaginável. Salada, verduras frecas, legumes variados era mentira....muita batata, nabo,beterraba.
Água engarrafada um luxo. A da torneira, uma porcaria.
Mas toda a gente sabia que as cúpulas do partido tratavam-se muito bem. Não eram anda parvos, o povinho que se lixasse
não concordo com a pate das "As nojentas sopas de leite com aletria.". adoro sopas de leite com aletria!
Um amigo meu, húngaro, contava que, durante o tempo do comunismo, havia pouca variedade, as pessoas sujeitavam-se ao que existia, mas havia para todos. Hoje, há de tudo como no "ocidente capitalista e democrático", mas grande parte da população não pode usufruir de tanta variedade... só quem tem dinheiro.
Um amigo meu, húngaro, contava que, durante o tempo do comunismo, havia pouca variedade, as pessoas sujeitavam-se ao que existia, mas havia para todos. Hoje, há de tudo como no "ocidente capitalista e democrático", mas grande parte da população não pode usufruir de tanta variedade... só quem tem dinheiro.
O que o opinoso, ingrato e má língua do Milhazes devia contar é que lá na satalovaia da Faculdade em que tirou o seu cursozeco de História aparecia caviar, imagine-se! Eu detesto caviar, embora goste de ovas de peixe, mas os estudantinhos que se penduravam na minha casa de Moscovo regalavam-se.
O peixe era mau? Não sei como, quando o comprava e cozinhava ficava com a casa a cheirar a mar. De facto, as diebuskas que nos atendiam nas lojas não tinham qualquer técnica a separar os blocos de peixe congelado, chegavam ali com a machadinha e vai disto, cortavam a direito e saía o que saía. Apareciam com frequência lulas, sim, e outros peixes que desconhecemos de todo por cá. Mas as maiores sardinhas que alguma vez comprei, foi lá. E que boas eram! Pescadas por barcos soviéticos no Mar do Norte.
Os pacotes triangulares do leite furavam os sacos e arranhavam-nas as pernas? Que drama alimentar, de facto! Estava-se no princípio das embalagens Tetrapack, cá também eram assim dois ou três anos antes. Os produtos lácteos eram em grande número e de grande qualidade, como foi falado entre mim e a Teffie, no primeiro tópico do kefir.
Nunca encontrou bananas à venda? Eu encontrei, algumas vezes, vindas de Cuba. Os pilménhis eram maus e tinham de ser separados à martelada? Pudera, estavam congelados e colados pelo gelo. Bastava metê-los em água a ferver que eles logo descolavam.
Nas lojas do Estado não havia hortaliças nem legumes frescos durante o Inverno, de facto. Mas se fosse ao Rinok, o mercado em que os camponeses vendiam os produtos das suas hortas privadas, de certeza que arranjaria alguma coisa. Também encontraria carne, aves e fruta. E peixe de rio.
Os frangos tinham realmente mau aspecto, pois não lhes retiravam as patas e a cabeça e muitas vezes até vinham com as tripas. E todos se precipitavam a comprar os frangos importados da Bélgica, de França e da Alemanha. Os piores eram os da Bélgica, autênticos pedaços de algo artificial, sem sabor e mole em formato de frango. Mas a partir do dia em que comprei um frango "soviético" numa barraquinha junto ao metro, nunca mais quis outros. Frangos a sério, senhores, tenros, saborosos, mais saborosos do que os melhores frangos do campo dos nossos belos e bem abastecidos supermercados maravilhosamente capitalistas.
Claro que aquele país tinha sérios problemas de abastecimento, um sistema que propiciava a corrupção. Claro que que as cidades estavam classificadas como de primeira e não de primeira, sistema baseado e originado pelas mazelas da guerra que depois se perpetuou por desmazelo e deixa-andar. Moscovo, e outras grandes cidades em que se concentravam as indústrias mais importantes, era uma cidade com primazia neste aspecto. Beneficiada, em suma. Mas trata-se de uma cidade no meio de um país, sem mar, e que está sete meses por ano debaixo de neve e gelo. Uma cidade que tem (tinha naquela época) de população fixa mais gente do que Portugal inteiro e recebia um milhão de visitantes internos por dia.
Enfim, agora é fácil falar e ficar à espera que ninguém se lembre já do que lá viveu. E para que fique esclarecido: não, nunca tive acesso às lojas das elites, fiz exactamente a mesma vida que qualquer comum cidadão, estrangeiro ou não.
O peixe era mau? Não sei como, quando o comprava e cozinhava ficava com a casa a cheirar a mar. De facto, as diebuskas que nos atendiam nas lojas não tinham qualquer técnica a separar os blocos de peixe congelado, chegavam ali com a machadinha e vai disto, cortavam a direito e saía o que saía. Apareciam com frequência lulas, sim, e outros peixes que desconhecemos de todo por cá. Mas as maiores sardinhas que alguma vez comprei, foi lá. E que boas eram! Pescadas por barcos soviéticos no Mar do Norte.
Os pacotes triangulares do leite furavam os sacos e arranhavam-nas as pernas? Que drama alimentar, de facto! Estava-se no princípio das embalagens Tetrapack, cá também eram assim dois ou três anos antes. Os produtos lácteos eram em grande número e de grande qualidade, como foi falado entre mim e a Teffie, no primeiro tópico do kefir.
Nunca encontrou bananas à venda? Eu encontrei, algumas vezes, vindas de Cuba. Os pilménhis eram maus e tinham de ser separados à martelada? Pudera, estavam congelados e colados pelo gelo. Bastava metê-los em água a ferver que eles logo descolavam.
Nas lojas do Estado não havia hortaliças nem legumes frescos durante o Inverno, de facto. Mas se fosse ao Rinok, o mercado em que os camponeses vendiam os produtos das suas hortas privadas, de certeza que arranjaria alguma coisa. Também encontraria carne, aves e fruta. E peixe de rio.
Os frangos tinham realmente mau aspecto, pois não lhes retiravam as patas e a cabeça e muitas vezes até vinham com as tripas. E todos se precipitavam a comprar os frangos importados da Bélgica, de França e da Alemanha. Os piores eram os da Bélgica, autênticos pedaços de algo artificial, sem sabor e mole em formato de frango. Mas a partir do dia em que comprei um frango "soviético" numa barraquinha junto ao metro, nunca mais quis outros. Frangos a sério, senhores, tenros, saborosos, mais saborosos do que os melhores frangos do campo dos nossos belos e bem abastecidos supermercados maravilhosamente capitalistas.
Claro que aquele país tinha sérios problemas de abastecimento, um sistema que propiciava a corrupção. Claro que que as cidades estavam classificadas como de primeira e não de primeira, sistema baseado e originado pelas mazelas da guerra que depois se perpetuou por desmazelo e deixa-andar. Moscovo, e outras grandes cidades em que se concentravam as indústrias mais importantes, era uma cidade com primazia neste aspecto. Beneficiada, em suma. Mas trata-se de uma cidade no meio de um país, sem mar, e que está sete meses por ano debaixo de neve e gelo. Uma cidade que tem (tinha naquela época) de população fixa mais gente do que Portugal inteiro e recebia um milhão de visitantes internos por dia.
Enfim, agora é fácil falar e ficar à espera que ninguém se lembre já do que lá viveu. E para que fique esclarecido: não, nunca tive acesso às lojas das elites, fiz exactamente a mesma vida que qualquer comum cidadão, estrangeiro ou não.
<p>Olá, eu sou a... Floripes3 que já foi 2. :mrgreen:</p>
<p>''Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado'' - Elie Wiesel</p>
<p> "Nas costas dos outros vemos espelhadas as nossas." - Dito popular</p>
<p>''Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado'' - Elie Wiesel</p>
<p> "Nas costas dos outros vemos espelhadas as nossas." - Dito popular</p>
Muito bem Floripes3Floripes3 Escreveu:O que o opinoso, ingrato e má língua do Milhazes devia contar é que lá na satalovaia da Faculdade em que tirou o seu cursozeco de História aparecia caviar, imagine-se! Eu detesto caviar, embora goste de ovas de peixe, mas os estudantinhos que se penduravam na minha casa de Moscovo regalavam-se.
O peixe era mau? Não sei como, quando o comprava e cozinhava ficava com a casa a cheirar a mar. De facto, as diebuskas que nos atendiam nas lojas não tinham qualquer técnica a separar os blocos de peixe congelado, chegavam ali com a machadinha e vai disto, cortavam a direito e saía o que saía. Apareciam com frequência lulas, sim, e outros peixes que desconhecemos de todo por cá. Mas as maiores sardinhas que alguma vez comprei, foi lá. E que boas eram! Pescadas por barcos soviéticos no Mar do Norte.
Os pacotes triangulares do leite furavam os sacos e arranhavam-nas as pernas? Que drama alimentar, de facto! Estava-se no princípio das embalagens Tetrapack, cá também eram assim dois ou três anos antes. Os produtos lácteos eram em grande número e de grande qualidade, como foi falado entre mim e a Teffie, no primeiro tópico do kefir.
Nunca encontrou bananas à venda? Eu encontrei, algumas vezes, vindas de Cuba. Os pilménhis eram maus e tinham de ser separados à martelada? Pudera, estavam congelados e colados pelo gelo. Bastava metê-los em água a ferver que eles logo descolavam.
Nas lojas do Estado não havia hortaliças nem legumes frescos durante o Inverno, de facto. Mas se fosse ao Rinok, o mercado em que os camponeses vendiam os produtos das suas hortas privadas, de certeza que arranjaria alguma coisa. Também encontraria carne, aves e fruta. E peixe de rio.
Os frangos tinham realmente mau aspecto, pois não lhes retiravam as patas e a cabeça e muitas vezes até vinham com as tripas. E todos se precipitavam a comprar os frangos importados da Bélgica, de França e da Alemanha. Os piores eram os da Bélgica, autênticos pedaços de algo artificial, sem sabor e mole em formato de frango. Mas a partir do dia em que comprei um frango "soviético" numa barraquinha junto ao metro, nunca mais quis outros. Frangos a sério, senhores, tenros, saborosos, mais saborosos do que os melhores frangos do campo dos nossos belos e bem abastecidos supermercados maravilhosamente capitalistas.
Claro que aquele país tinha sérios problemas de abastecimento, um sistema que propiciava a corrupção. Claro que que as cidades estavam classificadas como de primeira e não de primeira, sistema baseado e originado pelas mazelas da guerra que depois se perpetuou por desmazelo e deixa-andar. Moscovo, e outras grandes cidades em que se concentravam as indústrias mais importantes, era uma cidade com primazia neste aspecto. Beneficiada, em suma. Mas trata-se de uma cidade no meio de um país, sem mar, e que está sete meses por ano debaixo de neve e gelo. Uma cidade que tem (tinha naquela época) de população fixa mais gente do que Portugal inteiro e recebia um milhão de visitantes internos por dia.
Enfim, agora é fácil falar e ficar à espera que ninguém se lembre já do que lá viveu. E para que fique esclarecido: não, nunca tive acesso às lojas das elites, fiz exactamente a mesma vida que qualquer comum cidadão, estrangeiro ou não.
Hoje as pessoas gostam muito de falar mal, mas os meus pais viveram la naquela altura, e o meu pai ainda hoje ao comer as porcarias que se vendem hoje nos supermercados (com tanta variedade) lembra-se dos bons produtos alimentares (especialmente produtos lactios), naturais que comia qnd era criança, a uniao sovietica tinha muitos problemas mas a comida era muito boa.
Nao havia tanta variedade, porque o país era "fechado" ao exterior, mas digo-vos que os produtos eram naturais e nao entrava tanta porcaria como hoje, fast-food, conservantes e aditivos artificias ninguem sabia o que isso era xD.
E o que nao havia nas lojas comprava-se no rinok (o meu pai comprava-la fruta, legumes, carnes, etc.)...ele recorda-se muito bem das româs vermelhas como sangue, soculentas e enormes que comia, do leite, tvorog, kifir, smetana, pelimeni, manteiga e mortadela que desapareceu depois da "queda" da uniao sovietica...os gelados, bolos, vatrushki, bubliki, etc...podia ficar aqui meio ano a enumerar as coisas boas que se comiam na minha terra.
A variedade de cogumelos e frutos de bosque entao...omnomnom, compravam-se em baldes de 5L, porque eram muito baratos, aqui soencontro embalagens de 200g de framboesas a 3€
Os meus avos apanhavam tantos cogumelos e frutos silvestres na floresta que davam para o ano inteiro, comiam-se frescos, eram secos, metidos em conserva, congelados...faziam-se compotas, doces, sopas,etc
A variedade era pouca, so havia uma marca de pelimeni, leite, etc, mas era tudo controlado pelo GOST, hoje em dia a russia esta "livre", no entanto é mais facil falsificar produtos, a qualidade desceu, no geral, e os preços aumentaram.
“Reality is merely an illusion, albeit a very persistent one.”
― Albert Einstein
― Albert Einstein
Essa chamada mortadela, que era bem diferente da mortadela que cá consumimos e que é de estilo italiano, era muito boa, sim. Havia tanta fartura dela que cheguei a aborrecê-la. E as salsichas? Aquelas que se descascavam do celofane que as envolvia e que eu via as mães, paradas a um canto, a dar aos filhos pequenos que as tinham acompanhado às compras. Porque fazer compras naquela cidade gigantesca era mesmo uma tarefa e tanto, cansativa...
O autor do blogue faria melhor se contivesse as suas críticas ingratas. Foi para lá, fugindo ao destino de meia-tigela que cá o esperava, foi alojado, recebeu uma bolsa de estudos que era "só" o quádruplo da que recebiam os estudantes do país: 80 rublos os estrangeiros, 20 os da União. Dava para comer, dentro e fora das stalovaias. E depois de terminar o curso ficou por lá, deve ter sido mesmo por a comida ser tão má...
Resta acrescentar que a Rússia não tem uma culinária tradicional: antes do chamado poder soviético, os servos da gleba morriam de fome e os aristocratas e os ricos contratavam cozinheiros franceses. A camada remediada das cidades, a burguesia, imitava-os e ia comendo conforme as modas. E depois havia também a culinária judia, que todos adaptaram.
Ah, que saudades tenho de um borsch...
O autor do blogue faria melhor se contivesse as suas críticas ingratas. Foi para lá, fugindo ao destino de meia-tigela que cá o esperava, foi alojado, recebeu uma bolsa de estudos que era "só" o quádruplo da que recebiam os estudantes do país: 80 rublos os estrangeiros, 20 os da União. Dava para comer, dentro e fora das stalovaias. E depois de terminar o curso ficou por lá, deve ter sido mesmo por a comida ser tão má...
Resta acrescentar que a Rússia não tem uma culinária tradicional: antes do chamado poder soviético, os servos da gleba morriam de fome e os aristocratas e os ricos contratavam cozinheiros franceses. A camada remediada das cidades, a burguesia, imitava-os e ia comendo conforme as modas. E depois havia também a culinária judia, que todos adaptaram.
Ah, que saudades tenho de um borsch...
<p>Olá, eu sou a... Floripes3 que já foi 2. :mrgreen:</p>
<p>''Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado'' - Elie Wiesel</p>
<p> "Nas costas dos outros vemos espelhadas as nossas." - Dito popular</p>
<p>''Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado'' - Elie Wiesel</p>
<p> "Nas costas dos outros vemos espelhadas as nossas." - Dito popular</p>
mmmhhhh borsch.... e as salsichas eram mesmo muito boas, os meus pais ainda estao para encontrar aqui em portugal, umas salsichas possiveis de comer (as do intermache comem-se bem )Floripes3 Escreveu:Essa chamada mortadela, que era bem diferente da mortadela que cá consumimos e que é de estilo italiano, era muito boa, sim. Havia tanta fartura dela que cheguei a aborrecê-la. E as salsichas? Aquelas que se descascavam do celofane que as envolvia e que eu via as mães, paradas a um canto, a dar aos filhos pequenos que as tinham acompanhado às compras. Porque fazer compras naquela cidade gigantesca era mesmo uma tarefa e tanto, cansativa...
O autor do blogue faria melhor se contivesse as suas críticas ingratas. Foi para lá, fugindo ao destino de meia-tigela que cá o esperava, foi alojado, recebeu uma bolsa de estudos que era "só" o quádruplo da que recebiam os estudantes do país: 80 rublos os estrangeiros, 20 os da União. Dava para comer, dentro e fora das stalovaias. E depois de terminar o curso ficou por lá, deve ter sido mesmo por a comida ser tão má...
Resta acrescentar que a Rússia não tem uma culinária tradicional: antes do chamado poder soviético, os servos da gleba morriam de fome e os aristocratas e os ricos contratavam cozinheiros franceses. A camada remediada das cidades, a burguesia, imitava-os e ia comendo conforme as modas. E depois havia também a culinária judia, que todos adaptaram.
Ah, que saudades tenho de um borsch...
Nao sei em que tipo de stalovaia é que o autor do blog comia, mas a stalovaia da escola primaria onde eu andei tinha a melhor comida de sempre!!! No entanto nao posso dizer o mesmo sobre a minha escola actual, almondegas de "carne de gato" (como nós costumamos chamar) e massa/arroz a ocupar mais de meio prato...alimentaçao equilibrada sem duvida e muito boa! Os meus colegas costumam comer no bufete (sanduiches, lanches, chocolates) ou fora, porque as comidas da cantina nao presta...
A russia nao é perfeita, mas a europa tambem nao é um mar de rosas, e a alimentaçao nas cantinas de escolas, universidades, centros, etc. varia de uma para a outra, algumas sao más, outras sao boas, mas isso acontece em todo o lado pelo mundo fora.
“Reality is merely an illusion, albeit a very persistent one.”
― Albert Einstein
― Albert Einstein
muito obrigada pela partilha, ás vezes nada como uma experiência de vida para perceber a realidade das coisasFloripes3 Escreveu:O que o opinoso, ingrato e má língua do Milhazes devia contar é que lá na satalovaia da Faculdade em que tirou o seu cursozeco de História aparecia caviar, imagine-se! Eu detesto caviar, embora goste de ovas de peixe, mas os estudantinhos que se penduravam na minha casa de Moscovo regalavam-se.
O peixe era mau? Não sei como, quando o comprava e cozinhava ficava com a casa a cheirar a mar. De facto, as diebuskas que nos atendiam nas lojas não tinham qualquer técnica a separar os blocos de peixe congelado, chegavam ali com a machadinha e vai disto, cortavam a direito e saía o que saía. Apareciam com frequência lulas, sim, e outros peixes que desconhecemos de todo por cá. Mas as maiores sardinhas que alguma vez comprei, foi lá. E que boas eram! Pescadas por barcos soviéticos no Mar do Norte.
Os pacotes triangulares do leite furavam os sacos e arranhavam-nas as pernas? Que drama alimentar, de facto! Estava-se no princípio das embalagens Tetrapack, cá também eram assim dois ou três anos antes. Os produtos lácteos eram em grande número e de grande qualidade, como foi falado entre mim e a Teffie, no primeiro tópico do kefir.
Nunca encontrou bananas à venda? Eu encontrei, algumas vezes, vindas de Cuba. Os pilménhis eram maus e tinham de ser separados à martelada? Pudera, estavam congelados e colados pelo gelo. Bastava metê-los em água a ferver que eles logo descolavam.
Nas lojas do Estado não havia hortaliças nem legumes frescos durante o Inverno, de facto. Mas se fosse ao Rinok, o mercado em que os camponeses vendiam os produtos das suas hortas privadas, de certeza que arranjaria alguma coisa. Também encontraria carne, aves e fruta. E peixe de rio.
Os frangos tinham realmente mau aspecto, pois não lhes retiravam as patas e a cabeça e muitas vezes até vinham com as tripas. E todos se precipitavam a comprar os frangos importados da Bélgica, de França e da Alemanha. Os piores eram os da Bélgica, autênticos pedaços de algo artificial, sem sabor e mole em formato de frango. Mas a partir do dia em que comprei um frango "soviético" numa barraquinha junto ao metro, nunca mais quis outros. Frangos a sério, senhores, tenros, saborosos, mais saborosos do que os melhores frangos do campo dos nossos belos e bem abastecidos supermercados maravilhosamente capitalistas.
Claro que aquele país tinha sérios problemas de abastecimento, um sistema que propiciava a corrupção. Claro que que as cidades estavam classificadas como de primeira e não de primeira, sistema baseado e originado pelas mazelas da guerra que depois se perpetuou por desmazelo e deixa-andar. Moscovo, e outras grandes cidades em que se concentravam as indústrias mais importantes, era uma cidade com primazia neste aspecto. Beneficiada, em suma. Mas trata-se de uma cidade no meio de um país, sem mar, e que está sete meses por ano debaixo de neve e gelo. Uma cidade que tem (tinha naquela época) de população fixa mais gente do que Portugal inteiro e recebia um milhão de visitantes internos por dia.
Enfim, agora é fácil falar e ficar à espera que ninguém se lembre já do que lá viveu. E para que fique esclarecido: não, nunca tive acesso às lojas das elites, fiz exactamente a mesma vida que qualquer comum cidadão, estrangeiro ou não.
Sobre a qualidade da comida, não me posso pronunciar, mas também tenho que agradecer a partilha, gostei muito de ler estes bocados de vida.Charlie3 Escreveu:muito obrigada pela partilha, ás vezes nada como uma experiência de vida para perceber a realidade das coisasFloripes3 Escreveu:O que o opinoso, ingrato e má língua do Milhazes devia contar é que lá na satalovaia da Faculdade em que tirou o seu cursozeco de História aparecia caviar, imagine-se! Eu detesto caviar, embora goste de ovas de peixe, mas os estudantinhos que se penduravam na minha casa de Moscovo regalavam-se.
O peixe era mau? Não sei como, quando o comprava e cozinhava ficava com a casa a cheirar a mar. De facto, as diebuskas que nos atendiam nas lojas não tinham qualquer técnica a separar os blocos de peixe congelado, chegavam ali com a machadinha e vai disto, cortavam a direito e saía o que saía. Apareciam com frequência lulas, sim, e outros peixes que desconhecemos de todo por cá. Mas as maiores sardinhas que alguma vez comprei, foi lá. E que boas eram! Pescadas por barcos soviéticos no Mar do Norte.
Os pacotes triangulares do leite furavam os sacos e arranhavam-nas as pernas? Que drama alimentar, de facto! Estava-se no princípio das embalagens Tetrapack, cá também eram assim dois ou três anos antes. Os produtos lácteos eram em grande número e de grande qualidade, como foi falado entre mim e a Teffie, no primeiro tópico do kefir.
Nunca encontrou bananas à venda? Eu encontrei, algumas vezes, vindas de Cuba. Os pilménhis eram maus e tinham de ser separados à martelada? Pudera, estavam congelados e colados pelo gelo. Bastava metê-los em água a ferver que eles logo descolavam.
Nas lojas do Estado não havia hortaliças nem legumes frescos durante o Inverno, de facto. Mas se fosse ao Rinok, o mercado em que os camponeses vendiam os produtos das suas hortas privadas, de certeza que arranjaria alguma coisa. Também encontraria carne, aves e fruta. E peixe de rio.
Os frangos tinham realmente mau aspecto, pois não lhes retiravam as patas e a cabeça e muitas vezes até vinham com as tripas. E todos se precipitavam a comprar os frangos importados da Bélgica, de França e da Alemanha. Os piores eram os da Bélgica, autênticos pedaços de algo artificial, sem sabor e mole em formato de frango. Mas a partir do dia em que comprei um frango "soviético" numa barraquinha junto ao metro, nunca mais quis outros. Frangos a sério, senhores, tenros, saborosos, mais saborosos do que os melhores frangos do campo dos nossos belos e bem abastecidos supermercados maravilhosamente capitalistas.
Claro que aquele país tinha sérios problemas de abastecimento, um sistema que propiciava a corrupção. Claro que que as cidades estavam classificadas como de primeira e não de primeira, sistema baseado e originado pelas mazelas da guerra que depois se perpetuou por desmazelo e deixa-andar. Moscovo, e outras grandes cidades em que se concentravam as indústrias mais importantes, era uma cidade com primazia neste aspecto. Beneficiada, em suma. Mas trata-se de uma cidade no meio de um país, sem mar, e que está sete meses por ano debaixo de neve e gelo. Uma cidade que tem (tinha naquela época) de população fixa mais gente do que Portugal inteiro e recebia um milhão de visitantes internos por dia.
Enfim, agora é fácil falar e ficar à espera que ninguém se lembre já do que lá viveu. E para que fique esclarecido: não, nunca tive acesso às lojas das elites, fiz exactamente a mesma vida que qualquer comum cidadão, estrangeiro ou não.