Ganhar a confiança de um cão abandonado (UPDATE)

[srYuki]

Olá.
Tenho uma amiga que alimenta (e trata, na medida do possível) um perdigueiro que apareceu perto da casa dela. Conseguiu convencer o marido a ficar com ele... não conseguiu convencer foi o cão!!!!

Já o alimenta todos os dias, mas não consegue fazer uma aproximação ao cão. Já tentou oferecer comidas mais apetitosas, já tentou andar de costas, enfim, o cão não a deixa aproximar-se para menos de 2 metros. (já esteve pior!)

Ele já lá vai todos os dias, dorme se quiser (tem 1 dos portões sempre aberto), e está ao portão principal quando chegamos (e abala logo de seguida).

Ela queria ficar com ele, mas ele "panica" quando vê os portões fechados, apesar de ter bastante espaço exterior. Para lhe colocar uma pipeta para as carraças, teve que o anestesiar, com algo que a veterinária lhe deu, misturado na comida. (e foi um filme que durou várias horas!!!)

Ele basicamente tem muito medo. Ela acha que foi muito maltratado (pancada mesmo!) e que o abandonaram por não servir para caça.

Precisava que me dessem uma boa indicação de como fazer a abordagem e de como ganhar a confiança deste pobre animal.
Obrigada.

[Floripes3]

Com muita paciência, muitas palavrinhas doces, muitos petiscos e muito, muito tempo. Algum dia ele se renderá, mesmo que nunca venha a dar muita confiança aos humanos.

Veja-se o caso do Apolo: foi ele quem escolheu a casa e os donos.

[srYuki]

Com muita paciência, muitas palavrinhas doces, muitos petiscos e muito, muito tempo. Algum dia ele se renderá, mesmo que nunca venha a dar muita confiança aos humanos.

Veja-se o caso do Apolo: foi ele quem escolheu a casa e os donos.

Significa que é muito normal demorar muuuuuito muito tempo, não é?
Não tenho a certeza mas acho que faz agora ± 9/10 meses... e ela ainda não lhe consegue fazer uma festinha...

[Petruska1]

Porquinho da Índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

- O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

Manuel Bandeira (Poeta Brasileiro)

[kittten]

[saraestrelo]

É uma situação complicada. O cão está onde? No quintal?

[srYuki]

É uma situação complicada. O cão está onde? No quintal?

Sim. Quer dizer, mais ou menos.
É uma moradia. Tem 1 portão lateral, para um terreno contíguo e tem a comidinha do lado de fora, junto ao portão, sendo que esse terreno não está vedado e o portão para entrar para o jardim da casa, está aberto quando tem gente em casa.

Das primeiras vezes que veio comer, ela observou-o e demorou horas, a entrar (dessa vez para o lado de dentro desse tal portão). E esticava-se todo e tirava o granulado mesmo com a pontinha e recuava logo.

Eu já lhe disse que ela tem que trazer as taças para dentro, mas ela diz que ele não come. Acho eu que é das tais situações em que se calhar não come 1 dia ou 2 (ou mesmo mais) e depois acabaria por entrar. No entanto ela tem pena que ele não venha comer e eu também não tenho a certeza se será o mais indicado, assumindo que sofreu maus tratos...

[saraestrelo]

Pois isso é um caso extremo de medo das pessoas, claramente que deve ter sofrido maus tratos mas acho que não é impossível de resolver. Teriam que acabar com as taças e dar a comida à mão, aliás, primeiro tem que se atirar a comida para longe e ir diminuindo a distância à medida que o cão se fosse aproximando (mas não é diminuir a distância no próprio dia, é atirar a comida para longe durante 2/3 dias, depois tentar perceber se já dá para diminuir a distância ou não e assim sucessivamente). Isso exige treino contínuo que não sei se as pessoas estão dispostas a fazer (digo eu, não sei). E com muita paciência ir conquistando o cão, se querem resolver as coisas de um dia para o outro não vale a pena. Nem vale a pena tentar dar festinhas porque primeiro é preciso conquistar com comida (a única necessidade dele neste momento, porque claramente não quer festinhas de ninguém, ainda).

[srYuki]

Pois isso é um caso extremo de medo das pessoas, claramente que deve ter sofrido maus tratos mas acho que não é impossível de resolver. Teriam que acabar com as taças e dar a comida à mão, aliás, primeiro tem que se atirar a comida para longe e ir diminuindo a distância à medida que o cão se fosse aproximando (mas não é diminuir a distância no próprio dia, é atirar a comida para longe durante 2/3 dias, depois tentar perceber se já dá para diminuir a distância ou não e assim sucessivamente). Isso exige treino contínuo que não sei se as pessoas estão dispostas a fazer (digo eu, não sei). E com muita paciência ir conquistando o cão, se querem resolver as coisas de um dia para o outro não vale a pena. Nem vale a pena tentar dar festinhas porque primeiro é preciso conquistar com comida (a única necessidade dele neste momento, porque claramente não quer festinhas de ninguém, ainda).

E faz-se a transição assim?
De dar na gamela, para atirar?
Eu estive lá ontem, atirei-lhe uma uva e ele fugiu, desviando-se, sem qualquer interesse em ver se era comida ou não...

Ela teve bebé agora. Talvez não esteja muito disponível este mês, mas depois tem mais 4 ou 5 meses em que estará muuuito tempo por casa...

E não está a tentar resolver de um dia para o outro, já que já lá vão uns meses. Mas é complicado, porque há situações como a das pipetas, fora as vacinas que deveria levar... e de momento é de todo impossível.

Ele podia ter alí uma boa família, com mimos e diversão...

[Petruska1]

Penso que neste momento, o amor que lhe pode dar é mesmo alimentá-lo e se possível deixar que ele entre, quando sentir confiança para o fazer.
Penso ainda, que seria bom colocar a gamela do lado de dentro do portão, de forma a que ele perceba que desse lado do portão tem coisas boas.

Quando coloquei o poema de Manuel Bandeira, foi para dizer, que o amassem e lhe dessem espaço e tempo.

[Floripes3]

Não me parece grande coisa, isso de atirar comida. Num animal tão medroso, só vai dar para o aterrorizar ainda mais, como aconteceu no caso do bago de uva. E a ser feito, teria de o ser logo no início. Neste momento, a rotina já está instalada e ele até é capaz de julgar que o estão a expulsar, ao atirarem-lhe coisas.

Não tenho receita, infelizmente. Em todos os casos que conheci de perto, excepto um, os cães foram atraídos à custa de comida e de vários subterfúgios.

Talvez um especialista em comportamento possa dar algumas dicas úteis.

[MiMoo]

Pois isso é um caso extremo de medo das pessoas, claramente que deve ter sofrido maus tratos mas acho que não é impossível de resolver. Teriam que acabar com as taças e dar a comida à mão, aliás, primeiro tem que se atirar a comida para longe e ir diminuindo a distância à medida que o cão se fosse aproximando (mas não é diminuir a distância no próprio dia, é atirar a comida para longe durante 2/3 dias, depois tentar perceber se já dá para diminuir a distância ou não e assim sucessivamente). Isso exige treino contínuo que não sei se as pessoas estão dispostas a fazer (digo eu, não sei). E com muita paciência ir conquistando o cão, se querem resolver as coisas de um dia para o outro não vale a pena. Nem vale a pena tentar dar festinhas porque primeiro é preciso conquistar com comida (a única necessidade dele neste momento, porque claramente não quer festinhas de ninguém, ainda).

Subscrevo isto e ainda acrescento que deve ser feito com comida apetitosa (neste caso, provavelmente qualquer comida é apetitosa porque pela descrição o cão parece faminto ) e outra coisa que ajuda é colocar-se ao nível do cão (cócoras ou joelhos)... com muita paciência e sem olhar muito directamente para ele (eles podem considerar uma ameaça e não se aproximarem). Depois de conseguirem que o cão se chegue a eles, para o convencer a aceitar festas é ter a comida numa mão e ter outra mão parada (de forma a que o cão para chegar à comida tenha que tocar na outra que não tem comida)... inicialmente esta mão não mexe! (muito importante para ganhar confiança!) Só depois de muitas repetições e o cão estar à vontade com a mão quieta começar por o cão ter que se deixar tocar antes de receber a recompensa... e depois mexer um pouco os dedos encostados ao cão. (espero que dê para entender esta parte).

Ganhar a confiança de um cão que sofreu de maus tratos é difícil. Exige muita paciência... mas com paciência e dedicação vão conseguir

Quanto a não entrar em casa (jardim) isso é outro passo mais à frente... depois de ganhar a confiança dele e ele se deixar tocar, começar por fazer o 1º exercício, mas em vez dele se ter que aproximar da pessoa, tem que se aproximar da entrada do jardim e depois entrar no jardim (a porta fechada será mesmo mesmo o último passo... quando ele se sentir confortável a entrar e sair do jardim).

Ele vai lá chegar Boa sorte com o canito e vá dando notícias!

[saraestrelo]

A meu ver não há outra opção. Se se tentar dar à mão o cão não se irá aproximar, se se tentar dar a comida na taça também não vai ganhar confiança de uma pessoa por causa disso porque ele nem deve ver quem lhe mete comida. Portanto para mim é a melhor solução, sempre me aproximei de cães na rua assim, a atirar comida aos poucos. Mas isto é a minha opinião, agora está nas mãos do dono tentar a opção que lhe parece melhor, até porque cada cão é um cão.

[Floripes3]

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Penso ainda, que seria bom colocar a gamela do lado de dentro do portão, de forma a que ele perceba que desse lado do portão tem coisas boas.

...

Concordo. A sua amiga que faça isso gradualmente, aproximando a gamela todos os dias uns centímetros, até estar totalmente dentro do jardim. Também pode arranjar-lhe uma caixa com cobertores para ele se deitar. E ao lado dessa caixa ponha-lhe o recipiente da água. Mais tarde deixe a comida ao lado da água. E sempre o portão aberto, para ele perceber que pode entrar e sair.

Outra coisa que deve fazer é ir falando com ele, em frases curtas e sem insistir muito, sempre baixo e com muita calma. Isto serve para o ir tranquilizando e lhe dar a perceber que dali não lhe vem nenhum mal.

[srYuki]

MiMoo,
entendi a explicação muito bem e vou transmitir-lhe.

Mas temos que encontrar aqui uma solução entre o dar-lhe a comida á mão e a gamela passar para dentro. Esta última parece-me mais viável, simplesmente porque não estou a ver que ela o consiga convencer a ir comer directamente á mão, uma vez que lançar-lhe a comida, não deverá resultar.

Outra coisa que me ocorreu enquanto vos lia é ela verbalizar a hora da refeição, para que eventualmente alguma vez se possa dar-lhe á mão, com por exemplo um "BORIS, jantar!". Ele nem sempre está lá, mas eu acredito que ande por perto e que oiça. E sim, chama-se BORIS!

Floripes,
ele já tem uma taça de água e uma cama improvisada do lado de fora. Já teve uma do lado de dentro, que foi criada no dia da tal anestesia que durou mto tempo para fazer efeito e para passar, mas além desse dia, nunca mais quis usar.
Mas concordo, ir aproximando centimetros a centimetros, progressivamente. Desde que ela faça isso, para já, não exige muito tempo dela e pode ser que se veja alguma evolução.
Vou transmitir-lhe. Mas não deixem de dar as vossas opiniões.