sábado set 15, 2012 11:49 am
Partiste de mansinho durante a noite. E eu fiquei revoltada, zangada, amargurada. Triste porque o meu gato, tão” miadeiro”, não me chamou. Não me deu hipótese de um último beijo, de um último abraço de um último e tão sentido “Amo-te”, de um implorar “Não me deixes!”. Porque foi amor sim, porque contigo aprendi que amor à primeira vista não acontece somente entre seres humanos. Porque voltaria a fazer tudo de novo. Porque tu és um anjo de luz, onde quer que te encontres. Porque foste uma candeia acesa na minha vida, porque me ensinaste que a nobreza de carácter, a grandeza de uma alma não necessita de duas pernas. Porque me ensinaste o verdadeiro significado do perdão. Sabes mais sobre isso do que muitos “cristãos” que conheço. Porque me ensinaste que quando a vida nos dá limões, nós fazemos uma limonada e damos uma valente festa. Porque na tua serenidade, na ausência de palavras e apenas com o teu olhar, transmitias mais do que verdadeiros discursos pela maioria dos seres humanos que se cruzaram e cruzam no meu caminho. Porque um ser tão especial e único não é deste mundo mesmo e a sua luz foi, com certeza, necessária noutro recanto. Mas isso não impediu a minha vida de ficar mais escura e triste sem ti.
Mas percebi, percebi que um ser como tu tinha de partir de forma digna e silenciosa. Que Alguém percebeu que com tanto sofrimento na vida merecias uma transição pacífica. Mas levaste contigo e sem retorno parte do meu coração e eu sinto tanto, tanto a falta do teu carinho, da tua dedicação, da tua luz… Um ser como tu, capaz de tocar tantos corações à distância só podia partir assim. E eu, que tinha tanto medo adoecesses e um dia, longínquo, partisses de forma dolorosa, agora tenho medo de adormecer e acordar sem outra das minhas luzes. E eu queria tanto que não tivesses partido sozinho… mas até nisso sei que foste grande, sei que nos quiseste poupar da dor. Porque ainda ontem pensei que se há gato que daria a vida pelos donos, esse gato és tu… Nenhum animal amou os meus filhos com a mesma dedicação. E por isso te estou grata. Porque os adoptaste como se fossem teus. Por que me adoptaste como se fosse tua. Eu não fui tua dona, fomos donos um do outro. Eternamente seremos…
Recordo-me de todas as vezes em que as nossas lágrimas se misturaram e até desses momentos tenho saudades, porque estavas aqui, porque estávamos juntos. Porque foi único.
Foste e serás sempre único na minha vida. Outras luzes se apagaram mas nenhuma me deixou assim, tão sozinha, tão infeliz que não tenho palavras ou lágrimas que consigam, nem de perto, descrever.
Nem o consolo de teres ido para lugar melhor tenho. Porque tinhas tudo aqui connosco.
Vêm-me à memória todos os “amo-te” que não disse, todas as alturas em que estava embrenhada nos meus problemas e não te dei a atenção que devia e dói muito. Mas sei que ontem te penteei, te disse o amo-te devido, te mimei, te dei a tua latita de atum que pediste e que, quando adormeci, tu estavas a brincar com o Vicente. Sei que, por teres partido na tua posição preferida e silenciosamente, que foi breve… Mas dói…
Continuo no meu egoísmo a pensar que não é justo. Mas talvez seja, talvez tenhas cumprido tudo que te competia cumprir e ensinado tudo o que tinhas para ensinar. Talvez te esperem outros desafios. Não sei… Sei que daria a minha vida por ti, tal como dava por um dos meus filhos. E se me fosse dada a oportunidade de trocar a minha vida pela tua, sei que não hesitava. A tua luz apagou-se na minha vida mas que continue a brilhar onde quer que estejas.
Não acreditava em anjos mas depois conheci-te. E é isso que tu és: um anjo de luz…
O teu corpo está num sítio especial e o teu espírito é agora livre…
E não é um adeus, é um “até já meu querido, querido amor”.
Brilha muito, muito.
<p>"Os cães podem vir quando são chamados; os gatos anotam a mensagem e voltam a ligar mais tarde."</p>
<p> Mary Bly </p>