quarta out 17, 2012 6:59 pm
Hoje, mais serena e com mais calma, tenho estado a reflectir sobre este assunto.
No fundo, o que eu acho, é isto: nós, aqui na Arca, acabamos por ser uma espécie de família alargada. Vamos acabando por interagir e por conhecer-nos; há pessoas com quem simpatizamos mais do que com outras; vamos acompanhando as alegrias, as aflições, a dor uns dos outros. Vamos conhecendo alguns foristas pessoalmente, construindo amizades. E tudo isto em torno dos animais, mas não só. Regozijamo-nos quando um animal é adoptado ou melhora de uma doença. Ficamos preocupadas quando sabemos que há uma situação de risco, por abandono ou por doença. Sabemos, porque muitas de nós já passámos por isso, aquilo por que passa um dono quando há uma morte ou um desaparecimento, ficamos tristes pelo animal, pelo dono, voltamos a reviver um pouco os nossos desgostos também.
Quando as coisas correm bem, é natural que não haja problemas; quando correm mal, já se sabe que é cada cabeça, sua sentença, e desata tudo a ralhar. Perde-se muitas vezes a razão, quer porque às vezes já não é a razão que está a comandar a coisa, quer porque se dizem coisas que, com a cabeça fria, já não se diriam e talvez nem se sentiriam.
Quando as coisas correm mal, também é muito mais fácil cometermos erros, quer pelo que fazemos, quer pelo que deixamos de fazer -- e não estou a pôr-me de fora. Além disso, isto de lidar com os animais tem que se lhe diga, é um bocado como com os filhos, sobretudo nos tempos que correm: não vêm com livro de instruções e não sabemos bem o que vai sair dali.
Acredito que vamos fazendo o melhor que podemos.
Voltando à comparação com uma família, acredito que também as várias mágoas que aqui foram sendo expostas possam ser sanadas, depois desta tempestade, com conversas francas em privado, pelos meios de que se disponha.
Como já disse antes, interessa-me aqui sobretudo o que se passa com um animal, mas não esqueço o lado humano das questões.
Estando o problema do Xico em vias de resolução (rezo a todos os santinhos que dê certo), restam as questões humanas que aqui se levantaram, algumas até nem relacionadas com o Xico, mas que acabaram por se entrecruzar.
E vou procurar resolver as minhas. Pensei deixar para depois, mas talvez seja melhor já. Vou falar dos aspectos positivos; os negativos, deixo para falar pessoalmente.
Estou grata à mãe da Corine por se ter disposto a acolher o Xico. Não era o gato que ela esperava, é certo (o comportamento que ele teve, ninguém o antecipava). Se tivesse sido disso que ele precisasse, tenho a certeza de que teria sido uma excelente enfermeira. Se mais alguns “ses” se tivessem verificado, estou certa de que lhe teria dado um bom lar. Acho que foi ao limite das suas capacidades. Foi pena, muita pena, aquilo da consulta. Tive oportunidade de lhe dizer na hora o quanto isso poderia ser importante, já disse também à Corine que acho que foi um ponto fulcral nisto tudo.
Estou grata à Corine por se ter interessado pelo Xico, pelo acompanhamento que foi dando à situação, tanto junto da mãe, como, por exemplo, quando se pensou que o Xico tinha ficado muito mal (sem respirar, na verdade) naquela luta com o outro gato. Não acredito, sinceramente, que o tenha feito para receber palmadinhas nas costas, mas com genuína vontade de ajudar um animal numa situação muito complicada.
Acho que ambas foram sofrendo bastante ao longo deste processo conturbado e merecem estas palavras da minha parte, e não ficava bem com a minha consciência se não as dissesse. Acredito que o Xico tenha sido muito bem tratado. Se não se lidou da melhor forma com ele, se se alimentaram certas expectativas que depois não corresponderam à realidade, certamente não foi por mal. Eu acho agora que também errei ao não dizer à Corine que sim, que levasse o Xico para casa dela. Tive medo da mudança, que corresse mal, porque o Xico podia ressentir-se mais, porque a Corine tem cães, etc., etc., tive de decidir em cima da hora e perante acontecimentos inesperados. Adivinhasse eu o futuro, e obviamente teria dito que sim. Agora, contra todas as expectativas, vê-se que o Xico não reagiu mal a nada, pelo menos até agora e que eu tenha conhecimento.
De tudo isto podemos retirar várias conclusões. Uma é que nem tudo deve ser dito com todos os pormenores em público, que é como quem diz na Arca. Outra é que ninguém é perfeito nem age na perfeição, uns têm umas capacidades, outros têm outras. E certamente há outras conclusões. Mas não há necessidade de ninguém ficar inimigo nem de sair da Arca nem coisa nenhuma. Aqui, apesar das “borrascas”, volta e meia, pode fazer-se muito, em conjunto, pelo bem dos animais, dos nossos e, sobretudo, daqueles que não são de ninguém e cujo futuro queremos mudar. O Xico encontrou o seu “cantinho com janela”, já dissemos de nossa justiça, tivemos a nossa “discussão de família”, os ares estão mais limpos: vamos seguir em frente e, se possível, apertarmos as mãos.
«Ninguém cometeu maior erro do que aquele que nada fez, só porque podia fazer muito pouco.» Edmund Burke