Pois pelos últimos dias tenho andado deveras absorvido, Natais e passagens de ano à mistura, que na verdade impossibilitaram de comparecer mais cedo por estes lados. Foram dias com algumas complicações e muita risota pelo meio, pois prosperamente todos os problemas foram atempadamente resolutos, e sentado num café deveras repleto de almas barulhentas e comilonas em Ermesinde vou-vos narrar as façanhas da Suécas pelas terras de nuestros hermanos.
Ora a abalada estava prevista para as 18:00 mas acabámos por sair mais tarde do que o premeditado por razões laborais da Alexxis. A jornada tinha como destino as vila de Soto de Oniz nas Astúrias e compreendia uma viagem automóvel de 600 quilómetros que perduraria por 5:45 minutos. Era uma longa estirada por terras estrangeiras e sempre com temperaturas infra 0 graus. Foi algo que correu bem se bem que estou absolutamente crente que desaproveitei muita beleza de paisagem por ter feito tudo durante a treva da noite.
-Tanto “Blá blá blá” para dizer que fizeste a viagem às escuras… Jesus!
-Se eu fosse assim durante o meu dia-a-dia, com tanto palavreado caro, assim que acabava de dizer “Bom dia!” Já eram 8 da noite…
-Mas enfim, há gente assim… São gostos! E tanta coisa para ver um tal de Pránéb… Se fosse para mim não faziam o mesmo, aposto!

Ora o mapa indicava a seguinte rota:
E acabámos por chegar lá ligeiramente mais tarde do que era conjecturável, o que não era de todo problemático pois a recepção estava aberta 24 horas e tinha dois dias antes notificado por via eletrónica que iria chegar por volta das 2 da noite. No entanto os azares começaram cedo a brotar. O ar condicionado deixava de funcionar assim que encetávamos a ter temperaturas inferiores a 0, o que causava condensação dentro do veículo e a forçadamente empregar a sofagem para conseguir ver algo somente com o vidro da frente. À chegada a Cangas de Oníz fui interpelado por uma brigada de trânsito que prontamente cravou com um vero arreio eletrónico na minha barbuda boca para certificarem que não tinha andado a beber. Empecei imediatamente a verbalizar adjectivos menos bons da minha vida e o pior ainda não estava para chegar pois ao chegar ao hotel, um pacato sitio de duas estrelas onde admitiam canídeos, dei de caras com uma porta cerrada! No entanto, e nunca receando a minha competência de solver problemas, absentei-me da viatura e fui bater à porta. Como ninguém compareceu peguei no meu telemóvel e fiz uma chamada para o hotel tendo exactamente o mesmo resultado que a anterior experiência. Nicles! Só tinha uma possível solução, pois a Alexxis foi instantaneamente e consecutivamente contra dormir no carro, que passava por telefonar para a empresa que nos tinha feito a reserva. Ora estando eu com um telefone Português, em Espanha e a fazer uma chamada para Inglaterra e ser atendido por uma Brasileira, podem desde já indagar sobre os custos de uma chamada que perdurou uns quinze minutos…
Da bookings telefonaram também para o hotel e para o dono do hotel sem que quer um quer outro replicassem. Telefonaram-nos de volta, e isto já passava das duas da matina, exprimindo as mais sinceras desculpas pelo sucedido mas não conseguiam fazer já nada por nós. Indiquei então que nos encontrassem uma solução para o meu problema e lá nos quedámos nós com mais dez minutos de chamadas a pagar. A Brasileira eventualmente lá nos comunicou que o único hotel que nos podia receber naquela noite, e aqui reportei-lhe logo que não seria só naquela noite mas sim durante toda a estadia pois tinha perdido a confiança num hotel que dizia ter a recepção aberta e estava agora de portas fechadas, e que o mesmo hotel cognominava-se “Grand Hotel Pelayo” ficando mesmo em frente à imponente Basílica de Covadonga. Meramente pelo nome ”Grand Hotel” fiquei logo com a impressão que o meu cartão Visa não iria gostar desta atitude, e geodesicamente falando estar mesmo ao lado da Basilica também não ajudava à festa. Quando dei entrada, pois tanto a Sú como a Alexxis ficaram no carro para cogitarem nas cenas dos próximos capítulos, no Hotel fui recebido por um recepcionista muito bem disposto que prontamente pôs à disposição uma cama que o próprio hotel tinha disponível para a Sú, caso nós não possuíssemos uma. Esse facto ainda tornou o meu sorriso mais amarelado ao pensar na conta final já que até o próprio hotel tinha camas próprias para canídeos. Quando indaguei sobre a diária posso jurar que o meu coração desacertou uma ou duas batidas. Quando a esse valor ainda fui advertido que acrescia de IVA todo o meu sangue ficou gélido e por aí remanesceu uns minutos pois estava ciente que não tinha outra alternativa do que aquela. E foi assim que me apercebi, pelas três e meia da manhã e com os olhos ruborizados de fatiga, que a Sú durante o espaço de um ano passou da terra batido do Cemitério de Mouriz para uma carpete aveludada de um Palácio Espanhol, transfigurado em hotel, do Século XIX.
-Nada mau para uma rafeirinha como eu!
Não obstante todos estes infortúnios, pois ainda por cima não havia camas de casal e tivemos que dormir em camas separadas, tínhamos uma lâmpada na casa-de-banho que teimosamente nunca se desligou durante a noite. Pela manhã espertámo-nos cedo pois, pois para infortúnio meu, a Sú durante a viagem nada fez e estaria por certo com vontade de fazer a sua vidinha. A mim, sempre com muito rigor financeiro, em nada me daria jeito que ela o fizesse dentro de tão faustoso quarto tendo eu que depois remunerar o hotel pelos danos. Cedo pela manhã condescendi que a zona era deveras deslumbrante…
-Palavras caras para dizeres que dormi que nem uma porca!
E os arrabaldes do Hotel até tinham um sitio bastante oportuno para as necessidades dos nossos meninos, aparentemente guardados por freiras que nunca fizeram mau olhado, e que era mais um item a adicionar à soma das particularidades tentando justificar o altaneiro valor pago pela estadia.
Em frente do Hotel quedava o parque do Príncipe das Astúrias, que só usufruímos no último dia desta nossa mini-férias no estrangeiro, e logo a seguir situa-se a Basílica. O tempo meio cinza quadrava na perfeição com o meu pensamento socioeconómico de toda aquela situação.
Todo o complexo turístico situa-se no vale de Covadonga, onde existe o sepulcro do rei Pelayo e onde se travu uma batalha onde os cristãos derrotaram e impediram o avanço dos Mouros. Com tanto infortúnio meu não fico em nada pasmado se viessem a desterrar ossadas mesmo por baixo do nosso carro, ou ainda mesmo sob o leito do quarto onde repousávamos. Era tudo do mais azarado possível, pois notem também que para ascendermos ao segundo andar eramos constrangidos a usar o elevador, facto esse que a Sú aborria.
-Tanta coisa para dizer que odeio elevadores…. E Patos!
-O mais giro disto é que temos música clássica a ser tocada nos corredores!
Depois de um não luxuriante pequeno-almoço, pois aqui era a única gaffe do nosso hotel, lá fomos fotografar a imponentemente majestosa contrucção religiosa que até chegava a fazer-nos uma incomodativa sombra.

E para não sair furada, até o próprio “Turismo” fazia das suas pois encontrava-se fechado quedando-nos nós com apenas o GPS para nos aludir aos pontos de mor interesse local. Tudo não corria nem pela certa nem às mil maravilhas.
A partida para a primeira visita tem muito com que narrar mas vou ser o mais sucinto possível. Demos ingresso no veículo, pusemo-nos em marcha e uns quatro minutos mais tarde, apesar de ter sido noticiado em voz alta pela Alexxis por duas vezes no espaço de meio segundo, colidimos com o tejadilho do carro numa árvore que estava meio tombada na estrada. Pressuponho agora que não tenha sido o único a fazer pois era de todo impossível evitá-la, mas criou uns valentes riscos e houve um bocado em que deixou a descoberto a pintura original do mesmo. Para quem não é sapiente o veículo que agora é azul escuro era dantes vermelho vivo. Quem não se importava com nada e estava muito quietinha no seu lado era a Sú. Este acto, no entanto, veio a modificar-se com a primeira paragem no miradouro da Rainha para vislumbrarmos o ambiente em nosso redor.
-Posso jurar que o Praneb andou por aqui!

-Pránéb?!? Onde andas tu rapaz?!?
-Posso jurar que passou por aqui ainda não fez meia hora…
-Até a minha dona já lhe sente o cheiro!
-E vocês duas tontas, que falam estranho, viram o Práneb?
-E faz um griso do caraças!
-Suécas anda posar para a foto!
-Só… olha que me esganas!...quando vir… olha que não respiro… O Pránéb!
-Affffff… mal posso respirar! Ainda morro antes de conhecer o Práneb….
-PRÁNÉB! ANDA JÁ CÁ À MÃE! A ver se assim consigo algo…
-PRÁNÉB!!!! Andas por aqui rapaz?
-Onde raio te meteste tu?!?
-Aquele estúpido anda a fugir de mim, ai anda anda!
-PRÁNÉB! PRÁnéb! Pránéb! Pránéb…
-Raios!
-Vou mas é de volta para o carro! Já vi que ele não anda por aqui…

Ausentámo-nos logo de seguida a ter tirado esta foto e rumámos aos lagos na esperança de depararmos com neve. Não a chegámos a ver próxima de nós, pois encontrava-se a uns quilómetros de distância e outros tantos de altura, mas lá estava ela para nos regalar com boas fotos.
À chegada aos lagos, numa estrada em nada ampla, fomos presenteados com o nosso velho amigo sol e com um certo malévolo frio que já se fazia sentir. A Sú adorou caminhar solta, pois não havia cães em volta e muito menos carros, e não se fez rogada com corridas serpenteando obstáculos por ela imaginados. Fizemos uma caminhada colossal pelos dois lagos e intentámos alcançar a neve, ou projecto de, ao seguirmos pelo trilho de montanha. A certa altura a Alexxis vislumbra uma gruta bem longínqua de nós, seiscentos metros sensivelmente, e quase ao mesmo tempo uma nuvem ameaçadora que percorria o céu em busca de caminhantes incautos como nós. A nuvem cogitou então que nós seriamos alvos de primeira categoria e lançou-nos uma magistral chuva que gelou no ar e tombou sobre nós em forma de pedras de gelo. A correr e a apelar com veemência pela Sú, que até então ia à nossa frente, no sentido de nos abrigarmos na gruta invadimos um mini pântano que não nos foi factível descortinar quer pelo gelo quer pela velocidade enorme com que circulávamos. Cedo dei por mim com terra quase pelos joelhos enquanto que a Sú, hilariante com a nova brincadeira de derrapar pela lama, lançava-se sem intermitência pela substancia barrenta dentro. As minhas botas e calças acabaram por ser banhadas num riacho após a tempestade de gelo, à Sú foi-lhe dado uma imersão pela dona no lago onde a temperatura rondaria os +1 graus, tendo em vista sacar-lhe toda a lama que tinha em cima. O reingresso no hotel deu-se sem qualquer problema, já que a Sú tinha sido banhada, e ela repousou todo o resto de dia em cima de um sofá de veludo vermelho como uma autentica milady
-Aha! É agora que te apanho!
-Então Sú tens medo? É apenas uma grade de metal! Não sejas cobardóla!
-Phonix! Alí é que eu não meto as patas!
-Medricas!
-Pronto! O perigo já passou… agora vou já pegar no rasto do Pránéb…
-Anda por perto, o sacana…
-Olha que lago tão lindo Sú!
-Que se lixe o raio do lago! Quero é ver o Pránéb…
-Lagos e montanhas há muitos… Palhaços!
-Digo-vos eu, Sú Maria…
-A cadelinha mais inteligente do mundo, e se calhar também a mais inteligente de Portugal…
-Será que ele se meteu por detrás daquele montinho?!?
-Até fico com cara de parva só de pensar que se calhar nem o vou encontrar hoje….
-Mexe-me esse rabo, ó dona cabeluda, que ele anda a fazer pouco de mim e de ti!
-Esse ta Pránéb vai-mas mesmo pagar caras…
-Ó Sú? Tu já pensaste que esse Pránéb pode não ser bem o que esperas? Que pode ser algo de diferente e tenhas uma desilusão?
-Não! O Pránéb existe e tem quatro pernas, uma cabeça linda de Husky com olhões azuis, e cauda pequena tipo Cocker…
-Ou será que é cadela? Pránéb será “a” ou “o”? Olha agora estou confusa…
-Só sei que “aquilo” anda por aí…
-Anda cá Sú! tenho algo para te dizer…
-Vá senta-te aqui comigo que vamos lá falar desse Pránéb… é que não era bem isso que eu queria dizer… Está ainda algo quente por estas zonas por isso a néb não caiu aqui!
-ANÉB?!? Ó raios! Mas então não era um pilinhas?!? Agora é que me tramaste!

-Até ando desamparada…
-Mas isto não fica assim… Hei-de descubrir essa mesma Pránéb, ou só Néb como diz a dona, e rezo-lhe o responso! Onde é que já se viu fazer uma coisa destas?!?
-E aposto que a tipa anda a rir-se de mim… Palhaçona!
-Será que está nesta casota? Parece-me que não…
-Anda Sú, anda com a dona aproveitar o solzinho…
-Anda posar para umas fotos.
-Não quero, deixa-me em paz que estou amuada!
-Raios prá Pránéb… a fazer pouco de mim…
-Se lhe apanho as goelas… aí se a apanho…
-Até me seca a boca só de pensar no que posso fazer…
-Mas ela vai entir o que é ser gozada, ai vai vai!
-A ver se lhe apanho o rasto…
-Ora é por aqui mesmo…
- Passamos por estas pedrinhas… a ver no que dá.
-Olha que nuvem feia! Mas nem por isso vou desistir da caça….
-Sinto que estou perto, nem que seja perto da minha dona…. Hehehehehe
-Deixa-me cá esticar as patinhas numa corrida, para que caso ela apareça já tenho os músculos quentes…
-Yeahhhhhhh
-Pronto já chega!
-Agora vou de mansinho retomar a caçadela…
Mas ao longe a nuvem avança e atira-nos com gelo…
Eu acabei o meu dia a lavar as botas num riacho…
A Sú, toda borrada como podem ver, acabou assim…
-Néb és uma Filha duma ganda… Fruta!
E acabou por ser banhada aqui…
Enquanto que a neve continuava lá pelos outros cumes…
E depois de chegados ao hotel acabou por passar as horas a dormir aqui…

Fim do primeiro dia…