Nicosa,nicosa Escreveu:Desculpem-me as " sensiblidades" que vou ferir... mas com estes dentes, não posso nem quero dar-me ao luxo de ceder e ficar a pensar se uma mordiscadela dada agora é a brincar ou é a sério. Claro que não vou espancar o cão mas uma palmadita de certeza que sai.
numa coisa concordamos, pelo menos. Pensar se é brincadeira ou se não é leva a muito pouco; o que importa é pensar na forma como lidar com a questão.
Mas, repare, se vai dar uma palmadita, então é porque o cão já cometeu o mau comportamento. E se existem métodos que funcionam preventivamente e evitam que o cão cometa sequer os erros, então por que razão as pessoas insistem na palmada enquanto método?
Repare a Nicosa, e quem mais quiser. Ninguém acusou ninguém de espancar quem quer que fosse. Isso é sempre uma assunção de assunção, ou seja, quando alguém critica a palmada enquanto método, assume-se logo que essa pessoa está a criticar a palmada por ser maus tratos, ou por achar que é espancamento, etc. Não; a mim não faz assim tanta confusão que as pessoas levantem a mão para o seu cão, mas, por favor, sejamos inteligentes; uma coisa é uma reacção instintiva (que está no nosso sangue latino; por exemplo, conheço pessoas do norte da europa que se espantam com a facilidade com que "nós" batemos nos nossos cães...); ok, tudo bem, eu não o faço (controlo-me a esse ponto porque sei as consequências, sei que eu próprio acho injusto, e sei que sou mais ou menos temperamental, pelo que, à partida, já me controlo por defeito), mas não me incomoda que se faça isso. O que me incomoda, e muito, é que se faça da palmada um instrumento de educação, ou seja, que se recorra, metodicamente, à palmada, ao jornal, ao mata-moscas, etc. Isso é que está profundamente errado, desde logo porque estamos à espera do erro para castigar. E como o castigo é físico, muitas vezes as respostas dos cães também o são.
Mais: acho fantástico que as pessoas falem das palmadas como se de uma grande novidade se tratasse; meus caros: esse é o método da grande maioria da população de donos, em Portugal. E se tem resultado convosco, com outras pessoas descambou em consequências piores; e, claro, também me vão dizer que o mimo em excesso e a falta de limites também descambou em consequências graves. Com certeza, mas (i) por que é que o erro de um lado desculpabiliza o outro? e (ii) quem é que disse que a alternativa às palmadas (enquanto método) é murchar as regras e deixar de impor limites? é muito conveniente caricaturizar uma coisa que não nos damos ao trabalho de estudar e compreender a fundo.
Por fim, os cães, regra geral, aceitam serem batidos; muitas vezes até aceitam maus tratos severos, e nunca saem do pé do dono. Isso também acontece classicamente com muitas esposas (e, já agora, com muitos maridos, porque não); e daí? logo porque os cães pareçam responder bem às palmadas ou a coisas piores, isso legitima que o façamos? Quantas vezes já ouviram dizer que os cães também sempre passaram bem sem banhos todos catitas, sem rações todas cuidadas, sem sofás para dormir, etc. etc.? E daí? Por que é que continuamos a usar a desculpa do "sempre se fez x" para continuar a fazer x?
Isto, no fundo, é sempre uma questão de escolhas...