Lourenca Escreveu:Olá a todos,
Estou a precisar de dicas para educar a minha cadela nas brincadeiras com outros cães. Ela é uma bruta e trata os outros cães como caça.
Adoptei-a adulta de um canil. No primeiro ano, apesar de passearmos muito, não tivemos contacto frequente com cães soltos. Dos encontros que tivemos, ou brincava contente ou fugia espavorida. Entretanto mudámos de casa para um sítio onde há "parques para cães", onde eles podem brincar à solta uns com os outros. Ao princípio tinha de arrastá-la lá para dentro e ela escondia-se debaixo de um banco, mas entretanto ganhou uma tal autoconfiança que parece que manda naquilo tudo. Isto independentemente de ser o parque do costume ou um novo.
Como é que ela brinca? Corre atrás de outro cão, derruba-o ou dando um encontrão com o lombo ou agarrando-o com a boca pelas pernas, e depois agarra-o pelo cachaço. Depois larga, e repete 1001 vezes. Se ficar mais entusiasmada, alguém de agarrar pelo cachaço, ainda sacode. Prefere cães mais pequenos mas também o faz com cães com o dobro do tamanho dela. De vez em quando encontra uma vítima com a personalidade dela e há umas rosnadelas e mordidas no ar, mas nada de grave. Normalmente o outro cão não sabe o que fazer para se ver livre dela, o outro dono obviamente não gosta da brincadeira, e eu já entro no parque cheia de vergonha da fita que ela vai fazer. Quando ela abusa eu berro-lhe um "não" e parecemos 2 malucas, ela a agarrar os outros cães e eu a gritar...
O que é que eu faço para ela brincar de forma "civilizada" - sem agarrar os outros pelo pescoço? E sem perder a autoconfiança que só ganhou há pouco tempo (fora do parque ainda é super-assustadiça)? Só está habituada a açaime nos transportes públicos e no parque não há cães à trela.
Estou a pensar treinar melhor o "anda cá" em situações de distracção, mas não sei se é suficiente. Cada vez que agarra um cão chamo-a?
Ela tem também dificuldades em encontrar um companheiro de brincadeiras compatível, pois corre a uma velocidade que nenhum a acompanha e nunca se cansa. De vez em quando encontra um companheiro tão rápido como ela e que não se deixa derrubar ou agarrar, e correm até se fartarem.
O texto saiu-me grande... Alguém tem sugestöes para a educar?
Existem algumas coisas que poderei dizer, mas o melhor conselho que alguém lhe poderá dar, neste caso, será mesmo procurar a opinião de um treinador que assista ao vivo a tudo aquilo que nos descreveu. Existem várias possibilidades que só mesmo vendo é que se poderá fazer algum tipo de análise minimamente capaz.
Dado esse conselho, vou listar algumas considerações que a sua descrição me sugere:
1.
Estou a pensar treinar melhor o "anda cá" em situações de distracção, mas não sei se é suficiente. Cada vez que agarra um cão chamo-a?
Começa por aqui. Soltar o cão sem ter uma chamada minimamente firme é sempre perigoso.
E tendo em conta tudo o que descreveu, eu deduzo que vá necessitar de muito trabalho para poder conseguir chamar a sua cadela quando ela já está no nível de excitação que a leva a ter este tipo de brincadeiras com outros cães.
Eu sei que a sua questão é sobre formas de melhorar a interacção da sua cadela com outros cães e não como chamá-la, mas parece-me que a melhor ajuda que pode ter será um controlo à distância da sua cadela. Sem conseguir chamá-la nas situações "críticas", dificilmente poderá fazer muito mais para ajudá-la.
Para não estar a falar muito sobre algo que nem sequer é o assunto deste tópico, remeto-a para aquela que considero ser a melhor fonte que conheço acerca desta questão da chamada:
http://www.dogstardaily.com/radio/107-come-here
2. quanto ao problema em si, aquele que descreve, bom, eu acho que passa muito mais pelos outros cães do que propriamente por si, o que é meio frustrante...
Uma boa socialização em cachorro e em adolescente é caminho certo para que o cão se saiba comportar perante outros cães. Vão aparecer, certamente, cães mais velhos que vão corrigir os abusos do cachorro e do adolescente. O problema é que quando o cão já é mais velho, e tem comportamentos abusivos perante os outros, essas correcções são mais raras; normalmente ou os outros cães não fazem nada, ou então partem logo para agressividade, o que é chato, e não tem grande valor pedagógico.
Sendo que já o adoptou em adulto, e toda a fase de socialização óptima já passou, então o que ainda está nas suas mãos é: (i) seleccionar as alturas em que pode ou não pode soltar o seu cão; ou seja, se, quando chega ao "parque", estão lá cães que a Lourença sabe que não gostam muito das brincadeiras da sua cadela, então não a solte; é chato, eu sei, mas soltar um cão deve ser um privilégio, um direito adquirido com o próprio comportamento, e não um direito "inato"; (ii) treinar muito bem a chamada e outro tipo de controlo à distância; assim, sempre que vir que a coisa está a começar a descambar... "senta!"... ou "Aqui". Mas, para isso, é preciso muito treino "fora do parque"
3. O que a dragablue disse acerca de tentar perceber até onde vai a brincadeira e onde começa a agressividade é muito importante. Mas, não só os sinais, por vezes, não são fáceis de reconhecer, como muitas vezes as duas coisas não são assim tão distintas, e a agressividade surge de algo que estava a ser plena brincadeira inofensiva. Por isso é que falar por aqui é sempre muito limitado; o ideal era ter um profissional a avaliar, ao vivo. Depois, é preciso, desde logo, conhecer os dois cães e perceber, por exemplo, que tipo de rosnar é de excitação e que tipo de rosnar é de agressividade, ou de excitação excessiva. Como isto é praticamente impossível de se saber sempre, o melhor é jogar pelo seguro e fazer várias chamadas ao longo da brincadeira, interrompendo-a e promovendo constantes recomeços. Não só vai estar a cimentar o controlo na sua cadela, como vai também fazendo "resets" na escala de excitação da sua cadela.