Doberman n obedece

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Moderador: mcerqueira

lds6
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quarta abr 30, 2014 11:32 am

zeca2 Escreveu:
Não, não há confusão nenhuma.
Por acaso até há... carácter e temperamento são coisas bem diferentes, confundir os termos parece-me incorrecto. O temperamento é inato, é a matriz a partir da qual, por influências externas, se forma o carácter.
E o que o leva a dizer que aquilo de que eu falo é de carácter? Só porque eu digo que os traços (sim, traços) de temperamento não são imutáveis, já estou a confundi-los com traços de carácter?
Ouça, uma vez mais: adaptabilidade e reactividade são dois traços de temperamento reconhecidos sem grande espaço para polémica, hoje. Ora, uma coisa é avaliar esses traços de temperamento, por exemplo, perceber qual o índice aproximado de facilidade de adaptação de um cachorrinho a uma dada situação. Outra coisa é moldar esse traço de forma a que, por exemplo, a resposta a situações novas seja tendencialmente mais suave e "adaptativa". O hard-wire do cachorro permanece o que é, mas podemos moldá-lo.
E isto não é confundir temperamento com carácter. É, simplesmente, pegar na ideia inicial de que o conjunto de traços que constituem o temperamento não são imutáveis, invariáveis, "a-moldáveis". Está claro?
Adaptabilidade e reactividade são dois traços, hoje sem polémica (julgo), considerados como traços de temperamento.
Bem, eu de "traços" pouco percebo. Prefiro definir o temperamento como o conjunto de instintos, impulsos e qualidades psicológicas como a sensibilidade, intrepidez, tenacidade, capacidade resolutiva, gregarismo etc.
Se percebe pouco ou muito, não me diz respeito. Agora, que o termo 'traço' é usado vulgar e até preferencialmente ao termo 'qualidade', quando aplicado a temperamento, é algo relativamente aceite, tanto quanto sei. É que uma 'qualidade' pressupõe que se esteja a determinar (qualificar) algo de teor substancial, enquanto um traço aponta para algo de fundo mais "formado", isto é, uma característica (e não uma qualificação de uma característica).

Estas qualidades, sendo inatas, podem ser desenvolvidas num ou noutro sentido através de influências externas, ao longo da vida do cão (prioritàriamente na fase de imprinting, mas também na neonatal, na juvenil, na de transição, etc) definindo o carácter do cão num ou noutro sentido.

Repito-me: temperamento = bagagem genética; carácter = temperamento + influência ambiental.
Zeca, mas é isso mesmo. Justamente os mesmíssimos traços que identificamos como fazendo parte do temperamento são moldáveis, nomeadamente ao longo da experiência do cão. Se o composto obtido pela variação dos traços de temperamento se chama carácter, isso não muda uma vírgula ao que disse, pois tudo o que disse foi que os traços de temperamento são moldáveis, são dados a relações de influência que acabam por lhe conferir variações.

Relevância é uma coisa; exclusividade é outra.
Também o convido a reler os meus posts... afirmei explicitamente isso várias vezes. Mas, tendo em conta que é a normalidade que se transmite, a manipulação externa é fundamental, na medida em que pode influenciar num ou noutro sentido essa normalidade.
Hm, mais ou menos. Num ponto muito concreto, continua, ainda agora, a fazer uma separação que, quanto a mim, aponta para mais do que mera relevância. O Zeca baseia a sua concepção de complementaridade entre hereditariedade e meio num dualismo hoje completamente em desuso em qualquer área da biologia. Ou seja, até um determinado ponto há a "bagagem genética", e depois há a influência do meio.
Tudo bem que o Zeca não diz - e isso já ficou esclarecido - que haja apenas influência do meio em aspectos como a agressividade, ou, em geral, desvios comportamentais. Certo. Mas configura as coisas de modo a que haja uma rígida cisão temporal e processual entre genes e ambiente, quando existe uma co-influência constitutiva em ambos os processos.
Falo disso imediatamente a seguir.
Citação:
«a influência genética de outros desvios comportamentais não está comprovada (pelo menos por estudos que eu conheça). Daí ser mais curial admitir que sejam transmitidos por aprendizagem.» ?
Será assim tão abusivo interpretarmos destas palavras que o que o Zeca quis dizer era algo como o que eu disse antes, isto é, que "se não há transmissão genética comprovada de desvios comportamentais, então tais desvios serão apenas transmitidos por aprendizagem"? Eu sei que eu estou a acrescentar o "apenas
Pois é... está a acrescentar o "apenas". Repito: se apenas a normalidade se transmite (à excepção do medo e derivados) é curial admitir-se que os desvios à norma se devem a factores ambientais.
Pois, mas o Zeca continua a fazer uma mistura muito prejudicial. Está a pôr, no mesmo nível de inferência, duas concepções que não só são distintas, como tal distinção é vital em toda a discussão.
Repare, o Zeca está a usar, na sua afirmação, um antecedente que fala em "transmissão genética comprovada" (ou seja, transmissão directa); e, depois, na conclusão que daí derivaria, o Zeca diz "os desvios à norma devem-se...". Ou seja, começa com a transmissão genética directa para concluir com o plano a que penso já termos aceite que se passa mais no nível da influência.
Vou repetir aquilo que, quanto a mim, é o foco da nossa discussão: logo por não haver transmissão directa de um determinado item, não quer dizer que não haja influência genética na formação desse mesmo item. Ou seja, não, não é só o ambiente que vai determinar aquilo que não foi transmitido geneticamente. A própria constituição genética de um indivíduo vai influenciar a forma como o ambiente vai agir no indivíduo. Os desvios à norma sofrem também influência de disposições genéticas.
É isto.


Já reparei que o Zeca decidiu não comentar um certo esclarecimento meu a algo que tantas dúvidas lhe suscitaram. Tudo bem. Não podemos estar a estender a nossa discussão a todos os pontos possíveis, e ainda bem, embora seja curioso notar qual o tipo de selecção dos pontos usados para manter o debate... Mas tudo bem. Peço-lhe só uma coisa, numa tentativa de criar algum tipo de clareza na discussão. Comente, por favor, esta parte final que destaquei em itálico; e faça-o, tanto quanto possível, de forma a que se entenda "a sua posição" acerca do que o que afirmo.
zeca2
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quarta abr 30, 2014 7:08 pm

Bem, talvez se torne maçador ter de recorrer constantemente a citações para aprofundar o debate, mas não vejo outro remédio.
E o que o leva a dizer que aquilo de que eu falo é de carácter?
O hard-wire do cachorro permanece o que é, mas podemos moldá-lo.
E isto não é confundir temperamento com carácter.
A segunda citação responde à primeira. Ao "moldar" o temperamento está a definir o "carácter". Dou um exemplo de fácil compreensão os drives de presa e de defesa - é possível , através da manipulação adequada, canalizar entre si estes drives, potenciando um ou outro e conseguindo assim um carácter diferente neste aspecto do temperamento inato.

Estranho que reconheça que carácter = temperamento + influencia ambiental e não compreenda a diferença.
Se percebe pouco ou muito, não me diz respeito.
O facto de não lhe dizer respeito não impede que eu o mencione, creio eu.
Ou seja, até um determinado ponto há a "bagagem genética", e depois há a influência do meio.
Eu até admito que haja influência ambiental na fase intra-uterina, mas o que reafirmo é que o "ponto de partida" é o temperamento herdado. Essa "página inicial" vai-se transformando no carácter de acordo com as influências ambientais.
logo por não haver transmissão directa de um determinado item, não quer dizer que não haja influência genética na formação desse mesmo item. Ou seja, não, não é só o ambiente que vai determinar aquilo que não foi transmitido geneticamente.
Se bem interpretei, o que você diz em nada difere do que eu disse sobre formação do carácter. Mas para a coisa ser clara e concreta convinha que exemplificasse.
Já reparei que o Zeca decidiu não comentar um certo esclarecimento meu a algo que tantas dúvidas lhe suscitaram.
Para ser franco, não estou a ver a que esclarecimento se refere. Se mo citar poderei dizer-lhe o que penso.
lds6
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quinta mai 01, 2014 2:11 pm

zeca2 Escreveu:
E o que o leva a dizer que aquilo de que eu falo é de carácter?
O hard-wire do cachorro permanece o que é, mas podemos moldá-lo.
E isto não é confundir temperamento com carácter.
A segunda citação responde à primeira. Ao "moldar" o temperamento está a definir o "carácter". Dou um exemplo de fácil compreensão os drives de presa e de defesa - é possível , através da manipulação adequada, canalizar entre si estes drives, potenciando um ou outro e conseguindo assim um carácter diferente neste aspecto do temperamento inato.

Estranho que reconheça que carácter = temperamento + influencia ambiental e não compreenda a diferença.
É óbvio que reconheço a diferença, e o meu comentário anterior (sobretudo se não for talhado à medida) demonstra que eu compreendo perfeitamente a distinção a que o Zeca alude. O que me parece é que o Zeca não está é a compreender o simples ponto que quis vincar desde início desta "sub-discussão". O que digo desde início desta sub-discussão é apenas o seguinte: os traços de temperamento não são rigidamente estanques. A própria ideia de que o carácter vai ser igual ao moldar dos traços de temperamento pela interacção com o meio vai no sentido de corroborar o que eu pretendo dizer.
Repetindo a ideia "original": os traços de temperamento são passíveis de sofrer variações ao longo da aprendizagem. E se, em rigor, quando essas variações ocorrem, nós já estamos a falar de carácter, a verdade é que são os mesmos traços agora e sempre, ou seja, calma, adaptabilidade, reactividade, etc. Se a um cão, num teste de temperamento (não questionemos a fiabilidade dos mesmos, agora), for "diagnosticado", digamos, elevada reactividade a estímulos sonoros estranhos, por exemplo, essa reactividade é moldável e atenuável ao longo da vida do mesmo cão. É o mesmo traço; e o facto de se ter definido como sendo de um determinado modo não significa que ele se vá manter assim para sempre. Quando se diz que o temperamento é definido à nascença, isso pode gerar uma falsa ideia de que os traços de temperamento não vão sofrer nunca qualquer variação. Foi em relação a este ponto que desde início me insurgi.




Se percebe pouco ou muito, não me diz respeito.
O facto de não lhe dizer respeito não impede que eu o mencione, creio eu.
Oh, ó Zeca, por favor. Com tanta selecção do que comenta, e vai comentar algo que era claramente apenas uma introdução ao que vinha depois, isso sim relevante, e onde lhe esclarecia o porquê do uso do termo 'traços' ao invés do uso do termo 'qualidade' (explicação essa que o Zeca preferiu não comentar...).
Ou seja, até um determinado ponto há a "bagagem genética", e depois há a influência do meio.
Eu até admito que haja influência ambiental na fase intra-uterina, mas o que reafirmo é que o "ponto de partida" é o temperamento herdado. Essa "página inicial" vai-se transformando no carácter de acordo com as influências ambientais.
De acordo com influências ambientais... E de acordo com determinações genéticas, como a predisposição para a aprendizagem, por exemplo.
logo por não haver transmissão directa de um determinado item, não quer dizer que não haja influência genética na formação desse mesmo item. Ou seja, não, não é só o ambiente que vai determinar aquilo que não foi transmitido geneticamente.
Se bem interpretei, o que você diz em nada difere do que eu disse sobre formação do carácter. Mas para a coisa ser clara e concreta convinha que exemplificasse.
Difere num ponto muito particular, e que é aquele que acabei de referir na frase anterior deste comentário. É que o Zeca defende que, a partir do nascimento, é o contacto com o meio que vai definir a formação do carácter, não havendo mais espaço para influência genética; a influência genética existe, mas terminou na formação da base que é o temperamento. A partir daqui, é como um processo de oleiro, o meio trabalhando sobre o "barro-temperamento". É mais ou menos esta a sua posição, correcto? (É a esta concepção que considero um dualismo demasiadamente estrito e, todo em todo, desfasado das noções básicas de biologia moderna)
Pronto, o que eu lhe digo é que não é bem assim. Algumas determinações genéticas vão influenciar a própria relação com o meio, a própria forma como o meio afecta os traços de temperamento e forma o carácter.
Por exemplo, a forma como um cão responde mais ou menos rapidamente a um novo comando tem alta influência de traços genéticos como a relação/reactividade ao meio, capacidade de atenção, ligação aos elementos humanos, etc. E isto não é apenas o meio a polir o temperamento, isto é, não são apenas os traços genéticos a sofrerem passivamente (passe a redundância) a acção do meio: são as disposições genéticas a exercerem influência activa bem depois do nascimento do indivíduo.
A forma como um cão X desenvolve maior reactividade agressiva a outros cães do que o cão Y, sendo que os dois até tiveram trajectos de interacção com o meio muito similares, explica-se não só por traços herdados directamente dos progenitores, mas também por outras predeterminações genéticas que definem (ou influenciam tal definição) a forma como se vai processar a interacção com o meio.

Já reparei que o Zeca decidiu não comentar um certo esclarecimento meu a algo que tantas dúvidas lhe suscitaram.
Para ser franco, não estou a ver a que esclarecimento se refere. Se mo citar poderei dizer-lhe o que penso.
É só procurar a minha mensagem que responde às suas dúvidas levantadas à (co) influência entre aspectos morfológicos e aspectos comportamentais. Não é tarefa tão hercúlea, já que nem foi assim há tantos "posts" atrás.
zeca2
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quinta mai 01, 2014 3:57 pm

Como ponto prévio:
Oh, ó Zeca, por favor. Com tanta selecção do que comenta, e vai comentar algo que era claramente apenas uma introdução ao que vinha depois,
Este comentário visa apenas impedir que a discussão desça ao nível da ironia barata ou de subentendidos que a desvirtuem. Não é que tenha problemas em entrar por esse caminho mas, pelo respeito com que tenho lido as suas intervenções e entendido a sua postura, quero a todo o custo evitá-lo. Quezílias por esse motivo já tive que bastem e não são boas para nenhum dos intervenientes.
Se a um cão, num teste de temperamento (não questionemos a fiabilidade dos mesmos, agora), for "diagnosticado", digamos, elevada reactividade a estímulos sonoros estranhos, por exemplo, essa reactividade é moldável e atenuável ao longo da vida do mesmo cão. É o mesmo traço;
Eu disse precisamente o mesmo em relação aos drives de presa e defesa, não consigo perceber onde é que estamos em desacordo... os diversos caracteres constitutivos do temperamento inato (a que você chama "traços") são susceptíveis de ser modificados por influência externa, natural ou direccionada intencionalmente num ou noutro sentido... em que é que os comportamentalistas se baseiam na sua função, senão nisto?
Quando se diz que o temperamento é definido à nascença, isso pode gerar uma falsa ideia de que os traços de temperamento não vão sofrer nunca qualquer variação. Foi em relação a este ponto que desde início me insurgi
A meu ver insurgiu-se incorrectamente, já que o caracter (estadio actual, num dado cão, da evolução do temperamento) não é mais que a modificação do temperamento inato por acção do meio envolvente. Foi por isso que referi que as nossas diferenças quanto a este aspecto tinham por base, sobretudo, terminologias diferentes...
A forma como um cão X desenvolve maior reactividade agressiva a outros cães do que o cão Y, 1.sendo que os dois até tiveram trajectos de interacção com o meio muito similares, explica-se não só por traços herdados directamente dos progenitores, mas também por outras predeterminações genéticas que definem (ou influenciam tal definição) a forma como se vai processar a interacção com o meio.
Esta sua afirmação levanta-me algumas reservas:

1. É um pouco leviano dizer que são "muito similares" - muitas experiências são vividas de modo individual, por exemplo os jogos de guerra entre irmãos de ninhada;

2.para mim os "traços" ou "prédeterminações" de que o lds fala têm a mesma origem os genes dos progenitores. Em minha opinião são parte integrante do temperamento.

3. outra coisa é pensar que que dois irmãos criados artificialmente nas mesmas condições teriam de ter nascido com temperamentos iguais e portanto a sua resposta aos mesmos estímulos seria igual. Esse é um pressuposto errado uma vez que numa mesma ninhada há uma grande variabilidade de temperamentos, dentro da zona da normalidade. E, a temperamentos diferentes, reacções diferentes aos factores ambientais.

O lds desculpará mas, com tal emaranhado de citações e contra-citações, não estou disponível para andar à cata do seu esclarecimento. Uma vez que o tem certamente identificado, ser-lhe-á certamente menos trabalhoso citá-lo de novo.

Abraço
lds6
Membro Veterano
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quinta mai 01, 2014 5:09 pm

zeca2 Escreveu:Como ponto prévio:
Oh, ó Zeca, por favor. Com tanta selecção do que comenta, e vai comentar algo que era claramente apenas uma introdução ao que vinha depois,
Este comentário visa apenas impedir que a discussão desça ao nível da ironia barata ou de subentendidos que a desvirtuem. Não é que tenha problemas em entrar por esse caminho mas, pelo respeito com que tenho lido as suas intervenções e entendido a sua postura, quero a todo o custo evitá-lo. Quezílias por esse motivo já tive que bastem e não são boas para nenhum dos intervenientes.
Zeca, a nossa "história" de discussões não é de hoje, e creio ser suficiente para evitar qualquer tipo de "baixaria", suposta ou subentendida que seja. O meu comentário incidia apenas no seu "de traços percebo pouco", que claramente indicava um certo "desconforto" ou mesmo até desdém pelo termo 'traços', quando, na verdade, o termo é perfeitamente adequado, tal como defendi no que se seguiu desse meu comentário.
Da minha parte não há senão seriedade na postura e comentários, e pode estar descansado que não espero outra coisa de si... ou de outro modo não estaria aqui a prolongar uma tal discussão.
Se a um cão, num teste de temperamento (não questionemos a fiabilidade dos mesmos, agora), for "diagnosticado", digamos, elevada reactividade a estímulos sonoros estranhos, por exemplo, essa reactividade é moldável e atenuável ao longo da vida do mesmo cão. É o mesmo traço;
Eu disse precisamente o mesmo em relação aos drives de presa e defesa, não consigo perceber onde é que estamos em desacordo... os diversos caracteres constitutivos do temperamento inato (a que você chama "traços") são susceptíveis de ser modificados por influência externa, natural ou direccionada intencionalmente num ou noutro sentido... em que é que os comportamentalistas se baseiam na sua função, senão nisto?
Estamos em desacordo em relação a isto
Difere num ponto muito particular, e que é aquele que acabei de referir na frase anterior deste comentário. É que o Zeca defende que, a partir do nascimento, é o contacto com o meio que vai definir a formação do carácter, não havendo mais espaço para influência genética; a influência genética existe, mas terminou na formação da base que é o temperamento. A partir daqui, é como um processo de oleiro, o meio trabalhando sobre o "barro-temperamento". É mais ou menos esta a sua posição, correcto? (É a esta concepção que considero um dualismo demasiadamente estrito e, todo em todo, desfasado das noções básicas de biologia moderna)
Pronto, o que eu lhe digo é que não é bem assim. Algumas determinações genéticas vão influenciar a própria relação com o meio, a própria forma como o meio afecta os traços de temperamento e forma o carácter.
Por exemplo, a forma como um cão responde mais ou menos rapidamente a um novo comando tem alta influência de traços genéticos como a relação/reactividade ao meio, capacidade de atenção, ligação aos elementos humanos, etc. E isto não é apenas o meio a polir o temperamento, isto é, não são apenas os traços genéticos a sofrerem passivamente (passe a redundância) a acção do meio: são as disposições genéticas a exercerem influência activa bem depois do nascimento do indivíduo.
e, quanto a mim, o simples facto de o Zeca não discernir as diferenças entre as duas posições referidas (salientadas a negrito) é razão suficiente para eu manter a minha ideia de que a nossa perspectiva não coincide.
Quando se diz que o temperamento é definido à nascença, isso pode gerar uma falsa ideia de que os traços de temperamento não vão sofrer nunca qualquer variação. Foi em relação a este ponto que desde início me insurgi
A meu ver insurgiu-se incorrectamente, já que o caracter (estadio actual, num dado cão, da evolução do temperamento) não é mais que a modificação do temperamento inato por acção do meio envolvente. Foi por isso que referi que as nossas diferenças quanto a este aspecto tinham por base, sobretudo, terminologias diferentes...
Ao contrário de outros pontos, em que concedo existirem algumas diferenças de base que acabam por motivar as discórdias em causa, este ponto aqui acho que até seria muito fácil de ser revolvido, e não sei bem se o problema está na minha falta de capacidade de explicar ou na sua indisponibilidade para compreender o que tenho estado a tentar dizer. Repare: não há diferenças de terminologia. Eu tenho estado a manter a distinção terminológica rigorosa que o Zeca referiu, mesmo sabendo que essa distinção nem é tão "líquida" assim na literatura sobre o tema; mantenho-a justamente porque o que pretendo dizer é muito mais simples do que qualquer problematização que pudéssemos fazer a partir daí. E essa coisa simples que tenho tentado dizer é que: quando dizemos que o temperamento é inalterável a partir do momento do nascimento, embora sem incorrer em erro, podemos estar a criar uma ideia, essa sim errada, de que os traços de temperamento são inalteráveis, imutáveis, invariáveis; na verdade - e nisto nunca chegámos a discordar um segundo - esses mesmíssimos traços são, sim, variáveis, e tal variação processa-se no desenvolvimento do carácter. Não sei se conseguirei clarificar mais a minha intenção neste aspecto bem específico da discussão.

A forma como um cão X desenvolve maior reactividade agressiva a outros cães do que o cão Y, 1.sendo que os dois até tiveram trajectos de interacção com o meio muito similares, explica-se não só por traços herdados directamente dos progenitores, mas também por outras predeterminações genéticas que definem (ou influenciam tal definição) a forma como se vai processar a interacção com o meio.
Esta sua afirmação levanta-me algumas reservas:

1. É um pouco leviano dizer que são "muito similares" - muitas experiências são vividas de modo individual, por exemplo os jogos de guerra entre irmãos de ninhada;

2.para mim os "traços" ou "prédeterminações" de que o lds fala têm a mesma origem os genes dos progenitores. Em minha opinião são parte integrante do temperamento.
O cenário levantado era, evidentemente, hipotético e abstracto, pois prendia-se apenas com o nível das definições e conceptualizações. A ideia, contudo, parece-me simples de compreender: o meio não se limita a moldar a carga genética; a carga genética co-determina também a forma como o meio actualiza as potencialidades de um indivíduo.
3. outra coisa é pensar que que dois irmãos criados artificialmente nas mesmas condições teriam de ter nascido com temperamentos iguais e portanto a sua resposta aos mesmos estímulos seria igual. Esse é um pressuposto errado uma vez que numa mesma ninhada há uma grande variabilidade de temperamentos, dentro da zona da normalidade. E, a temperamentos diferentes, reacções diferentes aos factores ambientais.
De todo! A ideia, mesmo dentro da sobre-simplificação a que o Zeca votou o cenário, até era mesmo partir da princípio que os temperamentos não eram nem poderiam ser iguais.
Mas bom, vejo que o cenário que tracei só serviu para complicar algo que, quanto a mim, já atingiu o seu ponto de saturação na discussão e que é, justamente, aquilo que destaquei nesta mesma mensagem como sendo o ponto de discórdia entre as nossas posições.
O lds desculpará mas, com tal emaranhado de citações e contra-citações, não estou disponível para andar à cata do seu esclarecimento. Uma vez que o tem certamente identificado, ser-lhe-á certamente menos trabalhoso citá-lo de novo.
O tal esclarecimento (ou tentativa de) não se encontra no meio de nenhum conjunto de afirmações. Consiste num comentário isolado e especificamente dedicado a esse esclarecimento. Logo, não difícil de encontrar. É a mensagem de dia 28, às 7:11 p.m. (está na pg. 4). Colocá-lo aqui seria retirá-lo do seu contexto e do envolvimento que o suscitou, o que iria desvirtuar a sua posição ao longo da discussão.


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Zeca, prevendo mais uma ou duas trocas de mensagens contendo esclarecimentos relativamente laterais, atesto que não vejo já grande possibilidade de desenvolvimento da questão. Ela já chegou a um ponto de saturação a partir do qual não creio que vá haver grandes novidades de parte a parte. Quanto a mim, o ponto fulcral de discussão consiste no que salientei a sublinhado nesta mensagem e, salvo excelente e improvável novidade nas próximas mensagens, creio que será o ponto em que a discussão ficará (aliás, ponto em que já se encontra há algum tempo).

Um abraço
TheOne
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quinta mai 01, 2014 5:46 pm

Que prega secas do caraças.... :roll:

E se continuassem esta filosofia por MP e deixassem de puxar este tópico para cima?? Ou criem um só para estas teorias e filosofias de algibeira... :roll:
"Eu sou responsável pelo que digo, não pelo que você entende." - Auto desconhecido

"O maior prazer de uma pessoa inteligente, é fazer de idiota perante um idiota a fazer de inteligente!" - Autor desconhecido
Ressa
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Registado: segunda nov 25, 2013 10:24 pm

quinta mai 01, 2014 5:54 pm

Continuem, está bastante interessante e pode ser que se aprenda alguma coisa ou contribua para mudar opiniões, inclusive a minha. :)
zeca2
Membro Veterano
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Registado: quinta nov 26, 2009 4:02 pm

quinta mai 01, 2014 6:38 pm

TheOne Escreveu:Que prega secas do caraças.... :roll:

E se continuassem esta filosofia por MP e deixassem de puxar este tópico para cima?? Ou criem um só para estas teorias e filosofias de algibeira... :roll:
Só apanha secas quem quer... quem não quer, não lê...
Eu por exemplo deixei de ler os seus posts desde que preconizava como remédio universal aquela teoria de algibeira que se baseava em estafar os cães como remédio universal para todos os problemas caninos...

Aliás, é seca, é seca, mas lá vai lendo...
zeca2
Membro Veterano
Mensagens: 553
Registado: quinta nov 26, 2009 4:02 pm

quinta mai 01, 2014 6:48 pm

Bem, lds, a minha resposta vai ser curta, para a "The One" (viva a humildade!) tudo o que seja mais do que 10 palavras e não contenha uns pòzinhos de arrogância bacoca é uma seca... e não vale a pena incomodar a "senhora", pois então...


Algumas determinações genéticas vão influenciar a própria relação com o meio, a própria forma como o meio afecta os traços de temperamento e forma o carácter.
Por exemplo, a forma como um cão responde mais ou menos rapidamente a um novo comando tem alta influência de traços genéticos como a relação/reactividade ao meio, capacidade de atenção, ligação aos elementos humanos, etc. E isto não é apenas o meio a polir o temperamento, isto é, não são apenas os traços genéticos a sofrerem passivamente (passe a redundância) a acção do meio: são as disposições genéticas a exercerem influência activa bem depois do nascimento do indivíduo.
Mas eu nunca estive em desacordo com isto, é evidente que os caracteres temperamentais ditam respostas diferenciadas em relação aos estímulos externos. E o conjunto dessas respostas, transformadas em pautas de comportamento, é que são o "carácter" do cão. Só não digo que a reacção é biunívoca porque o meio condiciona o temperamento, mas o temperamento não condiciona o meio...

Mas fiquemos, pois, por aqui. Lá nos encontraremos em qualquer outro tema para dar mais uma seca aos "entendidos"...

Abraço.
lds6
Membro Veterano
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Registado: domingo out 28, 2012 1:49 am

quinta mai 01, 2014 10:40 pm

zeca2 Escreveu:
Mas fiquemos, pois, por aqui. Lá nos encontraremos em qualquer outro tema para dar mais uma seca aos "entendidos"...

Abraço.
Sim, concordo. Não porque estejamos a incomodar as almas sagradas e imperturbáveis do fórum, de sapiência estabelecida e sem necessidade de aprofundamentos nem questionamentos. Simplesmente, tal como tinha dito antes e como o Zeca parece sublinhar, chegamos a ponto de definição de posições, a partir do qual não me parece que nenhuma novidade haverá.

Um abraço
TheOne
Membro Veterano
Mensagens: 3802
Registado: sexta fev 05, 2010 5:33 pm

sexta mai 02, 2014 6:37 am

zeca2 Escreveu:
TheOne Escreveu:Que prega secas do caraças.... :roll:

E se continuassem esta filosofia por MP e deixassem de puxar este tópico para cima?? Ou criem um só para estas teorias e filosofias de algibeira... :roll:
Só apanha secas quem quer... quem não quer, não lê...
Eu por exemplo deixei de ler os seus posts desde que preconizava como remédio universal aquela teoria de algibeira que se baseava em estafar os cães como remédio universal para todos os problemas caninos...

Aliás, é seca, é seca, mas lá vai lendo...
Quem é que lhe disse que eu li alguma coisa?!?!?!?

Presunção e água benta..... :roll:
"Eu sou responsável pelo que digo, não pelo que você entende." - Auto desconhecido

"O maior prazer de uma pessoa inteligente, é fazer de idiota perante um idiota a fazer de inteligente!" - Autor desconhecido
Floripes3
Membro Veterano
Mensagens: 3119
Registado: sexta jun 29, 2012 2:58 pm

sexta mai 02, 2014 6:59 am

Pois eu tenho lido tudinho, de cabo a rabo mas não de seguida, e acho bastante interessante o diálogo.

Não tem sido "seca" nenhuma e pelo menos é uma variante saudável e instrutiva aos choradinhos de amor aos queridos animaizinhos e aos rigores educativos ao palmadão.
<p>Ol&aacute;, eu sou a... Floripes3 que j&aacute; foi 2. &nbsp;:mrgreen:</p>
<p>''Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a v&iacute;tima. O sil&ecirc;ncio encoraja o torturador, nunca o torturado'' - Elie Wiesel</p>
<p>&nbsp;"Nas costas dos outros vemos espelhadas as nossas." - Dito popular</p>
rpoeiras
Membro
Mensagens: 167
Registado: segunda fev 24, 2014 3:03 pm
Localização: Max (Rottweiler), Nina (SRD) e Mia (Amstaff)

sexta mai 02, 2014 7:38 am

Eu só gostava de "pegar" no zeca2 e no lds6 e ouvir e discutir este tópico pessoalmente, da-me ideia que pelo "problema" inerente á escrita e á interpretação, haja algumas diferenças que depois podem ser ou não ser as mesmas....mas deveria ser interessante...! :wink:
Cumprimentos,

Ricardo
zeca2
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sexta mai 02, 2014 8:53 am

Quem é que lhe disse que eu li alguma coisa?!?!?!?

Presunção e água benta.....
Se não leu, como é que sabe que é seca? Não me diga que, para além de "única" (e atreve-se a falar de presunção...) também é bruxa...
TheOne
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sexta mai 02, 2014 9:24 am

zeca2 Escreveu:
Quem é que lhe disse que eu li alguma coisa?!?!?!?

Presunção e água benta.....
Se não leu, como é que sabe que é seca? Não me diga que, para além de "única" (e atreve-se a falar de presunção...) também é bruxa...
Dizem que sim... :wink:
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