Dúvidas e algumas inquietações

[Templarius]

Olá bom dia,

Moro há dois anos com um cão pela primeira vez na minha vida mas desde o primeiro momento que o tratei como se já fosse meu. O cão é arraçado de coli mas mais comprido, tem 11 anos já e geralmente é muito meigo e tem imenso mimo. Só não gosta que pessoas que não o conheçam muito bem lhe peguem ao colo e que lhe toquem na comida. E tem ciúmes quando não entra no quarto para dormir pois antes dormia sempre no quarto. Já não dorme nos quartos há mais de um ano, fica numa manta á entrada. Apesar de claramente não ser o que mais gosta, parece que na maior parte das vezes, está resignado. Moro há dois anos na casa com o dono dele, que o tem desde praticamente o nascimento mas cuja educação foi ambígua entre os dois donos da casa até aos 7 anos, que por vezes se contradiziam na maneira como melhor o educar. Contudo, o atual dono sempre foi visto pelo cão como o 'dono principal'.

Há várias dúvidas e problemas que tenho com ele.
1) Eu tenho tentado fazê-lo ver que a comida que lhe damos não pode ser dele em absoluto por forma a podermos 'tocar' nele ou retirar-lhe algo da boca sempre que for passeado à rua e comer alguma coisa indesejada. O que tenho feito é dar-lhe os biscoitos mas por vezes, enquanto ele me rosna, eu digo-lhe para ter calma, dou-lhe festas, enquanto tiro o biscoito da boca e lho dou novamente. Outra coisa que tenho feito é ensiná-lo a esperar por eu lhe dar autorização para ele comer quando vê a comida na taça e não ir logo sofregamente como fazia antes, chegando a magoar sem querer. Faço isso com comida na taça e com biscoitos melhores que lhe damos à boca de vez em quando. Chegava a magoar quem lhe dava aquilo, tal era o desespero. Aliás, o dono dele até lhe atirava a comida/deixava-a cair para ele apanhar. Penso que tenha conseguido passar este processo sem problemas de maior... Ele comigo é mais obediente, espera mais e busca o biscoito mais calmamente quando sou eu a dar-lho. Mas estarei a fazer tudo certo? Haverá aqui algum conselho que me possam dar?

2) O xixi. Não raras vezes acordamos de manhã com xixi na zona da cozinha (ele aprendeu a fazer apenas na zona onde o chão é de pedra, sendo que o resto da casa é de soalho de madeira) mas ultimamente tem feito mais frequentemente na zona próxima da cozinha, mas no chão de madeira na sala de jantar (dividida pela cozinha apenas com uma bancada) ou na entrada. E sempre em caixas que estejam pelo chão ou no estendal da roupa. Ou até na esquina da porta...
Nós por vezes demoramos a levá-lo à rua mas ele nunca faz xixi enquanto estamos acordados. E levamo-lo sempre à rua antes de dormir e pela hora de jantar/entardecer. Normalmente, levamo-lo à hora de almoço ou início da tarde, hora de jantar e hora de dormir, pelas 02h/03h. Ás vezes mais tarde, se por acaso tivermos acordados. Tudo para que não tenha xixi durante a noite. Mas por vezes... lá vem um xixi na zona da cozinha... Ou ultimamente até nas zonas onde ele sempre soube que nunca se fazia, ou seja, no chão de madeira... Isto leva-me ao motivo principal pelo qual crio este tópico:

3) Há dois dias atrás, depois dele termos acordado com xixi na zona da entrada da casa, em dois sítios diferentes (um na ombreira da porta e outro no estendal da roupa), ele foi ralhado mas não por mim. Decidimos que o melhor seria sempre retirar a água duas horas antes de dormirmos e levá-lo à rua nessa altura, por forma a que ele esvazie bem a bexiga. No dia seguinte, efetivamente não houve xixi mas hoje houve. E fê-lo, não novamente na cozinha como fazia antes, mas na sala de jantar e numas caixas de cartão com coisas de valor lá dentro. Mesmo à entrada da sala de jantar, ao abrir a porta.
Subi as escadas até ao corredor onde ele estava deitado, disse para ir comigo para baixo. Sabendo o motivo desde logo, ele resistiu a ir. Como tenho confiança com ele, peguei nele ao colo pois sabia que ele não iria de outro modo. Rosnou-me mas foi levado. Chegado ao local onde fez xixi, e confrontado com aquilo que fizera, eu pu-lo a olhar para o xixi, fiz cara de mau, a minha voz mudou, para ralhar com ele. Ele rosnou novamente, mostrou-me os dentes e quando eu me aproximei com a mão como que se tivesse a ameaçá-lo, ele mordeu-me o polegar. Não pensei noutra solução que pô-lo onde ele não gosta, que é na rua, longe de nós. A casa tem jardim e quintal à volta, ele não está propriamente na rua... Mas ele é muito mais caseiro que animal de estar na rua. É a segunda vez que me morde...
A primeira fora há um mês atrás, apenas. Ele tem o hábito de saltar para o carro sofregamente e não ouve ninguém. Depois de passear pelos bancos da frente e de trás, lá vai para a parte de trás. Um amigo nosso, quando ficou com ele uns dias, ensinou-o a ter calma ao entrar no carro e a sentar-se sempre antes e depois de ter o cinto de segurança. Chegou ao carro que costumamos usar e ele fazia tudo como sempre fez até que começámos a fazer como o nosso amigo lhe ensinara. Tem corrido melhor mas o que aconteceu naquele dia foi que viémos das compras, tínhamos o carro com compras e quando abrimos a porta do carro para tirar os sacos, o cão não ouviu nenhum dos dois, entrou e andou de um lado para o outro dentro do carro com os sacos das compras. Ambos nos interrompíamos a dizer-lhe para sair mas depois só eu continuei a dizer. Ele não saía de lá então fui buscá-lo, peguei-o com as mãos para o tirar dali e quando eu lhe toquei ele mordeu-me...

O que faço nesta situação? Como mudo o rumo que as coisas estão a levar? Sinto que o devo educar, quero educá-lo da melhor maneira mas, tendo eu os meus defeitos, estou a entrar num caminho nada positivo para os dois... Deixo totalmente a educação para quem sempre morou com ele, continuando assim a fazer o que quer em determinadas coisas que antes sempre o fez em liberdade e só eu me fui impondo? É que isso vai implicar naturalmente, eu perder o controlo de o escovar quando acho necessário, sendo que ele liberta muito pêlo... Devo ser eu a fazer a reconciliação com o cão ou deixo que seja o outro dono a mediar as coisas e fazê-lo 'pedir-me desculpa'? Como faço para que ele me peça desculpa e como vejo se ele percebe que fez mal e que não o pode voltar a fazer? Quando o retiro do castigo de estar à porta? E depois disto... no amanhã, como será?

Bom... tenho um misto de desapontamento e tristeza neste momento pois sinto-me mal com toda a situação mas acho imprescindível que um animal de estimação saiba alguns limites e saiba obedecer. E a situação do xixi tornou-se incontrolável do meu ponto de vista...

[Vandocasmm]

Olhe...
. aconselhar-se com um vet? (pode também haver infecção urinária...)
. embora com 11 anos, uma escola?
. educar o "outro" dono?
. não sei, mas não me parece que se deva tirar a água.. eu não consigo pasar uma noite sem a beber..

[maraya]

Boa noite,

Em primeiro lugar deve levar o cão ao veterinário para despistar possíveis problemas que o possam estar a fazer aumentar o numero de vezes que necessita de fazer xixi.

Levar o cão ao sítio onde fez xixi e castigá-lo não adianta, o cão não vai associar as suas atitudes ao acto de ter feito xixi à 30, 20 ou 5 minutos!
Se já está a asneira feita não adianta ralhar.

Quanto ao problema de ser possessivo: http://www.youtube.com/watch?v=zr-jJSGq7co

[Templarius]

Obrigado pelas respostas, conselhos e vídeos. Fiquei com a dúvida sobre como transporto os exemplos do vídeo para toda uma taça de comida... O meu cão não é possessivo com outros objetos apenas com a sua comida.

Relativamente ao facto de ele não se lembrar ou de não associar o xixi que fez durante a noite, já ouvi isso várias vezes. Muitas pessoas me disseram que, ou avisamos na hora ou o cão esquece-se. Ora, o cão não faz as coisas na nossa frente, naturalmente. Faz quando ninguém vê e por essa ordem de ideias então, não há solução para o habituar a fazer xixi noutro local? É que isto passou de esperar por ser levado à rua, para de vez em quando fazer na cozinha para agora nem na cozinha faz... De vez em quando faz mesmo nos sítios onde antes nunca fazia e tem especial apetência para fazer em sacos e coisas novas que estão no chão...
Mas ainda sobre o xixi e o facto de ele não associar as atitudes, eu vejo toda a atitude dele quando não faz nada durante a noite e quando faz, e isso parece-me que entra muito em contradição com o que me tem sido dito. Pois, quando ele sabe que fez coisas que não devia, ele não desce as escadas da casa para perto da zona onde fez o xixi, fica à porta dos quartos, onde costuma dormir. Nós chamamos e ele não vem ou então põe-se a tremer. Recusa mesmo ir para baixo. Mas se nós não vemos logo e fica tudo normal, ele vem na boa. Se reparamos mais tarde e se o chamamos para aquela zona... ele volta a evitá-la... Portanto, parecem-me sinais claros de que ele sabe o que fez ali muito bem :/

Outra coisa... horas depois de me ter mordido o dedo, eu fui ter com ele. Abanou-me a cauda como se nada fosse e ainda pôs as patas nas minhas pernas. Lambeu-me a mão que lhe mostrei. Mas quando lhe mostrei a outra mão e o dedo, como estava, ele desceu as patas de mim, parou de abanar a cauda e desviou o olhar. Nada mais. Isto ocorreu 6h depois da altura em que me mordera...

[Ressa]

Olá.

Ele não sabe o que se passou, apenas sabe que vocês estão a chama-lo com um tom de voz diferente e quando isso acontece, ele já sabe que vão zangar-se com ele.

Têm que atuar como se ele ainda fosse cachorro e estão a ensiná-lo a fazer fora de casa. Se ele gosta de comida, dão-lhe quando ele fizer fora de casa, ou brincam com ele e fazem uma grande festa.
Deixa decorrer +- 1 mês e avalia se diminuiu o nº de vezes que fez em casa.

Em relação à "posse" da comida, depende do nível em que está e aconselho a falares com um treinador. Mas, podes tentar algumas coisas. Experimenta durante algum tempo, sempre que te aproximas do prato dar-lhe mais comida. Está sempre presente enquanto ele come e x em x tempo dá-lhe mais. Ou seja, criar o habito da tua presença e associar a algo positivo.
Tenta avaliar se a reação dele melhorou ou não e nunca dês passos demasiado grandes, pois pode dar maus resultados.

Outra coisa, a educação deve ser sempre dada pelos 2. Como o Cesar diz, vocês é que são os lideres da matilha. O importante é chegarem a um acordo da forma como vão educar e qual a estratégia, apesar de ele se adaptar a cada um, tal e qual um criança que sabe a quem pedir o que a quem e com quem é que pode fazer algumas coisa.

[maraya]

Quanto à aplicação do vídeo, o objectivo é o cão confiar em si e perceber que ninguém lhe vai "roubar" a comida.
Aqui tem alguns exercícios que pode fazer com ele (se achar que não consegue ou que vai correr mal, procure a ajuda de um treinador!):
http://www.youtube.com/watch?v=i60q52DqIuc

Vá com calma, ele irá acabar por perceber e associar a sua presença enquanto come como algo positivo e não algo que o intimida.
Boa sorte