maraya Escreveu:
Uma palmada será um castigo positivo sim. Adicionamos (positivo) um estímulo (palmada)) aversivo de forma a tentar diminuir a frequência/repetição do comportamento (castigo)
Se a palmada deve ou não ser aplicada é a eterna discussão que aí anda... depende daquilo que avredita e do método de treino que considera adequado.
O reforço negativo é retiarar algo (geralmente aliviar o cão de um estímulo aversivo que está a ser aplicado no momento) de forma a aumentar a frequência de um comportamento.
Exemplos
Estamos a ensinar o cão a sentar exercendo força sobre os quartos traseiros do cão. O acto de aliviar a pressão quando o cão se senta é um R-
O cao tem uma estranguladora e está a puxar. O acto dessa pressão ser aliviada quando o cão faz o que pretendemos é um R-
O cão tem uma coleira de choques e nos não o queremos em cima do sofá e enquanto ele está lá em cima aplicamos o choque. O acto de parar o choque quando o cão desce do sofá eé um R- (este foi um pouco extremol mas acho que dá para entender melhor assim... sinceramente não m ocorre nenhum R- que não esteja associado a um C+ )
De facto, quando se treinam cães, é difícil sequer conceber a ideia de um Reforço Negativo (R+) sem a presença de Castigo Positivo (C+, ou P+), pela simples razão de que os cães estão sempre a agir, estão sempre a exibir comportamentos. Assim, a presença de um estímulo aversivo normalmente significa, na prática, o castigo do comportamento imediatamente anterior (mesmo que tal castigo surja inadvertidamente por quem o aplique).
No entanto, isso não acontece necessariamente. Lembremo-nos de que Reforço Negativo é a remoção de um estímulo aversivo, incómodo, não-desejável. Ora, um estímulo aversivo não é, necessariamente, um castigo (embora o seja na maior parte das vezes). Por exemplo, num treino em que se pretenda desenvolver um tipo de resposta do cão numa situação de pressão, introduzem-se estímulos que provocam essa pressão; mediante a reacção do cão, esse estímulo pode ser retirado e, assim, a reacção do cão é reforçada (R-). Ora, esse estímulo foi simplesmente apresentado para criar pressão e gerar um tipo de resposta; não foi nenhum castigo (que é uma
consequência para um comportamento), mas sim um "incitador", digamos assim (que é um
antecedente do comportamento).
Claro que depois entra aqui a discussão sobre esse estímulo-pressão funcionar ou não como castigo do comportamento imediatamente anterior (quanto a mim, só funcionaria como castigo se houvesse a coincidência, demasiado improvável, de o cão estar sempre a exibir o mesmo comportamento de cada vez que esse estímulo-pressão fosse apresentado, pois os reforços e os castigos têm efeitos tanto mais efectivos, como se sabe, se aplicados em repetição, e não isoladamente ou esporadicamente). Mas isso são já outros quinhentos.
Além disso, convém lembrar, a título de complemento à informação disponibilizada pela Maraya, que o Reforço Negativo (ao contrário dos outros três elementos do cond. operante) pode ser de dois tipos: escape ou evitamento (o famoso Escape/Avoidance). Se o escape a um estímulo negativo implica a presença desse mesmo estímulo, o evitamento funciona por antecipação à presença desse estímulo; ou seja, o cão sabe que, em determinadas circunstâncias (antecedente), surge um determinado tipo de estímulo de que ele não gosta (consequência); como tal, ele age de forma a
evitar essa consequência prevista (comportamento). Assim sendo, e mesmo que aceitássemos que qualquer estímulo aversivo é um Castigo Positivo, o caso de um Reforço Negativo por evitamento é o caso de um Reforço Negativo sem a presença,
efectiva, de Castigo Positivo.
Uma palmada será um castigo positivo sim. Adicionamos (positivo) um estímulo (palmada)) aversivo de forma a tentar diminuir a frequência/repetição do comportamento (castigo)
Já agora, Maraya, se me permite a discordância, uma palmada não é, necessariamente, um castigo positivo. A sua explicação, como é evidente, está correcta, mas está a partir do princípio de que uma palmada é um estímulo aversivo para o cão, o que, de acordo com o mundo real que eu conheço, nem sempre acontece.
Uma palmada no focinho será aversiva em dois cenários: se magoar o cão, ou se assumir uma forma de ameaça de algo pior que possa vir, vulgo, um susto. Magoar um cão com uma palmada no focinho é pouco provável, ou, quando muito, implicaria uma força considerável da parte do "agressor", o que, convenhamos, provavelmente iria aleijar mais o dono da mão que "palmou" do que o próprio cão (ou seja, era mais aversivo para o dono do que para o cão..., o famoso "doeu-me mais a mim do que a ti" ganha contornos literais no caso dos cães). Resta o cenário do "susto": a palmada serve como forma de "aviso", ou seja, a palmada sinaliza a possibilidade de consequências mais duras, o que
pode levar o cão a não repetir o comportamento (sendo certo que também
pode levar a outras coisas acessórias...). É mais na base do "susto" que uma palmada pode funcionar como castigo positivo de um comportamento específico. E, mais uma vez, apenas e só se o cão reconhecer na palmada um estímulo aversivo.
Quanto a mim, existe uma terceira hipótese para o "funcionamento" da palmada, e, estranhamente talvez, ela enquadra-se mais no contexto de um castigo negativo do que no contexto de um castigo positivo (embora goste de pensar que ela entra num cenário exterior ao condicionamento operante). Passo a explicar.
Quando a relação entre dono e cão é baseada na clareza de comunicação e na confiança (e isto não se faz em dois dias, pelo que a aplicabilidade de tudo isto a cachorritos de dois ou três meses é, simplesmente, abusiva), é muito fácil ir criando sinais que começam por ser "marcadores de não reforço" (no-reward marks, por exemplo o "não", ou "ãh-ãh), ou seja, indicam que não vai haver reforço positivo, sendo por isso castigo negativo. Com o tempo, esses mesmos sinais podem ser usados como marcadores de mau comportamento ou como interruptores de um comportamento. Dito de forma simples, com o desenvolver de uma relação de confiança e comunicação clara, e com o apuramento desses "marcadores", eu posso simplesmente usá-los como demonstração de desagrado perante um determinado comportamento.
Ora, da mesma forma que uso estes marcadores, e uma vez mais quando se estabeleceu uma relação de confiança e comunicação, posso usar uma série de elementos comunicativos para demonstrar desagrado. Dentro deste cenário, admito, com algumas reservas, que a famosa palmada entre neste rol de elementos comunicativos. E, aqui, a palmada não serve como castigo de um comportamento, desde logo porque, se o comportamento for "forte" (isto é, muito apelativo por si só), não é uma palmada que vai fazer reduzir ou extinguir esse comportamento. O que vai é fazer uma chamada de atenção momentânea.
Tanta coisa para dizer algo simples: o leque comunicacional entre dono e seu cão não se esgota no condicionamento operante, e nem tudo é legível dentro de uma perspectiva de reforço ou castigo. Embora, claro, essa seja a base de aprendizagem comportamental de um cão, e é muito importante que essa base, pelo menos nos seus fundamentos, seja compreendida, para se evitar abordagens desajustadas.