Bom... já agora aproveito e compartilho convosco o mail que igualmente enviei ao senhor. Penso que este já era do conhecimento do Gonçalo... de outras "andanças"
[quote]Exmo. Sr.
Com base na notícia da autoria de V. Exa. constante no site do canal de televisão SIC, datada do passado dia 1 de Fevereiro de 2005, tendo como tema central a questão de “cães perigosos”, venho por este meio manifestar a minha discordância, e até a minha estupefacção, perante alguns dos pontos focados, reveladores de uma impressionante parcialidade e até sensacionalismo que muito me espantam por não serem – até à data – apanágio da linha editorial e orientação jornalística que, quer V. Exa., quer a estação que representa, nos habituaram.
É com tristeza e mesmo indignação que constato que também a SIC recorre ao jornalismo “tablóide” e sensacionalista a que um outro canal televisivo nos tem habituado, como forma de atingir um maior leque de audiências sem, contudo, respeitar um dos princípios básicos – julgo eu – do jornalismo sério, credível e imparcial; o reunir de todos os factos e a confirmação da veracidade dos mesmos.
“(…)São cinco da tarde e há de tudo um pouco: famílias vestidas a rigor para uma saída ao fim-de-semana, pais com bebés no carrinho, cicloturistas em grupo, pais que aproveitam o dia para andar de bicicleta com os miúdos, atletas que correm à beira-rio, cães atrelados aos donos. Cães de todos os tipos e feitios - leia-se raças -, entre eles os temíveis Pit Bull's e Rottweiller's.”
1. V. Exa. inicia (praticamente) o seu artigo com uma generalização de “mau-gosto” relativamente a duas das raças já amplamente estigmatizadas por uma “ignorante”, preconceituosa e infundamentada lei. Já são suficientes as mais estapafúrdias “teorias” que vigoram hoje em dia fomentadas em mitos, no desconhecimento absoluto da opinião pública acerca das raças em questão, para o qual tem contribuído em muito o papel (infeliz) da generalidade da comunicação social portuguesa.
Conforme V. Exa. saberá (quero acreditar que isso, ao menos, terá verificado) a lei vulgarmente conhecida por “Lei das raças perigosas” enumera especificamente 7 raças e/ou cruzamentos destas. A saber:
• American Pitbull Terrier
• American Staffordshire Terrier
• Staffordshire Bull Terrier
• Dogo Argentino
• Cão de Fila Brasileiro
• Rottweiller
• Tosa Inu
Esta lei estigmatiza indevidamente raças, levantando a falsa questão de que a agressividade de um determinado cão está, invariavelmente associado à sua raça, como se de um comportamento unicamente genético se tratasse. Nada mais errado,
Existem, isso sim, cães enquanto indivíduos, independentemente da sua raça, agressivos. Não poucas vezes (senão mesmo todas!) motivadas pelo incentivo e/ou negligência dos donos e responsáveis pelos mesmos. E este é o cerne da questão que a comunicação social teima em não divulgar – provavelmente o impacto junto da opinião pública não será tão relevante. Um cão reflectirá no seu comportamento quer o seu carácter individual quer o comportamento genérico da sua espécie, e a sociabilização/educação a que foi sujeito ao longo do seu desenvolvimento.
Não que se pretenda negar que existem sim, de facto, ataques intoleráveis de cães – sim, eles existem. Mas apure-se quais as suas origens e motivações sem que se tente arranjar “bodes expiatórios” que, em ultima instância, acabam também eles por serem vitimas dessa estigmatização generalizada que actualmente se faz. Apure-se e responsabilize-se os reais responsáveis por tais situações; os donos dos cães agressivos.
É óbvio que, qualquer um destes cães (e outros como os Serra da Estrela, os Mastins, Boxers, Dobermanns, e mesmo Retrievers do Labrador, Terra Nova, etc.) se em mãos irresponsáveis e erradas poderão representar em situações extremas um potencial perigo, quer para o próprio dono e família, quer para outros animais e estranhos.
2. A base de sustentação desta lei, simplesmente não existe. Já não mencionando o facto de o American Pitbull Terrier não ser reconhecido oficialmente como raça, apenas poderia dizer que a lista atinge o cúmulo de incluir algumas raças que são utilizadas, por exemplo, pelas forças de segurança e salvamento de vários países (Rottweiller), raças que vulgarmente são conhecidas por “nanny-dog” (Staffordshire Bull Terrier) devido ao carácter excepcionalmente bom que apresentam com todas as crianças, machos da raça inclusive, e até uma raça (Tosa Inu) de que em Portugal, oficialmente, apenas se tem registo de um (1) exemplar!
“(…)Estamos a falar de cães que com uma única dentada podem destruir um membro em menos de nada. A mandíbula funciona como uma prensa. Dizem os entendidos que a "pressão" pode provocar o efeito de uma tonelada - esmagamento imediato garantido.”
São estas passagens, p.e., do artigo de V. Exa. que levam a qualifica-lo de jornalismo sensacionalista e irresponsável. Quantas pessoas terão lido esta passagem e a tomam como verdadeira?! Há que haver bom-senso!
Que supostos “entendidos” serão estes que V. Exa. cita? Quais as suas credenciais?
V. Exa. se se desse ao trabalho de verificar por exemplo qual a pressão exercida pelas mandíbulas de um animal selvagem de grande porte como, p.e., um Tubarão-Branco, um Crocodilo Australiano, um Leão, ou um Tigre, saberia automaticamente que tal afirmação é descabida, ridícula e sem senso!
“Os Pit Bull's e Rotweiller's, só para referir as raças mais comuns, têm uma força descomunal, ninguém - nem mesmo os donos - conseguirá segurá-los em caso de fúria súbita. Os cães não hesitarão em morder tudo o que encontrarem pela frente de forma impiedosa e destruidora.”
Dependo do dono do animal, o que nos leva novamente para a questão de que a responsabilização deverá ocorrer única e exclusivamente sobre este. Em primeiro lugar, um dono responsável – de qualquer cão, de qualquer raça, porque é o que diz a lei – não passeará na via pública com o seu cão sem este estar devidamente acondicionado por uma trela de comprimento e resistência adequados. Segundo, por dono responsável, entendesse aquele que tem o seu cão minimamente sociabilizado e controlado para prevenir que tais situações ocorram e, na eventualidade de estas ocorrerem, devido ao acondicionamento correcto do cão pela trela e pela correcta “educação”, facilmente dominar o animal em questão. Aqui está – e concordo com V.Exa. – a referir-se a quem nitidamente possuí determinado cão por questões de aceitação/afirmação social e é, claramente, inadequado para possuir um animal com determinadas características. Contudo, volto a frisar, dever-se-á “combater” a facilidade com que tais indivíduos possuem esses animais e não a raça em si.
Se, por um lado, tais elementos contribuem e muito o denegrir da imagem que a opinião pública tem das raças em questão, não é menos real as responsabilidades que a comunicação social também possui nesta matéria como veiculo de desinformação, sensacionalista e que está a tomar uma postura de amplificação de falsas questões ao invés de, como lhe compete, procurar informar, clarificar e divulgar a informação correcta.
Espero, que V. Exa. e/ou a SIC tenham sido sensibilizados para esta problemática e que a curto-prazo faça parte dos vossos planos a publicação de uma peça jornalística credível que ajude, de uma vez por todas, a clarificar os “mitos” que têm sido criados em redor destas (e doutras) raças nos últimos anos. Caso assim o entendam como espero e desejo, facultarei com todo o prazer todos os contactos que possuir (com a devida autorização das pessoas em questão) de pessoas e/ou entidades de créditos firmados e reconhecidos para esclarecimentos relativamente às raças mencionadas.
Sem outro assunto de momento, despeço-me apresentando as mais cordiais saudações,
Sérgio Tavares
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