
Até que um dia alguém se lembrou de amarrar a esta estaca uma corda, uma corda não muito grande, mas que fosse suficiente para quebrar a solidão da estaca.

Então lá ficaram as duas, a estaca e a corda, também elas expostas á mercê da Mãe Natureza….. mas a solidão continuou a ser uma constante, talvez agora partilhada a dois, mas não deixava de ser uma solidão.
Eis que, surge a brilhante ideia de colocar no outro extremo da corda algo que definitivamente iria quebrar a solidão e a monotonia…..
Uma Cadela, um lindíssimo animal, diga-se em abono da verdade.

Então, com o passar do tempo, muitas outras coisas se reuniram em volta deste trio…
Um bidon

Um balde

Mais uns quantos apetrechos

Enfim, a solidão tinha finalmente sido quebrada… já não existia nem sequer a monotonia….
Agora existia sim, muito movimento, talvez movimento demais… movimento constante provocado por uma busca incessante de alimento que teimava em não chegar, de uma gota de água, que nem do céu queria cair.
Reinava um clima de alegria… mas, partilhado apenas pela velha estaca, pela corda e pelos restantes amigos, que formavam um conjunto harmonioso de uma qualquer lixeira, da qual se destacava apenas e só, um ser vivo que necessitava de algo mais…..
Um carinho, uma companhia...

E ela lá está, á espera que alguém lhe estenda a mão, que lhe abra os braços, que lhe dê o direito a uma vida digna…. Que lhe retire a tristeza no olhar.
Foi com este olhar que me despedi dela, talvez até amanhã, até à próxima gota de água, até ao próximo punhado de comer.

Dizer mais do que aquilo que este olhar diz, é impossível, ele é o reflexo daquilo que este animal necessita urgentemente…. Alguém que o acolha e que não o obrigue a esperar pela gota de água que, se um dia cair do céu, não lhe matará a sede, apenas lhe inundará o buraco onde dorme.