Não estou, por exemplo, nada de acordo com esta afirmação. Na verdade, há na prática uma diferenciação grande entre as duas linhas, e basta ver quantos PAs de linhas de beleza aparecem no topo das classificações da BSP, do mesmo modo que podemos ver que os exemplares de trabalho se ficam pelos últimos lugares da BSZS... No que concerne à aptidão para o trabalho, podemos ainda perguntar por que motivo os competidores de trabalho seleccionam os exemplares com que competem quase exclusivamente entre as linhas de trabalho... será porque são todos parvos, ou será porque essas linhas são as que lhes oferecem maiores garantias de um temperamento adequado?Perante o exposto é totalmente falso e injusto fazer a diferenciação de linhas de trabalho e beleza,
Eu não digo que entre as linhas de beleza não haja animais de forte carácter, atenção! O que digo é que estas linhas, cada vez mais fechadas em torno de Jeck v. Noricum, produzem com uma frequência indesejável exemplares de temperamento duvidoso. Lembro-me de uma sieger espanhola recente, em que metade das fêmeas da classe de trabalho não morderam na prova de coragem - e como se sabe todas nesta classe tinham que ter prova de trabalho feita, portanto e à partida não lhes faltou o treino. Ora, sabendo nós que as cargas dos figurantes nestas provas de coragem são bastante suaves, acho que nos devemos interrogar acerca das causas pelas quais isso se verifica...
Poderá, evidentemente, haver pouca preparação dos exemplares para esse tipo de provas... Mas eu estou em crer que a maior causa reside na selecção feita pelos criadores destas linhas que, na ânsia de conseguir a anatomia perfeita, subalternizam muitas vezes a selecção de um carácter forte, valorizando quase exclusivamente as características anatómicas.
Para mim, dentro das linhas de beleza, a questão mais importante que se põe de momento é: como melhorar o temperamento? Para mim, a solução teria que ser implementada a partir dos clubes de raça, com medidas do tipo:
- permitir que apenas exemplares com prova de trabalho e classificação de MB nessas provas pudessem procriar. Tendencialmente apontar para que no futuro apenas exemplares com o grau 3 o pudessem fazer.
- modificar os regulamentos das exposições monográficas, tornando obrigatória nestas uma prova de coragem.
Como este será sempre um caminho muito progressivo, e portanto demorado, cabe aos criadores ter em atenção, no momento de criar, que o temperamento dos exemplares a cruzar seja equilibrado e conforme ao standard, procurando reprodutores com forte carácter.
De igual modo acho que é uma alternativa a considerar o outcross com linhas de trabalho, embora com os riscos que anteriormente apontei.
Assim como concordo com o Marlid em que é necessário criar condições para que os criadores possam desenvolver nos seus cães, sem custos excessivos, as qualidades psicológicas que todos queremos num PA. A ete propósito, e porque sei que é de Aveiro, devo dizer que eu, de momento, me desloco a essa cidade 1 vez por semana para treinar os meus cães - são 400 km de viagem com os encargos financeiros inerentes, o que realmente não é fácil. Se quiser aparecer por lá, terei muito gosto em conversar consigo sobre este e outros temas que nos apaixonam - sábados de manhã, no campo de trabalho do sr. Armando Fonseca, em Sobreiro- Albergaria (faça calor, frio ou chuva...). Teria muito gosto em conhecê-lo pessoalmente.
Quero com tudo isto dizer que as linhas de trabalho não transportam defeitos graves? Nada disso. Na minha opinião, têm também graves problemas a resolver, como as de beleza. Se a discussão o proporcionar, darei os meus pontos de vista a esse respeito mais tarde.
Cumprimentos a todos.
José Carlos