A frase do dia...
Moderador: mcerqueira
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Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?
(Fernando Pessoa)
(Fernando Pessoa)
Os Boxers são frequentemente descritos como os filósofos entre os cães, talvez porque às vezes parecem sonhadores e distraídos.
O que vou postar a seguir não é uma frase, mas creio que vale a pena ler (embora longo), infelizmente é um retrato fiel do que assitimos todos os dias
História D'um Cão
Eu tive um cão. Chamava-se Veludo;
Magro, asqueroso, revoltante, imundo;
Para dizer numa palavra tudo
Foi o mais feio cão que houve no mundo.
Recebi-o das mãos d'um camarada
Na hora da partida. O cão gemendo
Não me queria acompanhar por nada :
Enfim - mau grado seu - o vim trazendo.
O meu amigo cabisbaixo, mudo,
Olhava-o ... o sol nas ondas se abismava ...
"Adeus" - me disse -, e ao afagar Veludo
Nos olhos seus o pranto borbulhava.
"Trata-o bem. Verás como rasteiro
Te indicará os mais sutis perigos;
Adeus ! E que este amigo verdadeiro
Te console no mundo ermo de amigos."
Veludo a custo habituou-se à vida
Que o destino de novo lhe escolhera;
Sua rugosa pálpebra sentida
Chorava o antigo dono que perdera.
Nas longas noites de luar brilhante,
Febril, convulso, trêmulo, agitando
A sua cauda - caminhava errante
À luz da lua - tristemente uivando.
Toussenel, Figuier e a lista imensa
Dos modernos zoológicos doutores
Dizem que o cão é um animal que pensa :
Talvez tenham razão estes senhores.
Lembro-me ainda. Trouxe-me o correio,
Cinco meses depois, do meu amigo
Um envelope fartamente cheio :
Era uma carta. Carta ! Era um artigo
Contendo a narração miúda e exata
Da travessia. Dava-me importantes
Notícias do Brasil e de la Plata
Falava em rios, árvores gigantes :
Gabava o "steamer" que o levou; dizia
Que ia tentar inúmeras empresas :
Contava-me também que a bordo havia
Mulheres joviais - todas francesas.
Assombrava-se muito da ligeira
Moralidade que encontrou a bordo :
Citava o caso duma passageira ...
Mil cousas mais do que me não recordo.
Finalmente, por baixo disso tudo
Em nota bene do melhor cursivo
Recomendava o pobre do Veludo
Pedindo a Deus que o conservasse vivo.
Enquanto eu lia, o cão tranqüilo e atento
Me contemplava, e - creia que é verdade -
Vi, comovido, vi nesse momento
Seus olhos gotejarem de saudade.
Depois lambeu-me as mãos humildemente,
Estendeu-se a meus pés silencioso
Movendo a cauda - e adormeceu contente
Farto d'um puro e satisfeito gozo.
Passou-se o tempo. Finalmente um dia
Vi-me livre daquele companheiro;
Para nada Veludo me servia,
Dei-o à mulher d'um velho carvoeiro.
E respirei ! "Graças a Deus ! Já posso"
Dizia eu "viver neste bom mundo
Sem Ter que dar diariamente um osso
A um bicho vil, a um feio cão imundo."
Gosto dos animais, porém prefiro
A essa raça baixa e aduladora
Um alazão inglês, de sela ou tiro,
Ou uma gata branca cismadora.
Mal respirei, porém ! Quando dormia
E a negra noite amortalhava tudo,
Senti que à minha porta alguém batia :
Fui ver quem era. Abri. Era Veludo.
Saltou-me às mãos, lambeu-me os pés ganindo,
Farejou toda a casa satisfeito;
E - de cansado - foi rolar dormindo
Como uma pedra, junto do meu leito.
Praguejei furioso. Era execrável
Suportar esse hóspede inoportuno
Que me seguia como o miserável
Ladrão, ou como um pérfido gatuno.
E resolvi-me enfim. Certo, é custoso
Dizê-lo em alta voz e confessá-lo :
Para livrar-me desse cão leproso
Havia um meio só : era matá-lo.
Zunia a asa fúnebre dos ventos;
Ao longe o mar na solidão gemendo
Arrebentava em uivos e lamentos ...
De instante a instante ia o tufão crescendo.
Chamei Veludo; ele seguiu-me. Entanto
A fremente borrasca me arrancava
Dos frios ombros o revolto manto
E a chuva meus cabelos fustigava.
Despertei um barqueiro. Contra o vento,
Contra as ondas coléricas vogamos;
Dava-me força o torvo pensamento :
Peguei num remo - e com furor remamos.
Veludo à proa olhava-me choroso
Como o cordeiro no final momento.
Embora ! Era fatal ! Era forçoso
Livrar-me enfim desse animal nojento.
No largo mar ergui-o nos meus braços
E arremessei-o às ondas de repente ...
Ele moveu gemendo os membros lassos
Lutando contra a morte. Era pungente.
Voltei a terra, - entrei em casa. O vento
Zunia sempre na amplidão, profundo.
E pareceu-me ouvir o atroz lamento
De Veludo nas ondas moribundo.
Mas ao despir dos ombros meus o manto
Notei - oh grande dor ! - haver perdido
Uma relíquia que eu prezava tanto !
Era um cordão de prata : - eu tinha-o unido
Contra o meu coração constantemente
E o conservava no maior recato,
Pois minha mãe me dera essa corrente
E, suspenso à corrente, o seu retrato.
Certo caíra além no mar profundo,
No eterno abismo que devora tudo;
E foi o cão, foi esse imundo
A causa do meu mal ! Ah! se Veludo
Duas vidas tivera - duas vidas
Eu arrancara àquela besta morta
E àquelas vis entranhas corrompidas.
Nisto senti uivar à minha porta.
Corri - abri ... Era Veludo ! Arfava :
Estendeu-se a meus pés, - e docemente
Deixou cair da boca que espumava
A medalha suspensa da corrente.
Fora crível, oh Deus ? - Ajoelhado
Junto do cão - estupefato, absorto,
Palpei-lhe o corpo : estava enregelado;
Sacudi-o, chamei-o ! Estava morto.
Por Luis Guimarães
Quem me dera ter uma varinha de condão para transformar certas coisas ...


História D'um Cão
Eu tive um cão. Chamava-se Veludo;
Magro, asqueroso, revoltante, imundo;
Para dizer numa palavra tudo
Foi o mais feio cão que houve no mundo.
Recebi-o das mãos d'um camarada
Na hora da partida. O cão gemendo
Não me queria acompanhar por nada :
Enfim - mau grado seu - o vim trazendo.
O meu amigo cabisbaixo, mudo,
Olhava-o ... o sol nas ondas se abismava ...
"Adeus" - me disse -, e ao afagar Veludo
Nos olhos seus o pranto borbulhava.
"Trata-o bem. Verás como rasteiro
Te indicará os mais sutis perigos;
Adeus ! E que este amigo verdadeiro
Te console no mundo ermo de amigos."
Veludo a custo habituou-se à vida
Que o destino de novo lhe escolhera;
Sua rugosa pálpebra sentida
Chorava o antigo dono que perdera.
Nas longas noites de luar brilhante,
Febril, convulso, trêmulo, agitando
A sua cauda - caminhava errante
À luz da lua - tristemente uivando.
Toussenel, Figuier e a lista imensa
Dos modernos zoológicos doutores
Dizem que o cão é um animal que pensa :
Talvez tenham razão estes senhores.
Lembro-me ainda. Trouxe-me o correio,
Cinco meses depois, do meu amigo
Um envelope fartamente cheio :
Era uma carta. Carta ! Era um artigo
Contendo a narração miúda e exata
Da travessia. Dava-me importantes
Notícias do Brasil e de la Plata
Falava em rios, árvores gigantes :
Gabava o "steamer" que o levou; dizia
Que ia tentar inúmeras empresas :
Contava-me também que a bordo havia
Mulheres joviais - todas francesas.
Assombrava-se muito da ligeira
Moralidade que encontrou a bordo :
Citava o caso duma passageira ...
Mil cousas mais do que me não recordo.
Finalmente, por baixo disso tudo
Em nota bene do melhor cursivo
Recomendava o pobre do Veludo
Pedindo a Deus que o conservasse vivo.
Enquanto eu lia, o cão tranqüilo e atento
Me contemplava, e - creia que é verdade -
Vi, comovido, vi nesse momento
Seus olhos gotejarem de saudade.
Depois lambeu-me as mãos humildemente,
Estendeu-se a meus pés silencioso
Movendo a cauda - e adormeceu contente
Farto d'um puro e satisfeito gozo.
Passou-se o tempo. Finalmente um dia
Vi-me livre daquele companheiro;
Para nada Veludo me servia,
Dei-o à mulher d'um velho carvoeiro.
E respirei ! "Graças a Deus ! Já posso"
Dizia eu "viver neste bom mundo
Sem Ter que dar diariamente um osso
A um bicho vil, a um feio cão imundo."
Gosto dos animais, porém prefiro
A essa raça baixa e aduladora
Um alazão inglês, de sela ou tiro,
Ou uma gata branca cismadora.
Mal respirei, porém ! Quando dormia
E a negra noite amortalhava tudo,
Senti que à minha porta alguém batia :
Fui ver quem era. Abri. Era Veludo.
Saltou-me às mãos, lambeu-me os pés ganindo,
Farejou toda a casa satisfeito;
E - de cansado - foi rolar dormindo
Como uma pedra, junto do meu leito.
Praguejei furioso. Era execrável
Suportar esse hóspede inoportuno
Que me seguia como o miserável
Ladrão, ou como um pérfido gatuno.
E resolvi-me enfim. Certo, é custoso
Dizê-lo em alta voz e confessá-lo :
Para livrar-me desse cão leproso
Havia um meio só : era matá-lo.
Zunia a asa fúnebre dos ventos;
Ao longe o mar na solidão gemendo
Arrebentava em uivos e lamentos ...
De instante a instante ia o tufão crescendo.
Chamei Veludo; ele seguiu-me. Entanto
A fremente borrasca me arrancava
Dos frios ombros o revolto manto
E a chuva meus cabelos fustigava.
Despertei um barqueiro. Contra o vento,
Contra as ondas coléricas vogamos;
Dava-me força o torvo pensamento :
Peguei num remo - e com furor remamos.
Veludo à proa olhava-me choroso
Como o cordeiro no final momento.
Embora ! Era fatal ! Era forçoso
Livrar-me enfim desse animal nojento.
No largo mar ergui-o nos meus braços
E arremessei-o às ondas de repente ...
Ele moveu gemendo os membros lassos
Lutando contra a morte. Era pungente.
Voltei a terra, - entrei em casa. O vento
Zunia sempre na amplidão, profundo.
E pareceu-me ouvir o atroz lamento
De Veludo nas ondas moribundo.
Mas ao despir dos ombros meus o manto
Notei - oh grande dor ! - haver perdido
Uma relíquia que eu prezava tanto !
Era um cordão de prata : - eu tinha-o unido
Contra o meu coração constantemente
E o conservava no maior recato,
Pois minha mãe me dera essa corrente
E, suspenso à corrente, o seu retrato.
Certo caíra além no mar profundo,
No eterno abismo que devora tudo;
E foi o cão, foi esse imundo
A causa do meu mal ! Ah! se Veludo
Duas vidas tivera - duas vidas
Eu arrancara àquela besta morta
E àquelas vis entranhas corrompidas.
Nisto senti uivar à minha porta.
Corri - abri ... Era Veludo ! Arfava :
Estendeu-se a meus pés, - e docemente
Deixou cair da boca que espumava
A medalha suspensa da corrente.
Fora crível, oh Deus ? - Ajoelhado
Junto do cão - estupefato, absorto,
Palpei-lhe o corpo : estava enregelado;
Sacudi-o, chamei-o ! Estava morto.
Por Luis Guimarães
Quem me dera ter uma varinha de condão para transformar certas coisas ...




<p>Tartaruga Aquática Fórum - <a href="http://tartarugaaquatica.forumup.com/"> ... om/</a></p>
<p>Vejam os animais para adopção!
</p>
<p> </p>
<p>Vejam os animais para adopção!

<p> </p>
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- Membro Veterano
- Mensagens: 15817
- Registado: quarta fev 18, 2004 9:40 pm
- Localização: 6cães e animais de quinta
Aquilo a que a lagarta chama fim do mundo, o homem chama borboleta.
(Richard Bach)

(Richard Bach)

Os Boxers são frequentemente descritos como os filósofos entre os cães, talvez porque às vezes parecem sonhadores e distraídos.
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- Membro Veterano
- Mensagens: 3202
- Registado: quarta jan 25, 2006 11:35 am
- Localização: cão
Algumas pessoas faz antes, pensam depois e então se arrependem para sempre.
autor desconhecido
autor desconhecido
<p>susana</p>
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- Membro Veterano
- Mensagens: 15817
- Registado: quarta fev 18, 2004 9:40 pm
- Localização: 6cães e animais de quinta

Os Boxers são frequentemente descritos como os filósofos entre os cães, talvez porque às vezes parecem sonhadores e distraídos.

Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremesse.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.
O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.
Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Porque fiz eu dos sonhos
A minha única vida?
Fernando Pessoa

<p>Tartaruga Aquática Fórum - <a href="http://tartarugaaquatica.forumup.com/"> ... om/</a></p>
<p>Vejam os animais para adopção!
</p>
<p> </p>
<p>Vejam os animais para adopção!

<p> </p>
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- Membro Veterano
- Mensagens: 15817
- Registado: quarta fev 18, 2004 9:40 pm
- Localização: 6cães e animais de quinta

Os Boxers são frequentemente descritos como os filósofos entre os cães, talvez porque às vezes parecem sonhadores e distraídos.
-
- Membro
- Mensagens: 127
- Registado: sexta ago 19, 2005 12:50 am
- Localização: 2 cadelas Lara(lab) e Alfa(rott) e 1 tartaruga
o amor é como a relva na pradaria cresce um pouquinho todos os dias....mas depois vem sempre uma vaca e estraga tudo