domingo ago 13, 2006 7:04 pm
Penso que a ideia do fórum é discutir e passar informação útil para todos, seria bom que quando se fala de um assunto se use verdade e não se fique por meias palavras.
Já na altura e noutro post mostrei ao Kroz que o tal método “Alemão” que parece ter sido inventado por um português e que ele tanto apregoa mas não explica não é mais que o método “forçado”.
Quanto á opinião do Kroz sobre treino de cães parece que retrocedemos 10 anos!
Quando se compara o treino de obediência básica com o treino para competição e se diz mal da competição fala-se sem razão!.
E passo a explicar, quem decide competir ou não é o dono, e se decidir competir é porque certamente já adqiriu conhecimentos para treinar o seu cão sózinho e o seu cão já tem um nivel de obediência básica que lhe permita tentar fazer melhor e ao mesmo tempo encontrar motivação adicional para continuar a interagir com o cão durante a vida deste.
Ninguém conseguirá bons resultados nas modalidades de desporto canino (obediência, rci, mondioring, agility etc.) se não tiver boa ligação com o seu cão.
Quando se comparam métodos de treino (não a falta de jeito) deve-se observar se o cão trabalha com alegria ou “quebrado”.
Qualquer cão que tenha sido bem treinado na dita “obediência de companhia” que eu não sei o que é, pode participar numa ou mesmo várias modalidades de desporto canino.
Se na verdade alguém tem ou desenvolveu uma forma nova de condicionar os cães deverá divulgá-la e deixar quem receber essa informação o livre arbítrio de a usar ou não.
Dizer mal de outras “escolas” dizer mal de outros métodos de treino não é correcto e não é de ajuda para ninguém.
Que eu saiba não existem no país escolas que treinem cães só para uma modalidade de desporto canino e todas começam por ensinar obediência básica e só depois a modalidade que o dono escolheu.
Falar sobre desportos caninos como não produzindo bons cães para o dia a dia também não ajuda ninguém, lembro que é exactamente nas várias modalidades desportivas que existem cães com melhor treino de obediência, o que não quer dizer que não exista o contrário, tal como das universidades não saem só “crânios”.
Pensem em quem não sabe nada sobre esta matéria como ficará ao ler tudo o que se tem escrito neste tópico, certamente ficará com uma grande confusão na cabeça.
Sempre que se fala sobre “métodos” de treino levanta-se sempre polémica , fala-se de escolas, competição etc.
Contudo esquecemo-nos de falar nos resultados obtidos com os respectivos métodos, e os motivos porque que alguem decide treinar um cão.
A maior parte da vezes as pessoas apenas querem resolver problemas de comportamento, outros acham bonito o cão sentar deitar etc. apenas uma minoria deseja treinar o cão a pensar no seu (do cão) bem estar.
Os cães são animais extremamente sociáveis (ainda mais que o Homem). Como tal sentem uma imensa necessidade de comunicar com os seus donos. 0 problema é que os cães não entendem a linguagem humana. Compete ao Homem aproximar-se do cão, ensinando-lhe uma simbologia com significado para ambos.
Na natureza, nada na vida é de graça. Para comer é preciso caçar, para sobreviver é preciso escapar a predadores e evitar situações de perigo. Para se reproduzir é necessário lutar por uma posição de supremacia hierárquica.
Em absoluto contraste com a vida dos lobos, muitos dos cães de companhia “vegetam” no conforto da casa dos donos, sem nada para fazer. Desesperados, estes cães procuram algum estímulo destruindo os objectos que encontram, de preferência os preferidos do seu dono porque são estes que normalmente mais concentram o odor daquele. E com a idade, a maior parte destes cães acabam tristes e obesos, permanentemente deitados pelos cantos da casa.
Tal como o Homem, os cães precisam de actividade física e mental sob a forma de estímulos que desenvolvam a sua inteligência. Ao treinar com o seu cão, o dono está simultaneamente a comunicar com ele e a confrontá-lo com situações problemáticas que ele terá que resolver. Neste sentido, qualquer tipo de treino (desde que correctamente implementado) é extremamente benéfico para os cães.
Para aqueles que não pretendem treinar os seus cães a nível profissional ou de competição, alguns conselhos...
- todo o cão deve conhecer os comandos para sentar, deitar e ficar
- todo o cão deve responder à chamada do dono
- sobre esta obediência básica o dono poderá facilmente criar uma variedade de jogos que vão contribuir para o bem-estar físico e emocional de ambos.
Como já disse o principal objectivo de treinar um cão deveria ser proporcionar bem-estar físico e mental ao dito.
Qualquer tipo de treino bem implementado proporciona actividade física e mental sobre a forma de estímulos que desenvolvem a sua inteligência.
Se me permitem gostaria de dar algumas dicas sobre o porquê de recompensar os cães durante o ensino.
Os animais aprendem por habituação, observação e imitação, e condicionamento.
As duas primeiras formas de aprendizagem (habituação, observação e imitação) ocorrem independentemente da intervenção humana directa, enquanto o condicionamento é a principal via pela qual podemos ensinar os nossos cães.
O condicionamento resulta da associação entre dois estímulos.
Distinguem-se dois tipos de condicionamento, o clássico e o instrumental.
O condicionamento clássico refere-se apenas a comportamentos involuntários (regulados pelo sistema nervoso autónomo).
Exemplo:
Um cão ouve repetidamente barulho de tachos de metal imediatamente antes de comer; em consequência começa a salivar cada vez que ouve barulho de metais.
O condicionamento instrumental diz respeito a respostas motoras voluntárias.
Exemplo:
O cão associa o som “senta” ao acto de sentar.
A aprendizagem por condicionamento instrumental baseia-se na seguinte sequência: estímulo (som “senta”) reacção (acto de sentar) reforço (recompensa).
O reforço pode ser positivo ou negativo.
Reforço positivo é aplicação de um estímulo a que se segue uma resposta por parte do animal e que aumenta a probalidade dessa resposta voltar a ocorrer. Normalmente o reforço positivo é uma recompensa.
Reforço negativo é um estímulo aversivo e desagradável, que quando removido aumenta a probalidade de o comportamento voltar a ocorrer.!!
Com o reforço negativo o animal fica motivado para realizar um comportamento associado com a fuga de uma situação desagradável. Por exemplo, o uso da coleira de estrangulamento tem por objectivo funcionar como reforço negativo, ao evitar a sensação de estrangulamento. No entanto, este reforço só funciona quando o animal puxa.
Quando puxadas de sacão pelos donos, as coleiras estranguladoras estão a punir os cães e podem, em casos de uso repetido, dar origem a lesões na traqueia, no esófago, na medula espinal cervical (doberman e pastores belgas) e até mesmo nos olhos (Husky e Collies).
A punição é a aplicação de um estímulo aversivo que, quando associado a um comportamento, reduz a sua motivação. Punições excessivas levam a alterações emocionais graves que incluem agressividade defensiva, inibição da capacidade de aprender e por último um estado de indiferença ao ambiente (“animais teimosos”).
A punição não ensina realmente o animal como se deve comportar e, apesar de aparentemente dar resultados imediatos, leva muitas vezes ao aparecimento de comportamentos indesejados.
Apesar de o reforço negativo ser, em teoria, completamente distinto da punição, a diferença pode nem sempre ser clara na prática. Devido aos riscos de aplicação incorrecta quer de reforço negativo quer de punição, estes métodos devem ser evitados
O reforço positivo pode ser...
- comida
- brincadeira com o dono
- contacto físico ou verbal com o dono (festa/ “bonito cão”)
- posse de um objecto
- brincadeira com outros cachorros (só até aos 6 meses)
O reforço positivo...
deve ser adequado a cada cão (procurar o mais eficaz para cada cão) é mais efectivo se o animal for privado dele fora do treino (saciedade) deve ser aplicado imediatamente (<1 segundo) após a realização do comportamento desejado
Esquemas de reforço:
O animal aprende mais rápido se de cada vez que ele executar um comportamento, for recompensado (reforço contínuo). Este método é bom nas fases iniciais de treino. No entanto, à medida que o cão aprende cada exercício deve-se, progressivamente passar ao reforço intermitente com ratio variável (de modo que o cão não consiga prever quando vai ou não vai haver recompensa). Os esquemas de reforço intermitente resultam em comportamentos mais difíceis de extinguir e mais consistentes, enquanto que cães treinados durante muito tempo com reforço contínuo. tendem a esquecer o comportamento assim que deixa de haver reforço. É também muito importante “dosear” os reforços. Por exemplo, a comida deve ser rapidamente substituída por uma festa como reforço de uma resposta simples como é o senta enquanto se deve usar durante mais tempo um reforço forte (comida) para exercício mais complexos.
Para aprendizagem de comportamentos mais complexos, começa-se por reforçar um comportamento que é diferente mas semelhante ao desejado. Sucessiva e progressivamente reforçam-se respostas cada vez mais próximas do desejado. Sempre que possível, o comportamento complexo deve ser decomposto em exercícios parciais treinados independentemente
Entre as condições que mais frequentemente afectam a aprendizagem contam-se a excitação e a ansiedade.
Para cães muito excitados há que dosear e adaptar os reforços.
Cães que se recusam a comer no campo de treinos estão ansiosos. Há que os pôr à vontade no campo: com cães selecionados ou sozinhos, deixá-los brincar e descontrair. Em casos mais complicados, há que prever situações que vão causar ansiedade ao cão (normalmente ele olha aflito para o dono a perguntar o que deve fazer) e dar uma ordem (por ex, deitar e a seguir recompensar com festa ou comida). Quando não é possível prever a situação (sobretudo em casa), ignorar o cão enquanto ele manifesta um comportamento indesejado. Em seguida dar uma ordem (sentar ou deitar) e recompensar.
!! O contrário de recompensar é ignorar, não é punir!!
Clicker
É no timing do reforço do comportamento que o clicker pode ser útil.
Ao combinar o click com um reforço positivo por exemplo comida o cão vai associar o som a uma recompensa, deste modo o som emitido pelo clicker funciona como um reforço condicionado do reforço primário (comida), o que nos vai permitir recompensar o comportamento desejado no tempo certo mesmo quando o animal se encontra á distância.
O uso do clicker também torna mais fácil decompor comportamentos complexos em partes pequenas mais fáceis de aprender.
Como lidar com a agressividade canina
!Um cão agressivo nunca deve ser punido porque agressividade gera agressividade !!!
Atenção: mesmo que um cão agressivo ceda à punição, o mais provável é que próxima oportunidade ele manifeste ainda mais agressão
O que fazer quando o cão é agressivo para os donos
Esta situação resulta do facto de o cão se considerar hierarquicamente superior a dono (ou donos) na “matilha familiar. A solução passa por retirar ao cão os privilégio de chefe (trata-se essencialmente de um trabalho a fazer em casa!!):
- não deixar que o cão coma antes do dono
- não deixar que seja o cão a pedir festas ao dono
- não deixar que o cão cumprimente o dono com uma postura de dominância (por e quando o dono está sentado o cão sobe-lhe para o colo, coloca-lhe as patas no ombros e olha-o fixamente nos olhos)
- não deixar que o cão bloqueie os movimentos do dono (por ex, deitar-se num determinado local da casa e rosnar quando o dono se aproxima) Quando qualquer destes casos acontecem, o dono deve ignorar o cão (isto é, afastar se, não olhar para ele nem lhe falar). Uma vez passada a situação conflituosa, da uma ordem ao cão (por ex, chamar ao dono, sentar ou deitar). Uma vez cumprida ordem, recompensar.
O que fazer quando o cão é agressivo para outros cães ou pessoas
- sempre que possível prever as situações que desencadeiam agressividade e, antes dela se manifestar, dar uma ordem para que o cão tome uma posição incompatível com o ataque (de preferência deitar). Para isto funcionar é preciso que o cão tenha um bom treino de obediência às posições. Em alternativa dar ordem “olha o dono”. Uma vez cumprida a ordem, recompensar.
- quando não foi possível evitar a atitude agressiva (isto é o cão está a tentar atacar), seguir em frente levando o cão à trela como nada se estivesse a passar (ignorar completamente o cão!!). Assim que se tenha afastado da situação dar ordem para uma posição (por ex, sentar). Uma vez cumprida a ordem, recompensar.
Cachorros
Da 4ª à 10ª semana de vida os cachorros passam pelo chamado período de sociabilização, o mais importante do ponto de vista comportamental. Nesta altura o cachorro deve ser exposto ao maior número de estímulos possíveis, de forma ligeira e moderada: reconhecimento de outros animais, pessoas, crianças (nota: para os cães as crianças são animais distintos dos adultos), novos ambientes e situações.
A falta de contacto com outros cães, pessoas e crianças durante este período do desenvolvimento dos cachorros é a principal causa de comportamentos agressivos, ansiedades e fobias.
Idealmente a mãe só deve ser retirada entre as 6 e 8 semanas.
A partir da 10ª semana os cachorros entram no período juvenil que dura até à maturidade sexual. A maior parte dos cães só atingem a maturidade psicológica aos 18 meses.
Antes de completado o esquema de vacinação, a sociabilização dos cachorros deve ser feita em ambientes controlados (salas ou pátios desinfectados, relvados desparasitados).
0 treino dos cachorros deverá ser permanentemente misturado com brincadeira. Por cada exercício (1-2 minutos) os cachorros devem ser deixados a brincar em liberdade com os outros durante 3-5 minutos.
Atenção aos dentes dos cachorros: os brinquedos devem ser objectos moles, sem fios que se possam prender nos dentes muito finos. Evitar “puxar” o objecto enquanto o cachorro o está a mordiscar, sob risco de partir ou arrancar um dente.
Alguns sinais corporais
Cão abana a cauda: preparado para interagir com pessoas ou outros animais (pode acabar em brincadeira ou agressividade)
Cão rosna mostrando todos os dentes, orelhas para trás: agressividade por medo
Cão rosna mostrando apenas dentes da frente, orelhas erectas para a frente: agressividade por dominância
Cão “eriça” pelo apenas nos quartos dianteiros: sinal de dominância Cão “eriça” pelo ao longo de todo o dorso: sinal de medo/ansiedade
Cão coça-se ou lambe-se sem razão física aparente: sinal de ansiedade (nestas situações é útil facultar ao cão objectos para roer)
As diferenças raciais
Originalmente as várias raças de cães foram criadas com o objectivo de desempenhos específicos. Hoje, cães de diferenças raças manifestam diferenças comportamentais bem marcadas que importa conhecer e respeitar.
Os cães nórdicos são psicologicamente adultos, muito independentes do homem. Os pastores alemães são psicologicamente muito infantis e por isso muito fáceis de treinar pelo homem. Mesmo entre os cães pastores há importantes diferenças de comportamento racial; as raças dedicadas à guarda dos rebanhos contra predadores (por ex, Serra da Estrela) são muito mais independentes do homem que as raças dedicadas à condução dos rebanhos (por ex, Serra D’aires).