Aqui vai a minha contribuição para o tópico, espero que gostem
Cartas ao Pai Natal
© Reservados os direitos de autor. Textos e poemas registados na Sociedade Portuguesa de Autores
Cartas ao Pai Natal I - Jerónimo de Sousa
Camarada
Tu que és explorado pela entidade patronal
Durante a época do Natal
Usado como símbolo do capitalismo
Para fomentar o consumismo
Desenfreado, descontrolado
Que enriquece a burguesia
E empobrece o proletariado
Junta-te a nós no combate
Contra a guerra no Iraque
Oferece Che Guevara’s não ofereças Action Man’s
Luta pela igualdade feminina
Não dês Barbies mas Matrioshkas
Educa as crianças de hoje
Comunistas amanhã
Substitui o Harry Potter pelo livro “O Capital”.
Camarada
Reivindica o teu direito a um transporte decente
Pára o trenó e as renas
Que não é veículo de gente operária e trabalhadora
Como tu oh pai natal!
Unidos venceremos o imperialismo e os reaccionários
Viva o Natal dos oprimidos
Viva o Natal dos operários!
Assinado pelo candidato: Jerónimo de Sousa
(Carta aprovada por unanimidade e braço no ar pelo Comité Central do PCP)
Cartas ao Pai Natal II - Aníbal Cavaco Silva
Excelentíssimo Senhor Doutor Pai Natal
Venho por esta via pedir para a minha Maria
O Kama Sutra, versão condensada
Não sei se a minha Maria teria
Para a versão completa e ilustrada
Suficiente pedalada.
Eu para mim
Por ora nada peço
E de momento nada digo
Não abdico do meu direito de manter o suspense
E de fazer tabu do meu posterior pedido.
Mas…. E só isto adianto
Não preciso de Viagra
Para acompanhar a minha Maria na leitura
Do acima citado livro
Que teso e hirto ando eu sempre
Não precisando por isso de muleta
Ou qualquer outro suplemento
Para manter a rigidez
E o meu porte sobranceiro.
Despeço-me atentamente economizando palavras
Porque como vossa Excelência sabe:
Os tempos são de crise e tempo é dinheiro.
Assina o Professor Doutor:
Cavaco Silva
Cartas ao Pai Natal III - Francisco Louçã
Isto não é uma carta!
É um manifesto. Um protesto. Uma petição
Assinada por dezenas de intelectuais
E outras pessoas que jamais
Se reviram numa festa
Bacanal
Orgia de oferendas
Dadas sem qualquer critério
E que perpetuam uma tradição
Caduca. Reaccionária. Clerical.
Que tu representas oh pai do natal.
Com esta petição pretendemos
Que a data seja referendada
Não imposta, decretada
Por um estado economicista e liberal
E que seja celebrada quando um homem quiser
Não à roda da mesa. Consoada.
Mas num portuguesíssimo arraial.
Assina: Francisco Louçã
Cartas ao Pai Natal IV - Manuel Alegre
Pai natal quando voares nos céus da minha Pátria
Quando aterrares as renas nas planícies do meu País
Lembra-te desta carta, pedido singelo
De um homem que só para a Pátria pede
Para si… Nada quis.
Se o nevoeiro que levou D. Sebastião
Te fizer perder o rumo e baralhar o norte
Segue o cheiro a verde pinho
Ouve a minha trova no vento que passa
E chegarás às chaminés do meu país
Pátria desafortunada. Sem euros. Má sorte.
Numa das chaminés de Lisboa
Sentirás o odor e verás o fumo negro da traição
Que o teu trenó sobre ela paire
Que sobre a chaminé de Soares a tua rena páre
E solte bosta. Um imponente ***.
Assinado: Manuel Alegre
Cartas ao Pai Natal V - Mário Soares
Pai Natal
Acordei agora da sesta. Tive um sonho original.
Conversei com a Maria
E achamos que não é sonho
Mas uma ideia genial!
Já fui ministro, primeiro-ministro
E duas vezes presidente deste país
Está na hora de mudar de ares
Aceitar novos desafios
Levar mais longe o nome de Portugal
Ou o meu nome… Como sempre quis.
Como tu tenho já uma certa idade
E no ventre a mesma proeminência
Decidi que para o ano quero ser o Pai Natal.
Portanto…
Olha pá faz as malas. Desocupa a Lapónia.
Vou ser eu o Pai Natal.
Tem lá paciência.
Assinado: Mário Soares
(Ex-deputado. Ex-Primeiro Ministro. Ex-Presidente da Republica. Ex-Deputado europeu. Futuro Pai Natal)
Cartas ao Pai Natal - A solteirona
Querido Pai Natal
Pelo quinquagésimo sexto ano seguido te peço:
Manda-me um homem
E não mais um par de meias
Que não é desse calor que preciso.
Pode ser cego
Eu guio-lhe a mão
Pode ser surdo e mudo
Eu falo pouco
Pode ter marreca
Inventamos uma nova posição
Pode ser coxo
Na cama não se nota
Pode ser um sem abrigo
Dou-lhe banho, cama, comida
Mas manda-me um homem!
Não me deixes morrer virgem
Sem experimentar os prazeres do sexo.
Sem companhia na cama
Excepto a da minha gata a Xana.
Desta que com desespero se assina:
A ainda virgem Virgolina.
Cartas ao Pai Natal - A radical feminista
Pai Natal
Tu que és o símbolo decadente de uma sociedade machista
E que entregas as prendas só porque és homem.
Tu que oprimes e subjugas a Mãe Natal
Ela sim, um símbolo para a humanidade
Mas que não distribui prendas, só porque é mulher.
Pai Natal
Contesto também Jesus e o Natal
Porque o milagre não foi a natalidade
Mas a virgindade de Maria
Desde a fecundação até à maternidade
O que prova a dispensabilidade do homem
Até como instrumento para a fecundação.
Pai Natal exijo como presente:
A castração dessa parte da humanidade
Que assenta o domínio sobre a mulher na virilidade
Para assim ficarmos em pé de igualdade
E ficar provado que a força não está no sexo
Mas na capacidade de liderança, no intelecto,
Na determinação, na força de vontade e de vencer
Qualidades que tens de reconhecer
Só se encontram todas juntas na mulher.
Despeço-me, enviando cumprimentos solidários à Mãe Natal
E sabendo que não me concederás a alegria
De, como desejo, viver um dia
Num mundo onde os homens sejam capados e assexuados.
Assino-me orgulhosamente:
Mulher, Maria.
Cartas ao Pai Natal - A ninfomaníaca
Meu muito... Muito... Querido...
Pai Natal...
Desculpa a carta apressada
Mas estou muito ocupada
E rodeada de assuntos pendentes...
Peço-te o mesmo que pedi noutros Natais:
Homens no sapatinho...
Podes mandar dez, vinte, trinta..
Homens nunca são demais!
Renovo também o convite
Para que me faças uma visita
Tu, e os teus ajudantes
Serão muito bem recebidos
E cabemos todos aqui
Na minha nova e enorme cama...
Despeço-me agora
Estou um bocadinho apertada
Um assunto longo e bicudo por mim chama
E requer a minha imediata atenção...
Desta que anseia por ti...
E pelos teus ajudantes...
Assinado:
Assunção
Cartas ao Pai Natal - A tia
Olá rico, como vai?
Este ano como os fofos do Governo
Dizem que o país está...
Sei lá...Sem cheta
Olhe peço umas coisicas de nada
Senão o povo que é t onto
Leva a mal e não entende
Se parece que nós do Jet-Set
Temos muito dinheiro
E não fazemos absolutamente nada.
Quero só pedir um Vison,
Um Mercedes ou um Ferrari,
Um modelito Chanel. Ah...
E um anel lindérrimo
Que vi numa joalharia e tem… Sei lá…
Um horror de quilates!!
Já sei rico, a lista é pindérica
Peço tão pouquinha coisa
Que até pareço…
Que horror!! Plebeia!!
Uma joca enormérrima
E um Xi deixe ver se encontro…
Ah… Cá está o coração.
Desta que se assina:
Cacá de Constança Mello e Menezes Pinto de Sousa Cunha e Sá Sacadura…
Oh… Serviçal não esteja aí sem fazer nada
E acabe lá a minha assinatura!!
Fonte: http://encandescente.home.sapo.pt
Blogue do autor: http://eroticidades.blogspot.com/
Aconselho uma visita pois tem lá outros tipos de escrita muito bonitos
Agora digam lá que não estão o máximo!

Adorei a do Mário Soares
