Cães de trabalho em apartamentos!

Este é o fórum dedicado exclusivamente ao melhor amigo do homem! Troque ideias e tire dúvidas sobre o cão.

Moderador: mcerqueira

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FBC
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quarta abr 09, 2008 2:40 pm

Vou começar por comentar dois tipos de argumentos típicos deste fórum:
1. Muitas pessoas argumentam com exemplos particulares dando os exemplos dos seus cães que vivem em apartamentos e que gostam muito e etc e tal. A argumentação assente em exemplos particulares tem que ser algo cuidadosa porque nem sempre os exemplos são exemplares. O que se passa é que os cães adaptam-se a um determinado estilo de vida e depois, muitas vezes por segurança, gostam de viver da forma que conhecem. Eu também posso dar muitos exemplos de cães que preferem dormir ao relento e até à chuva do que dentro de uma casa. Se habituarmos um Malamute a viver num apartamento com aquecimento central ele não vai gostar de dormir sobre a neve, mas o contrário também é valido.
A prisão é muito boa, para quem nunca conheceu a liberdade. As grandes revoltas de escravos davam-se sempre nos que eram capturados, nas outras gerações os seus donos já não tinha qualquer problema, pois estes já nasciam em cativeiro.

2. Um tipo de conversa recorrente neste fórum (infelizmente não só aqui) essa coisa de tenho vergonha de ser português, somos do 3º mundo; na Europa é que é e patati patatá.
Esta atitude de falta de auto estima e de bajulação e tentativa de imitação de outro a quem achamos, imbecilmente, superior é algo de realmente preocupante no nosso povo.
Esta é a única atitude que manifesta algum atraso do nosso povo.
São opiniões, Titvslivivs... Para o FBC a finalidade de "companhia" relativamente aos cães devia acabar. Opiniões.


Olhe que está enganada eu sou muito tolerante e pretendo acabar com muito poucas coisas nesta vida. Acabar com cães de companhia nem pensar, aliás os cães pela sua natureza e pela forma como se associaram ao Homem (“domesticação”) são animais de companhia – todos os cães são de companhia.

Discordo.

O problema desse exemplo não é o facto dos cães viverem em apartamentos ou em canis (dos "criadores citadinos").
É o facto dos cães viverem em ambientes pouco dignos da raça, com poucos estimulos que os permitam desenvolverem-se como cães.
Penso que nesta raça, é difícil dar um ambiente digno numa cidade.
1.Quanto a mim,o Francisco desta vez cai em algumas contradições - pelomenos na minha opinião:
Citação:
Há muitos cães que se adaptam bem aos apartamentos, mas o adaptar não é o natural


Se há qualidade que os cães têm é precisamente a sua extrema adaptabilidade.

Os cães são dos animais com maior capacidade de adaptação em toda a natureza, mas nós enquanto subjugadores desta espécie não devemos abusar dessa capacidade de adaptação e tentar compreender o que é razoável e aquilo que é abusivo. Há cães que vivem toda a sua vida num canil ou acorrentados e adaptam-se, mas não considero que isso seja aceitável assim como não considero que seja aceitável por a viver num apartamento certas raças.
No caso do CGT convido-vos, mais uma vez, a vir dia 25 de Abril à monográfica e a prestarem atenção ao comportamento dos cães de cidade (não forçosamente de apartamento). É um assunto que me preocupa e ao qual tomo muita atenção e é lamentável o estado psicológico desses cães.
No caso do CGT até o facto de viverem numa quinta cercada altera ligeiramente o seu comportamento. É frequente, nas quintas cercadas, os cães novos, por falta de estilos suficientes, brincarem com os cordeiros até à exaustão destes e acabar por matá-los, algo que não acontece na pastorícia de percurso. Estes cães sempre tiveram uma vida totalmente em liberdade e foram seleccionados para terem uma grande independência e para terem uma personalidade que os permite actuar de forma autónoma e totalmente independente do homem.
2. Sobre a questão dos grandes espaços, proponho uma observação prática: um cão que se mantenha em liberdade num amplo espaço durante todo o tempo, a maior parte das vezes vagueará desinteressadamente e passará muito tempo deitado. Isto porque na natureza tem de assegurar recursos, enquanto ao ser domesticado esses recursos são-lhe assegurados pelo dono...

Não vejo, portanto, que seja imprescindível para o cão dispôr permanentemente de grandes espaços.
A necessidade de espaço e ar livre nestes cães não tem só a ver com a necessidade de exercício, é uma necessidade psicológica.
É sabido, por exemplo, que em muitos cães deste género, os machos vivem e trabalham juntos em harmonia e liberdade e que quando levados para ambientes limitados e muito humanizados os machos não admitem mais nenhum macho no território.
A vida confinada altera totalmente o comportamento dos mastins de pastoreio.
Quantos Mastins do Tibete os ingleses trouxeram e morreram pouco depois de chegarem a Inglaterra até finalmente conseguirem criar algo a imitar o Grande Mastim do Tibete?
Não digo que com uma boa dose de saídas e disciplina não se consiga uma vida razoável para estes cães numa cidade, mas esta vida deve ser evitada a todo o custo. Sou totalmente contra esta ideia de que qualquer um pode ter a raça que quiser e que todas as raças servem para esta vida moderna citadina ocidental
Experimentem pôr a viver numa cidade, cães de gado de linhagens puras (e não travestis) de Pastores do Cáucaso, Pastor da Anatólia, Mastins do Tibete, Cães de Ursos da Carélia, Laikas Russo, Gronelandeses, Fox hounds Pointevins, Byllis (e todos os hounds excepto os Cityhounds) etc, etc. e depois mandem analisar, por alguém que perceba do assunto, o estado de saúde psicológica dos cães, se eles sobreviverem.
O grande mercado dos cães de raça é o mundo ocidental, por esta razão quase todas as raças “mais difíceis” têm vindo a travestir-se, à custa do temperamento típico da raça, para não ficar de fora deste tão apetecido mercado. No entanto ainda há alguns cães que ainda não atingiram esse nível superior que é viver no 1º mundo humano. Esta uma das razões pela qual há tantos conflitos Homem-Cão e também está a fazer da profissão “psicólogo canino” um “métier” de futuro.
Mas não se apoquentem os arautos do tal 1º mundo canino porque não tarda que esta coisa exótica que são os cães de trabalho e de forte carácter tende a desaparecer e qualquer dia não há elemento desta espécie que consiga sobreviver fora dum apartamento climatizado.
3. O que realmente é imprescindível é que o cão de trabalho, viva onde viver, tenha a possibilidade diária de se realizar nas suas funções ou em funções que procurem substitui-las, e na convivência de qualidade com o dono por forma a satisfazer o seu espírito gregário.
Concordo quase totalmente com isto, mas há algumas raças caninas que necessitam de condições especiais para viver.
Ó Francisco, agora viraste pastor?? (provávelmente até gostarias, mas não podes... )

Só vendes os teus cães para pastores?? É isso??
Não sou pastor, nem tenho as condições ideais para criar estes cães (embora tenhas condições bastante boas), mas os meus cães e todos os que vendi, ou dei, até ao momento guardam ovelhas em quintas. Por outro lado observo e estudo o comportamento dos cães no seu ambiente natural e faço a selecção tendo em conta, acima de tudo, o comportamento do cão perante o gado (e perante possíveis intrusos), além disso penso vir sempre a introduzir, no meu canil, sangue daqueles que dêem provas de serem bons no seu solar.
Ó Francisco sei que concordamos com muitas coisas, mas não a nível da criação de cães de raça.

Cumprimentos
Francisco Bica
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quarta abr 09, 2008 9:05 pm

FBC, leio alguns dos seus comentários e devo dizer que tenho gosto em lê-los pois são inteligentes e pertinentes, embora ache que algumas das suas posições são um pouco extremas.
De cães nenhuma experiência tenho, mas quando diz que as raças de cães de gado que referiu em cima morrem ao serem levadas para casa, não estará a exagerar? Lá atrás o CasadAnaval ao responder-me disse que os cães podem morrer, não por serem levados para um apartamento, mas sim por viverem mal nele. É que, você ao dizer que os cães morrem tragicamente dentro de casa, quase que compara esses cães a animais selvagens capturados furtivamente no seu habitat levados para jaulas para que vivam aí eterna e infernalmente. Se até um animal selvagem capturado sobrevive, porque hão-de morrer os cães que são animais extremamente adaptáveis, ou não?
jcsousa
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quinta abr 10, 2008 9:02 am

O Francisco Bica desviou o debate centrando-o numa raça (CGT) de que eu pouco percebo, quando a pergunta era mais generalista, falava apenas em "cães de trabalho em apartamentos"... Não cometerei a imprudência de discutir esta raça com um expert, para não cair no ridículo. Mas não deixarei de manifestar algumas questões que a exposição do Francisco me suscitou:

1. é o CGT tão pouco adaptável que pura e simplesmente se deixe morrer quando confinado a um espaço mais reduzido que o absoluto campo aberto?

2. é o CGT tão pouco gregário que não obtenha, da companhia mais próxima do dono, nenhum tipo de conforto psicológico que compense um maior confinamento?

3. não vê o Francisco Bica nenhum tipo de actividade alternativa por parte dos donos de CGT que permita compensar tal confinamento?

4. estando a pastorícia e de uma forma geral a vida rural no nosso país cada vez mais ameaçadas pela urbanização e industrialização, como vê o Francisco o futuro do CGT em Portugal?

Sobre o tema concreto e generalizando, tenho que repetir-me:

- o cão é extremamente gregário e adaptável;
- essa adaptabilidade deve estar intimamente ligada a um entorno que lhe permita a satisfação dos seus instintos básicos, que se acumulam e descarregam segundo a teoria psicohidráulica de Lorenz, cabendo ao dono assegurar essa descarga sem deixar acumular níveis elevados de stress.
- os vários instintos são despoletados pela existência de estímulos, crescendo na medida da intensidade desses estímulos;
- mais que a quantidade de espaço e de tempo, interessa a qualidade dos mesmos.

Cumprimentos

José Carlos
hamsterazul
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sábado abr 12, 2008 3:54 am

Na minha opinião, toda a discussão se resume a isto:
se levarem as mãos à consciência, a maioria das pessoas não devia ter cão
Que me desculpem muitos donos, mas a estoria do mimo, amor e carinho, não chega.
Tratar um cão de trabalho como um humano, como "membro da familia" como muitas vezes se ouve, é não só não conhecer as especificidades dessas raças, como estar a pedir sarilhos.

Um cão é um animal, e como tal tem necessidades diferentes dos humanos.
Querer projectar as nossas necessidades num animal é errado.
Para muitos donos cão necessita de afecto, exercício e disciplina, por esta ordem (e o ultimo ponto as vezes é inexistente), quando a ordem é precisamente a inversa, sobretudo em cães de trabalho.

Se se fala de espécies com poder de adaptação, a nossa bate todas aos pontos e por larga margem.
Estamos presentes em todos os continentes, em todos os climas, com as mais diversas dietas, etc, etc.
Também nós já fomos caçadores colectores e percorremos dezenas de quilometros diariamente em busca de comida.
Contudo hoje vivemos em cidades, compramos comida pre-preparada de prateleiras de super-mercados e para muitos o conceito de exercício diário é o percurso que percorrem da porta de casa até ao estacionamento/paragem de transporte publico.
Levamos vidas tranquilas, temos familias, damos e recebemos amor, etc. Somos felizes?
Segundo os últimos dados disponíveis da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) só em Portugal a despesa com antidepressivos ascendeu a mais de 158,5 milhões de euros (ano de 2006) pelo que me parece que não.
Resolvemos partilhar estas nossas vidas com outros animais e eis que surgem profissões tais como "psicologo canino".

Como animais inteligentes que somos, também somos capazes dos mais fantásticos raciocínios para legitimar as nossas escolhas e modos de vida, por isso é que discussões como esta ou a das touradas, ou do consumo de carne, etc, raramente terminam com alguém a mudar algo na sua vida.

Contudo aceito que alguém tenha animais em apartamentos como mal menor, do mesmo modo que continuo a comer carne e que aceito que a criação desses animais, de modo nem sempre exemplar, é um mal menor para a minha necessidade de proteínas (vegetarianos, vegans e afins, sintam-se livres de me insultar por PM), o que não quer dizer que não considere que a produção biológica e em regime extensivo é preferível, tal como é preferível que um cão de trabalho tenha espaço e oportunidade de se exercitar e de cumprir as funções para as quais foi apurado ao longo de inúmeras gerações. Agora que ninguém se convença que viver num apartamento, por muito amor e carinho que o dono lhe dê é a melhor solução possível. Que ninguém se espante quando o Bobby "descarregar" o seu instinto de presa no Pantufa do vizinho do lado.

Acho que mais importante que perguntar se se podem ter cães de trabalho em apartamentos, é perguntar:
Por que querem as pessoas ter cães de trabalho em apartamentos?
djusantos
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sábado abr 12, 2008 7:07 am

hamsterazul Escreveu: Por que querem as pessoas ter cães de trabalho em apartamentos?
Boas,a acho que quem gosta de cães de trabalho gosta independentemente de viver ou não num apartamento...

Repare uma coisa e diga-me qual a diferencia aa pessoa A qe tem uma quinta grande, que tem o cão num canil (talvez 3Mx3M) e que solta o cão para ele correr e a pessoa B que tem este mesmo cao num apartamento, e que o cão tem uma varanda (talvez 3Mx3M) e leva o cão para fazer exercício, muitas das vezes várias vezes ao dia? onde está a diferença??

Os cães quando estão no apartamento não estão a trabalhar, estão em repouso, certo??

E outra coisa, um cão de trabalho nunca irá exercitar o seu instinto de presa na pantufa do vizinho como diz, pois se conhece bem cães de trabalho deve saber que estes agem apenas perante certos estímulos e que nada teem a ver com uma pantufa.....

justino santos
jcsousa
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sábado abr 12, 2008 11:07 am

A dissertação do hamsterazul resume-se a um conjunto de afirmações políticamente correctas que pouco traz de novo à discussão, tirando duas questões mais ou menos novas que merecem alguma atenção:
Na minha opinião, toda a discussão se resume a isto:
Citação:

se levarem as mãos à consciência, a maioria das pessoas não devia ter cão
Eu não sei se o hamsterazul tem cão,mas desconfio que se inclui no reduzido número de pessoas que considera dever ter cão... posto isto, o que é que o diferencia da "maioria" dos donos de cães? Este seria um excelente esclarecimento para debatermos o tema sem necessidade de "levar as mãos à consciência", mas antes partirmos de dados concretos...


Acho que mais importante que perguntar se se podem ter cães de trabalho em apartamentos, é perguntar:
Por que querem as pessoas ter cães de trabalho em apartamentos?
Bem, esta pergunta vai ser de difícil resposta... teríamos que perguntar a cada uma os seus motivos, o que não me parece muito exequível, daí pensar que o hamsterazul faz a pergunta já sabendo a resposta,pelo que o desafiaria a enunciar os tais motivos tão importantes...

De qualquer modo essa seria uma boa questão para um novo tópico, o tema deste é diferente. E sobre ele o hamster já se pronuncia de forma mais concreta, considerando um "mal menor" a existência de cães de trabalho em apartamentos. Pessoalmente não considero um mal menor ou maior esse facto, tudo dependendo da qualidade de vida que possa ter esse cão. E na minha opinião a qualidade de vida não tem a ver com o sítio onde o animal vive mas com as condições que o dono lhe dá para satisfazer as suas aptidões instintivas.

Quero com isto dizer que um cão de apartamento pode muito bem realizar-se enquanto um que viva num terreno com milhares de hectares pode perfeitamente ser um cão infeliz.

Excluo evidentemente da discussão o CGT, cujo instinto primordial parece ser o atávico amor pelos espaços livres.


Que ninguém se espante quando o Bobby "descarregar" o seu instinto de presa no Pantufa do vizinho do lado.
Como também não é de espantar que, se o mesmo Bobby vivesse numa quinta enorme, descarregasse a sua presa no gato ou nas galinhas da quinta ao lado... aqui não é seguramente o apartamento que está em questão, mas o instinto do animal que tanto se revela num sítio como noutro.

Para finalizar:
Que me desculpem muitos donos, mas a estoria do mimo, amor e carinho, não chega.
Tratar um cão de trabalho como um humano, como "membro da familia" como muitas vezes se ouve, é não só não conhecer as especificidades dessas raças, como estar a pedir sarilhos.
Pois, esta é uma frase polìticamente correcta, mas não se conclua daqui que o amor e o carinho não podem ter lugar com um cão de trabalho. Nos cães como nas pessoas, a vida não é só trabalho. O cão não é só presa, defesa, guarda ou pastoreio - é um animal extremamente gregário e não haverá mal que seja considerado parte da matilha humana com que habita. O que é fundamental é que tenha muito claro o lugar que ocupa nessa matilha.

Sobre a questão das contas com anti-depressivos: há limites de adaptabilidade que não podem ser excedidos - tanto nas pessoas como nos cães. Ao fim e ao cabo é respeitando esses limites (pelo que teremos de os conhecer...) que um cão de trabalho pode perfeitamente ser feliz num apartamento.
hamsterazul
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domingo abr 13, 2008 3:46 pm

jcsousa

Antes de mais obrigado pelo seu comentario e pelo tempo que dispendeu a expor as suas ideias de um modo claro e coerente.
Sem divergência de opiniões espaços como este não fariam sentido.

Apesar de os considerar animais majestosos, não possuo nenhum cão de trabalho. Aliás, de momento não possuo nenhum cão. Já os tive (rafeiros) mas na altura tinha casa com quintal e, sobretudo, disponibilidade para estar com eles.
Gosto de cães, mas não ter um neste momento foi uma decisão que tomei em consciência, segundo os meus valores, que não são necessariamente iguais aos seus, ou de outra pessoa qualquer. Nem melhores, nem piores.

Vivemos em democracia e como tal tenho de aceitar que para uns os seus valores os impeçam de comer carne ou de ter animais de estimação de todo e para outras os animais são essencialmente para servir o homem e que todos os seus direitos são subalternos à vontade deste, e que a grande maioria se situa algures entre os dois extremos.

Quanto à questão que deixei, não era retórica.
De facto intriga-me porque tantas pessoas decidem ter um cão de trabalho num apartamento quando, pelo que se depreende das suas palavras, o que pretendem de facto é um cão de companhia.
Tal como me intriga porque tanta gente compra jipes e pick-ups que nunca hão de ver um pingo de lama na sua vida ou fazer um quilometro que não seja em asfalto.

As generalizações são sempre perigosas e injustas, cada um sabe de si.
A minha opinião contudo é que muitas vezes a coisa passa por um dos seguintes: questão de status, ego, satisfação de um desejo irracional, tentativa de trazer um pouco da "natureza" que sentem faltar-lhes na sua vida citadina para perto de si ou ainda moda.

De facto um cão tanto pode ser infeliz no campo como em casa, mas continuo a pensar que um cão de trabalho será mais facilmente feliz (há falta de termo melhor) num ambiente proximo daquele para que foi apurado ao longo de centenas de gerações para exercer funções.

Ou por outras palavras, que perante o mesmo grau de dedicação ou, no extremo oposto, desapego por parte do seu dono, o cão que tem oportunidade de exercer as suas funções de trabalho será mais feliz.
Há cães pastores das mais diversas raças que nunca levaram uma festa na vida, e que são felizes a exercer as suas funções.
Lá está uma das suas especificidades, os cães de trabalho, não deixando de ser cães, tendem a ser mais autónomos, de caracter forte e dominante e mais independentes do dono.

Exclui-se o CGT da discussão pelo seu "atávico amor pelos espaços livres" Então e os cães de caça? Os Huskys, Samoiedos e Malamutes? Etc, etc.

Quanto à "expressão" do instinto de presa, remeto-o para os comentarios de FBC, que na sua experiência de criação de uma raça que nem é de caça, nem propriamente de guarda, denota que os cães que mantêm as suas funções de trabalho são muito mais estáveis perante outros animais, que os exemplares meramente de exposição, independentemente do esmero que os seus donos obviamente também lhe devotam (e que para terem animais dignos de exposição certamente também os exercitam frequentemente).

Quanto à frase que citou como sendo politicamente correcta (e eu a pensar que ia ser a mais controversa) , se reparar bem, eu não disse que um cão não deve receber ou não precisa de afecto.
Referi que não se devem humanizar os animais, porque, por exemplo, quando se fala das raças PP, são às dezenas os donos que dizem que nunca irão ter problemas porque dão muito amor e carinho aos seus animais.
E o resto?
Este tipo de afirmações demonstra algum desconhecimento da "psicologia" canina, da importancia da educação e disciplina e da necessidade da criação de uma hierarquia clara, especialmente nestes cães tendencialmente dominantes e de porte médio a grande.
Todos os cães são gregarios e adaptáveis, mas uns mais que outros.
Por isso se apuraram raças para exercer funções de trabalho e outras no sentido de serem tão simplesmente animais de companhia, de espírito mais dócil, mais submissos, mais sociáveis, etc.

Inverter isto não é, também, desvirtuar as raças ?

Cumprimentos Cordiais
jcsousa
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domingo abr 13, 2008 6:10 pm

Meu caro hamsterazul:
,
Evidentemente que o contraditório não tem nada de censurável (pelo contrário) e é sobre ele que se chega (ou não..) a conclusões nos debates. Vou então exercê-lo uma vez mais sobre o seu último post , porque me parece que nuns casos se desvia do tema e noutros me põe na boca airmações que nunca fiz.
De facto intriga-me porque tantas pessoas decidem ter um cão de trabalho num apartamento quando, pelo que se depreende das suas palavras, o que pretendem de facto é um cão de companhia.
O que está em causa neste tópico é "ter um cão de trabalho em apartamento" e não "ter um cão de trabalho em apartamento e apenas por companhia"... essa seria outra discussão! No meu entender é possível ter um cão de trabalho ,"que trabalhe" ,em apartamento, e foi sobre isso que me pronunciei.
De facto um cão tanto pode ser infeliz no campo como em casa, mas continuo a pensar que um cão de trabalho será mais facilmente feliz (há falta de termo melhor) num ambiente proximo daquele para que foi apurado ao longo de centenas de gerações para exercer funções.
Admito que sim, mas do facto de ser "mais fàcilmente feliz" nesse entorno não se pode concluir que não pode ser ifualmente feliz num apartamento. Tudo depende do trabalho que o dono queira ter. E se a especificidade do trabalho a executar não tornar possível a sua reprodução exacta, há sempre formas desportivas que permitirão ao cão extravasar os seus instintos naturais de forma satisfatória.
Há cães pastores das mais diversas raças que nunca levaram uma festa na vida, e que são felizes a exercer as suas funções.
Não ponho em dúvida que haja, mas na minha opinião não vem mal ao mundo (nem ao cão...) se considerarmos a vertente afectiva para cimentar os laços de união entre cão e dono. E isto não tem nada a ver com a humanização do cão. Humanizar um cão, de trabalho ou não, é procurar problemas. Mas o carinho só por si não humaniza os cães.

" Então e os cães de caça? Os Huskys, Samoiedos e Malamutes? Etc, etc.
Mas o que é que impede um cão de caça de caçar, mesmo que viva em apartamento? E não pode um husky praticar mushing? Como lhe disse o que interessa é dar oportunidade ao cão de descarregar os seus instintos, e não será necessário que o faça no Pantufa do vizinho, certamente...

Mais haveria a dizer, mas tenho deitada a meus pés uma cadela de uma raça de trabalho à qual vou proporcionar escape ao seu instinto de presa...

Reafirmo que é possível um cão de trabalho ser feliz num apartamento, desde que o dono se disponha, ele também, a ter mais trabalho...

Cumprimentos

JoséCarlos
psychon
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domingo abr 13, 2008 7:38 pm

Li e reli este tópico.

Foi dos mais interessantes que encontrei.
Não sou especialista de nenhuma raça, logo não me atreverei a por em causa qq das afirmações especializadas aqui emitidas.
Como dona de cães de trabalho, se não em apartamento, em cidade, quero no entanto deixar aqui as minhas conclusões:

Tem razão quem reconhece a nobreza da raça e ressalta as qualidades do cão no seu habitat natural. Foram essas mesmas caracteristicas que fizeram do cão um animal cobiçado.

Tem razão quem diz que o cão enquanto adaptável, uma vez adaptado é feliz. Sendo necessário por pressuposto que esta adaptação não ampute de todo os instintos naturais da raça.


Ao escolhermos um animal para nosso companheiro nunca devemos nos isentar da responsabilidade que vem acoplada (fornecer as condições necessárias ao máximo bem estar de toda a familia), logo devemos sempre atender a dois pontos:

Caracteristicas da raça e suas reais necessidades

Condições que podemos fornecer, além do amor que podemos dar


Não basta gostarmos muito de um animal para nos atrevermos a adquiri-lo. Temos e devemos respeitá-lo e aqui impõe-se a necessidade de conhecimento da raça

Considero que tão bom dono é quem tem espaço para um animal, como o que tem um apartamento, desde que ambos lhe forneçam a satisfação das suas necessidades que não é de todo só comidinha e festas.

Um dono responsável, se possuir um cão de trabalho num apartamento tem consciencia das necessidades do cão e tratará de satisfazer de alguma forma a sua necessidade de exercicio.

Se a excelência da raça se mostra no habitat natural, também o cão citadino não perderá esta excelencia, mas sómente adquire uma outra forma de mostrá-la, nomeadamente na sua adaptabilidade e exaltando qualidades quando se impõe "trabalhar", seja na caça, guarda ou outra. Exemplo disso é a utilização do nosso amigo pelas forças de segurança, utilizando diferentes raças consoante o trabalho que lhes é pedido.

Podemos ter cães de trabalho em apartamento?

Podemos, desde que não percamos o respeito que este animal nobre merece e providenciemos a satisfação das suas necessidades.
Vivendo e aprendendo
FBC
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quarta abr 16, 2008 12:14 pm

De cães nenhuma experiência tenho, mas quando diz que as raças de cães de gado que referiu em cima morrem ao serem levadas para casa, não estará a exagerar?
Eu não disse isso relativamente aos CGT. O que eu referi foi:
Mas há raças muito mais independentes que trabalham em matilha (ou sós) sem acção directa do dono. Estes cães não devem viver em apartamentos, alguns dos quais podem mesmo entrar em depressão e morrer.
De facto há raças que devido à sua personaliodade têm muita dificuladade a adaptar-se ao nosso estilo de vida e em particular à vida num apartamento,( quase todos os hounds de caça maior em matilha, Laikas russos, Gronelandeses, muitos mastins de montanhas, etc) e há certos cães destas raças (em particular gronelandeses) que podem morrer devido ao stress provocado pela vida em apartamento. Não quero dizer que um cão deste tipo não possa sobreviver num apartamento, desde que o dono faça um esforço enorme para que o cão tenha uma vida minimamente aceitável. De qualquer maneira, do meu ponto de vista, será sempre uma sobrevivência e não uma vida em pleno.
Se até um animal selvagem capturado sobrevive, porque hão-de morrer os cães que são animais extremamente adaptáveis, ou não?
Os Lobos, pelo seu instinto errante, de matilha, inteligência social, etc têm uma enorme dificuldade em adaptar-se a “gaiolas” (ficam completamente doidos)e para terem uma vida minimamente aceitável, e até se reproduzirem, precisam de condições de espaço, e outras, muito especiais.
Na domesticação dos cães foram-se seleccionando aqueles que mais se adaptam e subjugam ao homem, sendo assim eles encontram a matilha e o seu líder (o Alfa) no ser humano pelo que encontram a felicidade ao lado do homem. No entanto, há raças de cães aos quais esta proximidade do ser humano nunca ultrapassou determinados limites, pelo que estes para se sentirem felizes necessitam de ter (o seu espaço e/ou matilha)

José Carlos
Não é minha intenção centrar a discussão no CGT, apenas dei o exemplo porque tem-me chocado o comportamento dos cães desta raça que têm sido levados para a cidade e é algo que cada um de nós pode ver numa exposição.

1. é o CGT tão pouco adaptável que pura e simplesmente se deixe morrer quando confinado a um espaço mais reduzido que o absoluto campo aberto?
Ao ponto de morrer não. Já disse atrás que não me estava a referir concretamente a esta raça.
2. é o CGT tão pouco gregário que não obtenha, da companhia mais próxima do dono, nenhum tipo de conforto psicológico que compense um maior confinamento?
O CGT não é especialmente gregário, mas como todos os cães é gregário. O vinculo, que se foi criado entre Homem e Cão (através da selecção de certas características dos cães) ao ponto de os cães considerarem os homens como mais um da matilha (e o líder), está muito apagado nesta raça. O CGT é um animal doméstico e gosta da companhia do homem, mas até certos limites. Antes do reconhecimento da raça estes cães, raramente tinham nome, quase nunca tinham um dono (apenas tinham um rebanho e ás vezes vários), nunca eram chamados, e nunca se lhe exigia qualquer obediência ao homem. Eram cães que andavam por lá com os rebanhos, praticamente em estado semi selvagem.
3. não vê o Francisco Bica nenhum tipo de actividade alternativa por parte dos donos de CGT que permita compensar tal confinamento?
Do meu ponto de vista, no mínimo um cão destes deve ser um cão de quinta, sendo que o ideal é que seja um cão de pastoreio (em pastoreio de percurso). Não vejo qualquer necessidade em levar um cão destes para a cidade.
4. estando a pastorícia e de uma forma geral a vida rural no nosso país cada vez mais ameaçadas pela urbanização e industrialização, como vê o Francisco o futuro do CGT em Portugal?
Não estou totalmente de acordo com isso. Não penso que evoluir seja, forçosamente, industrializar o país e abandonar este tipo de actividades. Aliás a Europa espera (e apoia) a preservação de um mundo rural em Portugal com uma produção de produtos alimentares de qualidade e não uma produção industrial (disso a Europa está cheia). Pelo clima e solo que temos devemos apostar numa produção agropecuária extensiva e não intensiva. Também não vejo nenhuma razão para que o lobo Ibérico não venha a recuperar e a aumentar os seus efectivos (o que aliás está a acontecer).
Talvez venha a haver uma modificação na forma de criar gado extensivamente mas penso (e desejo) que isso não venha a acabar. Caso contrário não será só o CGT que, provavelmente, se extinguirá mas um enorme património natural.

Caso o “mundo do CGT” se extinga, ou a raça se adapta a cão de quinta (mesmo sem gado), e com algum cuidado pode manter características algo semelhantes
Ou acontece o que aconteceu a muitas raças: conserva o nome e mais nada e fica uma espécie de São Bernardo Português, o que para mim não passa de uma forma de extinção.
Há duas formas de extinguir raças: uma delas é por deixar de criar, como agora se exige em certos casos (por decreto lei); outra é fazer uma selecção que afaste de tal forma os cães do padrão original de tal forma que não conservem absolutamente nada da raça original para além do nome, isto quando deixam conservar o nome (vejamos o caso do Presa Canário) .
Por exemplo:
Onde é que está o Bulldog Inglês? (Só para dar um exemplo carismático, porque muitos outros existem)
Extinto.

A questão dos cães em apartamento, não passa só pelo facto de serem de trabalho ou não.
!º eu sou da opinião que qualquer dono deve ter mais do que um apartamento para oferecer a um cão (embora, dependendo do caso há coisas mais importantes).
2º Há raças de cães de trabalho, que pelo tipo de trabalho para o qual foram seleccionadas são muito ligadas ao dono e gostam da proximidade deste pelo que podem viver razoavelmente em apartamento desde que o do lhes dedique muito tempo e exercício.
3. Há casos como os que tenho referido que, do meu ponto de vista, não devem viver em apartamento, pelas razões que tenho vindo a referir.

Se uma pessoa tem que ter determinados condições para ter um cavalo porque é que não faz o mesmo com certos tipos de cães? Só porque os cães cabem dentro de casa e o cavalo não! Pois há muitos cães que também não cabem dentro de casa (apenas lá entra o seu corpo.

Em muitos aspectos concordo com o hamsterazul

Cumprimentos
Francisco Bica
jcsousa
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quarta abr 16, 2008 12:44 pm

Caro Francisco, se alguma coisa já lucrei com a discussão foi um maior conhecimento das características do CGT, e obrigado por isso. A acreditar no perfil que descreve, e não tenho nenhuma razão para duvidar, tenho que reconhecer que dificilmente um CGT se adaptaria a uma vida em apartamento. Fica-me a curiosidade de poder observar o trabalho desta raça ao vivo, e durante várias horas por dia, para poder ter uma opinião mais bem documentada. Pelo que nos disse, mais do que a necessidade imperiosa dos grandes espaços, o principal óbice à vida em apartamento seria a sua menor dependência do dono.

Matizarei, pois, a minha opinião, dizendo que grande parte das raças de trabalho poderá viver em apartamentos, havendo no entanto algumas (pelo que disse pouco numerosas e até pouco conhecidas em Portugal) que terão grande dificuldade em obter nesse entorno um mínimo de qualidade de vida.

Estabeleço pois uma síntese dos nossos argumentos e sugiro que contraponha em caso de discordância...

De qualquer modo, gostaria de terminar com uma reafirmação do conceito que acho fundamental na minha argumentação - ter um cão de trabalho dá trabalho, e quem não estiver disposto a esse acréscimo de trabalho deve optar por outro tipo de raça - seja na cidade ou no campo...

Cumprimentos

José Carlos
FBC
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quarta abr 16, 2008 12:53 pm

Caro José Carlos

Penso que estamos de acordo, embora eu seja algo mais "purista" no que diz respeito à canicultura.

Concordo muito particularmente com isto
De qualquer modo, gostaria de terminar com uma reafirmação do conceito que acho fundamental na minha argumentação - ter um cão de trabalho dá trabalho, e quem não estiver disposto a esse acréscimo de trabalho deve optar por outro tipo de raça - seja na cidade ou no campo...
Penso que foi um excelente tópico
da minha parte é tudo

Cumprimentos
Francisco Bica
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