A minha aldeia
Moderador: mcerqueira
Eu vivo num sitio esquisitissimo:
Vivo numa aldeia pequenina e pitoresca. Vivo numa quintinha. Os meus vizinhos tambem vivem em quintinhas. Na nossa aldeia, quanto mais uma casa e velha e quanto mais detalhes "de antigamente" mantem, mais e apreciada. Todos os meus vizinhos se mudaram para a tal aldeia ha menos de quinze anos, vindos da cidade e estamos todos em obras para colocar cozinhas do "tempo da avo"e casas de banho com banheiras de patas. Na nossa aldeia so ha uma familia que ainda se dedica ao trabalho do campo. Tem cavalos e ovelhas e sao considerados quase "actracao turistica". Ha quem lhe pague para colocar os cavalos ou as ovelhas a pastar em certos sitios.
Todos os dias de manha vejo os meus vizinhos entrarem nos carros a correr porque todos trabalhamos na cidade. Para irritar ainda mais, na nossa aldeia nao se pode ultrapassar os 30 km (ordem da camara!) por hora por causa das criancas que brincam na rua e dos patos que tem a mania de se deitar no meio da estrada. Ao fim de semana, andamos todos (desde o engenheiro ao alto funcionario da Philips, a dentista, ao veterinario e ao advogado) de galochas ou socos de madeira a tratar dos jardins e das hortas (este fim de semana plantou-se o feijao verde. A minha vizinha deu-me umas alfaces que tinha a mais, eu dei-lhe ervilhas de cheiro). Eu tenho as cerejeiras carregadinhas de cerejas e ja sei que nao vou provar nem uma cereja. As cerejas sao para os passaros. As galinhas andam a solta na nossa rua. Os gatos andam a solta na nossa rua. Os caes tem todos dono, estao esterilizados ou castrados e andam a solta na rua. O Oscar nao anda a solta porque caça galinhas: ninguem lhe leva a mal, as pessoas ate riem, mas eu nao gosto porque sei que todas as galinhas tem um nome.
Uma vez, o Oscar fugiu. Entrei em panico, claro, e fui que nem doida a procura dele. Apareceu uma vizinha minha que eu ainda nem conhecia com o Oscar pela trela.
- "Este cao e seu?"
- "E sim! Onde e que estava?"
- "Estava no meu jardim a ladrar ao meu gato"
- "Desculpe.. Ele estragou alguma coisa?"
- "Poaaaahhhh... Nem vi... Mas ele e um amor, nao es meu quidos lindo?"
- "Prometo-lhe que nao volta a acontecer. Vou ter mais cuidado para ele nao voltar a fugir"
- "Nao se preocupe... Os caes andam na rua e toda a gente sabe que caçam gatos e entram nos jardins."
A quantos anos luz esta Portugal deste cenario? E demasiado utopico tal cenario em Portugal?
Vivo numa aldeia pequenina e pitoresca. Vivo numa quintinha. Os meus vizinhos tambem vivem em quintinhas. Na nossa aldeia, quanto mais uma casa e velha e quanto mais detalhes "de antigamente" mantem, mais e apreciada. Todos os meus vizinhos se mudaram para a tal aldeia ha menos de quinze anos, vindos da cidade e estamos todos em obras para colocar cozinhas do "tempo da avo"e casas de banho com banheiras de patas. Na nossa aldeia so ha uma familia que ainda se dedica ao trabalho do campo. Tem cavalos e ovelhas e sao considerados quase "actracao turistica". Ha quem lhe pague para colocar os cavalos ou as ovelhas a pastar em certos sitios.
Todos os dias de manha vejo os meus vizinhos entrarem nos carros a correr porque todos trabalhamos na cidade. Para irritar ainda mais, na nossa aldeia nao se pode ultrapassar os 30 km (ordem da camara!) por hora por causa das criancas que brincam na rua e dos patos que tem a mania de se deitar no meio da estrada. Ao fim de semana, andamos todos (desde o engenheiro ao alto funcionario da Philips, a dentista, ao veterinario e ao advogado) de galochas ou socos de madeira a tratar dos jardins e das hortas (este fim de semana plantou-se o feijao verde. A minha vizinha deu-me umas alfaces que tinha a mais, eu dei-lhe ervilhas de cheiro). Eu tenho as cerejeiras carregadinhas de cerejas e ja sei que nao vou provar nem uma cereja. As cerejas sao para os passaros. As galinhas andam a solta na nossa rua. Os gatos andam a solta na nossa rua. Os caes tem todos dono, estao esterilizados ou castrados e andam a solta na rua. O Oscar nao anda a solta porque caça galinhas: ninguem lhe leva a mal, as pessoas ate riem, mas eu nao gosto porque sei que todas as galinhas tem um nome.
Uma vez, o Oscar fugiu. Entrei em panico, claro, e fui que nem doida a procura dele. Apareceu uma vizinha minha que eu ainda nem conhecia com o Oscar pela trela.
- "Este cao e seu?"
- "E sim! Onde e que estava?"
- "Estava no meu jardim a ladrar ao meu gato"
- "Desculpe.. Ele estragou alguma coisa?"
- "Poaaaahhhh... Nem vi... Mas ele e um amor, nao es meu quidos lindo?"
- "Prometo-lhe que nao volta a acontecer. Vou ter mais cuidado para ele nao voltar a fugir"
- "Nao se preocupe... Os caes andam na rua e toda a gente sabe que caçam gatos e entram nos jardins."
A quantos anos luz esta Portugal deste cenario? E demasiado utopico tal cenario em Portugal?
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Como é que se escreve um suspiro ???(daqueles grandes e bem profundos.......)
Acho que a distância fica entre o sonho e a realidade...Quem me dera não ter que viver num andar, com uma varanda pequena...
Se eu tivesse uma casinha com um jardinzito à frente, um quintalito atrás, e o meu filho a correr à volta da casa atrás da Natasha, e o Felix a ronronar ao sol...os meus passaritos a fazer coro com a natureza...
Sonhos...

Acho que a distância fica entre o sonho e a realidade...Quem me dera não ter que viver num andar, com uma varanda pequena...
Se eu tivesse uma casinha com um jardinzito à frente, um quintalito atrás, e o meu filho a correr à volta da casa atrás da Natasha, e o Felix a ronronar ao sol...os meus passaritos a fazer coro com a natureza...
Sonhos...





<p>Beijinhos</p>
<p>Ana PAula</p>
<p>Ana PAula</p>
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é verdade Nanico, daqui a quanto tempo é que Portugal se conscencializa que os animais merecem muito respeito.
Por acaso moras no Paraiso???Porque esse sitio parece ser espectacular e calmo.
Por acaso moras no Paraiso???Porque esse sitio parece ser espectacular e calmo.

<strong>Os meus cães são o centro do meu mundo. 
Carla</strong>

Carla</strong>
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Fazer uma comparação de mentalidades, de educação, de civismo, é quase uma maldade, Nanico.
Isso aí chama-se Holanda.
Por cá ainda usamos aqueles termos porreiros, como seu filho da mãe já viu o que o c..... do seu cão fez? Lixou-me (termo ligeiro por motivos óbvios) as flores todas, e agora quem paga, seu este seu aquele.
Isso aí chama-se Holanda.
Por cá ainda usamos aqueles termos porreiros, como seu filho da mãe já viu o que o c..... do seu cão fez? Lixou-me (termo ligeiro por motivos óbvios) as flores todas, e agora quem paga, seu este seu aquele.
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Olá Nanico.
É linda a tua história tão realista e felizmente que por cá ainda há zonas em que o msm acontece. Claro que não são muitas e cada vez há menos, mas vou-te dar um exemplo:
há coisa de 2 meses atrás fui a uma aldeia ( na zona de Torres ) ver uma casa rústica que estava para venda e deparei-me precisamente com o msm cenário...nem queria acreditar que ainda houvessem, cá em Portugal e tão perto do que chamam de civilização, locais onde os animais ainda passeassem, soltos, pelas ruas, onde todos se conhecem e onde os carros ( por iniciativa e cuidado dos habitantes ) andem a velocidades de extremo cuidado .
Gostei da casa, gostei do local, gostei das pessoas, enfim...fiquei deveras apaixonada por todo aquele pequeno " Mundo " que pensei já não existir algo assim, neste tão pequeno cantinho plantado há beira mar.
Parabéns pela tua escolha do " Paraíso " em que vives.
Leonilde
É linda a tua história tão realista e felizmente que por cá ainda há zonas em que o msm acontece. Claro que não são muitas e cada vez há menos, mas vou-te dar um exemplo:
há coisa de 2 meses atrás fui a uma aldeia ( na zona de Torres ) ver uma casa rústica que estava para venda e deparei-me precisamente com o msm cenário...nem queria acreditar que ainda houvessem, cá em Portugal e tão perto do que chamam de civilização, locais onde os animais ainda passeassem, soltos, pelas ruas, onde todos se conhecem e onde os carros ( por iniciativa e cuidado dos habitantes ) andem a velocidades de extremo cuidado .
Gostei da casa, gostei do local, gostei das pessoas, enfim...fiquei deveras apaixonada por todo aquele pequeno " Mundo " que pensei já não existir algo assim, neste tão pequeno cantinho plantado há beira mar.

Parabéns pela tua escolha do " Paraíso " em que vives.
Leonilde
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Pois pois...
O lugar onde actualmente vivo é muito semelhante àquele onde vive a Nanico.
É apenas um pouco mais rural e mais "atrasado".
Na única vez em que o Igor fugiu, e por azar foi ter ao quintal de uma senhora com um vocabulário um tanto ou quanto reduzido, a única coisa que ouvi foi:
"F...-se, não vê que com esse cão aí a minha relva fica toda f....da"....

O lugar onde actualmente vivo é muito semelhante àquele onde vive a Nanico.
É apenas um pouco mais rural e mais "atrasado".
Na única vez em que o Igor fugiu, e por azar foi ter ao quintal de uma senhora com um vocabulário um tanto ou quanto reduzido, a única coisa que ouvi foi:
"F...-se, não vê que com esse cão aí a minha relva fica toda f....da"....







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- Localização: Cão sem raça definida
Vamos lá a dismistificar uma coisa, malta.
O País onde a Nanico vive não é nenhum paraiso, como a própria poderá confirmar.
O que acontece é que mesmo considerando todos os males holandeses, nós, pequenos portugas, estamos a léguas de distância. Em tudo.
O País onde a Nanico vive não é nenhum paraiso, como a própria poderá confirmar.
O que acontece é que mesmo considerando todos os males holandeses, nós, pequenos portugas, estamos a léguas de distância. Em tudo.
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Boa tarde HannibalHannibal Escreveu: Vamos lá a dismistificar uma coisa, malta.
O País onde a Nanico vive não é nenhum paraiso, como a própria poderá confirmar.
O que acontece é que mesmo considerando todos os males holandeses, nós, pequenos portugas, estamos a léguas de distância. Em tudo.
Totalmente de acordo... Quando acabei de ler o que a Nanico escreveu vieram-me á cabeça exactamente as mesma palavras...
Nanico, agora fiquei invejosa...

Não existe para aí nenhum cantinho aqui prá gente?

<p>Joana Gonçalves</p>
<p>Terras da Fénix Kennel</p>
<p>-Não existem raças perigosas, existem sim donos e pseudocriadores perigosos!-</p>
<p>Terras da Fénix Kennel</p>
<p>-Não existem raças perigosas, existem sim donos e pseudocriadores perigosos!-</p>
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Olá
Pois a Holanda não é o Paraíso mas ás vezes parece. A sua descrição fez-me sonhar
Claro que o que se passa é uma coisa somente: Educação. A educação é completamente diferente da nossa e por consequência os valores da sociedade também.
Eu tenho um orgulho desmesurado de ser portuguesa. Tenho uma paixão imensa por este país, e um enorme sentido de patrotismo. Mas não é isso que me deita poeira para os olhos para me fazer crer que somos melhores do que os outros. mas também não somos os piores em tudo.
Acho que nos cabe a todos mudar. Não tenho casa com jardim, mas tenho cães que fazem as necessidades nas jantes do meu carro. Claro que os pobre não têm culpa o que faço é explicar aos donos deles pacientemente que a ideia não é muito boa e que podem levar o cão a outro lado. Nunca tive problemas, sempre compreenderam. Sou incapaz de maltratar um animal (pronto ok mato as melgas no verão) e quero transmitir isso aos meus filhos quando os tiver.
Já consegui que amigos meus que não gostavam de animais mudassem a forma que tinham de agir. Por isso em acho que nos cabe a nós fazer com que o país tenha algumas mudanças.
Claro que somos "atrasados" em relação a muitas coisas, mas, basta-nos analisar a conjuntura histórica e compreendemos o porquê.
Há países que me fascinam pela forma de organização que têm, pela sua mentalidade a Holanda é um deles. mas continuo a amar Portugal sempre.
Beijokas
kathleen
Pois a Holanda não é o Paraíso mas ás vezes parece. A sua descrição fez-me sonhar

Claro que o que se passa é uma coisa somente: Educação. A educação é completamente diferente da nossa e por consequência os valores da sociedade também.
Eu tenho um orgulho desmesurado de ser portuguesa. Tenho uma paixão imensa por este país, e um enorme sentido de patrotismo. Mas não é isso que me deita poeira para os olhos para me fazer crer que somos melhores do que os outros. mas também não somos os piores em tudo.
Acho que nos cabe a todos mudar. Não tenho casa com jardim, mas tenho cães que fazem as necessidades nas jantes do meu carro. Claro que os pobre não têm culpa o que faço é explicar aos donos deles pacientemente que a ideia não é muito boa e que podem levar o cão a outro lado. Nunca tive problemas, sempre compreenderam. Sou incapaz de maltratar um animal (pronto ok mato as melgas no verão) e quero transmitir isso aos meus filhos quando os tiver.
Já consegui que amigos meus que não gostavam de animais mudassem a forma que tinham de agir. Por isso em acho que nos cabe a nós fazer com que o país tenha algumas mudanças.
Claro que somos "atrasados" em relação a muitas coisas, mas, basta-nos analisar a conjuntura histórica e compreendemos o porquê.
Há países que me fascinam pela forma de organização que têm, pela sua mentalidade a Holanda é um deles. mas continuo a amar Portugal sempre.
Beijokas
kathleen
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Quem dera... ai, ai (suspiro profundo
também não sabia como escrevê-lo, PaulaSSantos
)!
Pois, um cantinho com uma dúzia de quintinhas, ou mais... :p
aqui para o pessoal! 


JoanaGoncalves Escreveu:Nanico, agora fiquei invejosa...
Não existe para aí nenhum cantinho aqui prá gente?:D:D:D:D
Pois, um cantinho com uma dúzia de quintinhas, ou mais... :p



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Olá
Eu nasci numa aldeia há muitos anos. Sim, porque, para quem não sabe, eu já tenho uns anitos de idade. Ainda me lembro da guerra que acabou em 1945. Lembro-me de terem tocado o sino quando souberam da notícia através dos dois ou três rádios que havia lá na aldeia e que se ouviam com muito ruído.
Esta descrição da Nanico, excelente como sempre (parabéns Nanico
) faz-me lembrar a minha aldeia desse tempo. Os cães, as galinhas e os gatos também andavam sempre soltos na rua. Não havia perigo, porque automóveis passava um de três em três dias. O transporte era a bicicleta, claro, para os que tinham mais posses. Muitos andavam a pé e, ainda por cima de pé descalço.
E havia muita fome. Os poucos cães que existiam também passavam fome. Hoje ainda se usam aquelas expressões: “fome de cão”, “vida de cão”, “escanzelado”.
Hoje já não há aldeias assim. Os tempos mudaram e a civilização trouxe coisas boas e coisas más.
O que existe é muito saudosismo. Eu sinto uma enorme nostalgia quando vou à aldeia e a vejo cada vez mais transfigurada, atravessada por carros a alta velocidade, casas made in France com aplicações de fórmica e, no lugar da taberna, um bar com anúncios da coca-cola.
As pessoas desse tempo passavam muito mal. Quando começou a haver alguma fartura, muito naturalmente, as pessoas abominaram os costumes e hábitos ligados a todas as formas tradicionais de viver: alimentação, vestuário, habitação, etc. Estes novos costumes, próprios dos ricos, também eram um sinal de promoção social.
Com a remessa dos emigrantes muitas famílias passaram a comer carne em doses industriais e a contrair doenças próprias das civilizações modernas e desenvolvidas. A paisagem alterou-se com pequenas “maisons”, a agricultura abandonou-se e os jovens foram para as grandes cidades e mais recentemente para a universidade.
Este processo de “desenvolvimento” é natural.
A preservação ou remodelação do património rústico e a retoma dos hábitos ancestrais dificilmente poderia ser feita pelos que sofreram na pele aquelas privações. Isso sim por gerações já completamente libertas dessa memória e desses “complexos do pobre”. Por determinada elite culta e relativamente esclarecida.
Não deixa de ser sintomático que acções de remodelação do património rústico sejam feitas por estrangeiros que se vieram fixar em Portugal em diversas zonas do país.
Eu nasci numa aldeia há muitos anos. Sim, porque, para quem não sabe, eu já tenho uns anitos de idade. Ainda me lembro da guerra que acabou em 1945. Lembro-me de terem tocado o sino quando souberam da notícia através dos dois ou três rádios que havia lá na aldeia e que se ouviam com muito ruído.
Esta descrição da Nanico, excelente como sempre (parabéns Nanico

E havia muita fome. Os poucos cães que existiam também passavam fome. Hoje ainda se usam aquelas expressões: “fome de cão”, “vida de cão”, “escanzelado”.
Hoje já não há aldeias assim. Os tempos mudaram e a civilização trouxe coisas boas e coisas más.
O que existe é muito saudosismo. Eu sinto uma enorme nostalgia quando vou à aldeia e a vejo cada vez mais transfigurada, atravessada por carros a alta velocidade, casas made in France com aplicações de fórmica e, no lugar da taberna, um bar com anúncios da coca-cola.
As pessoas desse tempo passavam muito mal. Quando começou a haver alguma fartura, muito naturalmente, as pessoas abominaram os costumes e hábitos ligados a todas as formas tradicionais de viver: alimentação, vestuário, habitação, etc. Estes novos costumes, próprios dos ricos, também eram um sinal de promoção social.
Com a remessa dos emigrantes muitas famílias passaram a comer carne em doses industriais e a contrair doenças próprias das civilizações modernas e desenvolvidas. A paisagem alterou-se com pequenas “maisons”, a agricultura abandonou-se e os jovens foram para as grandes cidades e mais recentemente para a universidade.
Este processo de “desenvolvimento” é natural.
A preservação ou remodelação do património rústico e a retoma dos hábitos ancestrais dificilmente poderia ser feita pelos que sofreram na pele aquelas privações. Isso sim por gerações já completamente libertas dessa memória e desses “complexos do pobre”. Por determinada elite culta e relativamente esclarecida.
Não deixa de ser sintomático que acções de remodelação do património rústico sejam feitas por estrangeiros que se vieram fixar em Portugal em diversas zonas do país.
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- Registado: quarta mai 07, 2003 2:45 pm
Apesar de nem todas as pessoas terem uma casa grande com um quintal fantástico muitas têm animais de companhia. Não se pode proibir essas pessoas de terem um cão, só porque não têm terreno.
Outras há porém que têm relva e terra e espaço, mas não deixam o bicho fazer um buraco porque vai estragar a perfeição...
Apesar de ser necessário educar o cão não acho saudável negar-lhes alguns instintos, como seja escavar.
Claro está que o ideal seria se todos pudessemos viver como a Nanico, mas infelizmente a maioria não tem hipótese.
Resta-nos o conforto de saber que damos o melhor aos nossos amigos!!!
Fiquem bem
Outras há porém que têm relva e terra e espaço, mas não deixam o bicho fazer um buraco porque vai estragar a perfeição...
Apesar de ser necessário educar o cão não acho saudável negar-lhes alguns instintos, como seja escavar.
Claro está que o ideal seria se todos pudessemos viver como a Nanico, mas infelizmente a maioria não tem hipótese.
Resta-nos o conforto de saber que damos o melhor aos nossos amigos!!!
Fiquem bem
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- Membro Veterano
- Mensagens: 496
- Registado: quarta mar 19, 2003 6:18 pm
- Localização: 4 gatos, o Felix o Bethoven a Tareca e a Rita 3 peixes e 1 canário o João
Olá Nanico
Fiquei encantada com a sua descrição e a única coisa que me resta é sonhar. E sonhar por duas razões. Sonhar com o passado como muito bem descreve o Nel e sonhar com o futuro, pra que um dia este país ainda venha a ser um pouco como a Holanda.
Franc
Fiquei encantada com a sua descrição e a única coisa que me resta é sonhar. E sonhar por duas razões. Sonhar com o passado como muito bem descreve o Nel e sonhar com o futuro, pra que um dia este país ainda venha a ser um pouco como a Holanda.
Franc