dinodane Escreveu:Nicosa, acho que as "conquistas" que referes são coisa pouca...
erradicou doenças do planeta
Quererás dizer, erradicou certas doenças do mundo ocidental... Tens ideia da quantidade de gente que morre de malária, sarampo, difteria, febre tifóide, raiva, etc nos países do terceiro mundo?
Erradicou certas doenças do Mundo Ocidental mas para além de hoje estarmos a assistir a uma disgenia do ser humano (muita atenção que emprego o conceito disgenia sem conotações homofóbicas) demos terreno para que outras doenças se desenvolvessem. Doenças auto-imunes como a Esclerose múltipla e a Diabetes mellitus tipo 1 que se pensam serem provocadas por uma falta de contacto de agentes patogénicos fazendo o sistema imunitário virar-se para o próprio organismo que tenta defender são hoje uma epidemia. Problemas psíquicos como transtornos de ansiedade social, personalidades histriónicas, esquizóides, etc. ocupam hoje uma parcela enorme no rol de doenças que a nossa sociedade ultra-avançada fez aumentar.
Esta nossa sociedade mega-tudo e mais alguma coisa levou-nos a um estado extremo de alienação fazendo-nos objectos e fazendo com que nos fizéssemos e façamo-nos objectos de invólucro o mais tipado possível, para agradar ao "consumidor" que desesperadamente queremos que nos compre para que nos libertemos da nossa ultra-individualização gerada pela competitividade atroz e cruel, que no fundo não é mais do que a eterna força que nos faz querer sobreviver ao outro, transposta para a nossa realidade de garantir que o outro não fica com aquele emprego custe o que custar mesmo que para isso tenhamos de lhe encostar um cano de um revólver às têmporas ou pôr-lhe estricnina no comer. O que não nos lembramos é que a competitividade de que falei deveria acontecer entre espécies e não entre indivíduos de uma mesma espécie, e muito menos numa espécie como a nossa que, caso não tenham reparado é social por natureza, o que implica - ou que pelo menos deveria implicar- que agíssemos como tal. Como exemplo, lembro o caso recente de uma senhora que desmaiou num hospital dos EUA e ficou ali horas, sem que ninguém dos que por ela passaram e a viram a fossem acudir. A senhora acabou por falecer no local. É de loucos, ou não?
Já o Terceiro Mundo (que no sentido cru e literal é o nosso mundo, caso não tenham outra vez reparado) é vítima de um boom populacional e ao mesmo tempo de um boom patogénico, provocados, ambos por um choque ideológico-tecnológico resultante da tentativa de enraizar à força o sistema social, político e económico do nosso Ocidente nesse Terceiro mundo que pelo nome parece tão longínquo mas que para afinal está só separado pelo
Mare Nostrum. Digo tentativa, porque o plano era fazer uma civilização à imagem da "civilização", o que correu mal fazendo com que incorporassem alguns princípios da nossa civilização mas os restantes não, quando para que vivessem na harmonia (palavra larga...)que nós queríamos, bastava, precisamente, que não lhes impingíssemos a nossa harmonia, ou pelo menos da forma abrupta com que o fizemos, nem dando tempo para que fossem assimilados os seus princípios.
Isto para dizer que, sim, vamos extinguir-nos e que já estamos a fazer por isso. E também para dizer o seguinte.
No mundo (no primeiro, no segundo, e no terceiro) na minha opinião a situação dos animais está similar. Falamos dos maus tratos dos pescadores de Reunion e esquecemo-nos dos maus tratos que cá em cima fazemos, porque se o hemisfério norte tem males humanos que o hemisfério Sul não tem e vice versa, há-de ter também males animais que o Sul não tem e vice versa.
Surge então a doce humanização, a forma máxima de bons tratos que poderíamos dar a um animal. Confessem lá: que melhor modo de dar carinho e amor ao nosso peluche do que vestindo-o – satisfazendo assim um nosso fetiche tortuoso – com aquela cópia do vestidinho da Barbie que mandámos fazer à medida para o nosso rechonchudo – extremamente obeso para não mentir. Depois fornecemos-lhes champanhe canino – maravilha de utilidade inultrapassável – e pomo-lo a dançar balé. De seguida sentamo-lo à mesa connosco para jantar e acabada a refeição damos-lhe um sonífero; ele até nem tem dificuldades para dormir, mas como dar-lho torna-lo mais parecido connosco, com todos os nossos desiquilíbrios, então damos-lho.
Aposto que ele está feliz, tão acarinhado que foi, e vai estar mais quando for pai, sim, porque também arranjamos sempre maneira de fazer uma ninhada como quem manda uma beata de cigarro para o chão. Nasceram os cachorrinhos, muitos e disformes. Um tem os dentes de fora, os brutos dizem que é prognatismo, mas não importa se é ou não, pois dá-lhe um charme especial.
Outra questão que muito afecta os amigos dos animais é a raça do bicho.
«Eles na Arca de noé dizem que o fofo é rafeiro, mas nós sabemos que não; perdão, nós queremos que não, porque assim não poderíamos chegar cheios de jactância ao pé da nossa vizinha e esfregar-lhe o boby nas trombas cheios de arrogância.
«É filho de campeões» gostamos nós de cuspir aos que nos perguntam quando vamos na rua se o boby não se sente desconfortável por andar de ceroulas e xaile no píncaro do Verão. Tem de ser um descendente de campeão, não basta ser de raça, e é insuportável que seja um rafeiro. E porque será? Não sei. Talvez nos alimente o eu exibir um cão que nomeámos de lavrador puro aquando do casamento. « Boby aceita o seu dono como seu marido, na saúde e na doença (...) até que a morte ou algum membro indelicado da Arca de Noé ao dizer que Boby é rafeiro e por isso você o abandone porque chegou à conclusão que o membro bruto até dizia a verdade, sendo, portanto inconcebível partilhar um lar com um vira-latas, os separe? Até já faltou mais para que possamos ver isto... casamentos.
Maltratam-se animais em todo o lado. Achamos que somos melhores que os outros no que toca a cuidar dos animais e desequilibramo-los com humanizações perversas e gritantes. Nisto incluem-se as ninhadas “avulso” que dão ao abandono milhares de animais que não só se corrompem na miséria como corrompem os ecossistemas; e tudo porque a gatinha e a cadelinha têm de sentir o prazer de serem mães e verem os filhos crescer, licenciar-se e casar.
Depois há as associações amigas dos fofos (como esta
http://arcadenoe.sapo.pt/forum/viewtopic.php?t=40231que prestou um serviço inigualável à causa animal) que para além de não saberem um corno daquilo que dizem defender, são responsáveis ainda por actos terroristas e destruição de propriedade alheia com vista a libertar o fofo oprimido por dez mil anos de subjugação humana.
Lembro-me quando era pequeno de ver muitos burros; magros, coitados, abusava-se deles para o trabalho e comiam quase nada. Hoje já não há praticamente burros. Então, melhoramos? É claro, já não passam fome, porque simplesmente estão na posse de meia dúzia de admiradores que os tentam manter para que não se extingam. Pergunto outra vez: melhoramos? Talvez, ou talvez apenas tenhamos mudado a forma como maltratamos. Deixamos de abusar deles para simplesmente esquecermo-nos deles. Como já disse algures num outro tópico a violência existe e existirá sempre no mundo. Pessoas e animais continuarão a ser maltratados, pois a violência faz parte da natureza humana (sim, não é só uma característica dos veteranos mauzões da Arca de Noé). Sinceramente penso que não estamos mais humanitários do que estávamos há mil anos atrás, simplesmente acho que canalizámos a nossa violência para outo lado. Ontem Henrique VIII mandou decapitar duas das suas mulheres. Hoje não veremos a Rainha de Inglaterra a decapitar o marido. Para onde foi então a violência humana? Talvez tenha ido para Josef Fritzl o psicopata que na Áustria manteve a filha presa numa cave durante 24 anos.
É claro que as coisas não são tão elementares quanto o que eu mostrei, mas acho que me fiz entender.
Já me desviei outra vez do tema. Mas queria só mostrar que estamos tão preocupados com o pescador que em África usa o cão como isco, que nem reparamos no nosso cão obeso que manda em nós e que vai morrer de diabetes prematuramente.
Não somos assim tão diferentes dos "outros", apenas temos uma forma de lidar com a nossa natureza vil de forma diferente.