Raposas domésticas

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Moderador: mcerqueira

fang
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domingo jun 02, 2002 5:38 pm

Olá,

Vi há tempos num site este artigo, o qual guardei.
Hoje quando dava volta aos meus ficheiros encontrei-o.

Recriando a História da Domesticação:

A Quinta das Raposas de Belyaev

Um animal manso não é um animal doméstico. Se qualquer um de nós capturar, digamos, uma cria de leão, lobo ou urso na natureza, e o levarmos para criá-lo connosco, muito provavelmente teremos em casa, depois de alguns anos, um leão, lobo ou urso domesticado, não doméstico. Este já estará mais ou menos adaptado à nossa presença e à de alguns outros membros da família. Mas aquele animal não é doméstico: entre outras coisas, porque se ele se acasalar e tiver crias, essas crias serão ariscas como os animais selvagens – a não ser que você trate deles desde pequenos novamente. Animais silvestres podem chegar a tolerar algum contacto humano. Mas com certeza vai existir uma diferença muito grande entre o comportamento de um lince e o de um gato, no que se refere à facilidade de interacção connosco.

Isto porque a domesticação é um processo que leva milhares de anos para ocorrer. Animais domésticos nascem construtivamente sem medo de humanos. Ou, por outras palavras, são biologicamente mais afáveis para os humanos do que os seus parentes selvagens. Como veremos a seguir, um animal doméstico não é apenas mais "tratável" do que um selvagem. Todos eles (cães, porcos, cavalos, bois, ovelhas, etc.) têm características físicas e biológicas marcadamente diferentes das dos seus antepassados de vida livre.
A domesticação de animais é um campo que muito tem intrigado os cientistas do comportamento animal. Quando, como e por que os seres humanos decidiram domesticar um animal? Ou, segundo alguns crêem, será que os animais selvagens "se domesticaram" ao se adaptarem à vida perto do homem, e que apenas a seleção natural foi agindo sobre eles?
Um geneticista russo, Dmitry K. Belyaev, passou toda a vida estudando a domesticação animal. Sua hipótese era a de que o factor determinante para um animal selvagem ser aceite inicialmente como companhia para o homem, não era tanto o seu tamanho ou a sua capacidade reprodutiva, mas sim a sua domesticabilidade, a facilidade com a qual um dado indivíduo da espécie permitia a aproximação humana. Indivíduos tolerantes seriam mantidos e cruzados entre si. Os intolerantes teriam sido descartados ou não considerados para a perpetuação da raça.
É mais fácil de entender se considerarmos o exemplo típico de animal doméstico, o cão. Seus antepassados eram lobos. De acordo com Belyaev, os primeiros indivíduos dessa espécie que foram criados por humanos foram-no por causa das suas boas características comportamentais. Ao longo de milhares de anos, essa descendência "bem comportada" foi sendo cruzada entre si, até que finalmente os animais já não apresentassem traços do comportamento arisco selvagem. Nesse "momento" surgiu o lobo doméstico, ou o cão.
Belyaev testou a sua hipótese com um projecto que abarcou toda a sua vida: tentar "comprimir" esse processo multimilenar de selecção artificial nalgumas décadas apenas, usando para isso um animal muito parecido com os lobos e os cães, mas que nunca antes tinha sido domesticado: a raposa.
Na cidade de Novosibirsk, em plena Sibéria, funciona há quase 40 anos uma enorme Quinta de criação de raposas. Em países do hemisfério norte, criam-se comercialmente as raposas para se comercializar suas peles. Mas nesta fazenda concreta, o que interessa para os cientistas não é a qualidade da pele, mas a domesticabilidade, a "afabilidade" das raposas.
O critério para permitir às raposas se perpetuarem, desde o início, foi muito simples. Desde pequenas, os tratadores tentam acariciá-las e interagir com elas. De acordo com a reação dos animais, eles são divididos em 3 subgrupos:
Raposas Classe III Fogem do tratador ou tentam morder-lhe a mão quando tocadas.
Raposas Classe II Permitem que sejam tocadas, porém não apresentam sinais emotivos à vista do tratador.
Raposas Classe I São amigáveis, balançam a cauda e ganem quando o tratador está presente.
Depois da sexta geração de raposas, foi necessário criar uma outra categoria, ainda mais restrita:
Raposas Classe IE São a "elite domesticada": procuram activamente atrair a atenção do tratador, lambendo-lhe as mãos e agindo em tudo como os cães.
Na décima geração, 18% das crias pertenciam à Classe IE. Na vigésima geração, a cifra subiu para 35%. Hoje, 40 anos e 45000 raposas depois de Belyaev ter começado os seus trabalhos, 70 a 80% das raposas são Classe IE.
Juntamente com essas alterações drásticas de comportamento, os cientistas que continuaram os trabalhos de Belyaev foram notando o surgimento de várias características físicas típicas de animais domésticos: despigmentação de grandes áreas do corpo, caudas mais curtas e enroladas, e orelhas pendentes.
Além disso, os animais selvagens têm ciclos reprodutivos anuais (geralmente, uma vez ao ano), bastante bem determinados e marcados por factores ambientais, como a duração do dia. Já os animais domésticos são "desregulados": podem acasalar-se mais de uma vez por ano, e em qualquer estação, independentemente do ambiente. Esta foi a única característica que os domesticadores de raposas ainda não observaram nos seus animais.
Todas essas características estão presentes nos animais domésticos. Isso indica algumas coisas interessantes.
Em primeiro lugar, que os factores biológicos que determinam o comportamento do animal são muito complexos e interligados com outros factores que são responsáveis por outras características, fisiológicas ou morfológicas, que, aparentemente, não tem nada a ver com o comportamento.
Depois, que quaisquer que sejam os mecanismos responsáveis por estas alterações comportamentais e fisiológicas, eles são mais ou menos os mesmos para todos os vertebrados. Com efeito, as características físicas mencionadas acima são comuns em cavalos, cães, porcos, ratos, ovelhas, bois, etc.
Quando comparadas aos animais selvagens, as raposas domesticadas apresentam ainda outras característica anatómicas: o volume do crâneo diminui em ambos os sexos, e os focinhos tendem a ser mais curtos e largos. Além disso, os crânios dos machos domésticos são mais parecidos com os das fêmeas (isto é, o processo de domesticação parece "feminizar" o crânio dos animais). Os cães apresentam padrões semelhantes, quando comparados com os lobos.
As experiências do grupo de Novosibirsk indicam, portanto, que é plausível imaginar que o principal critério de escolha de quais animais seriam admitidos ao convívio humano foi precisamente sua domesticabilidade, posto que isto também explica as alterações fisiológicas e morfológicas observadas nos animais domésticos, sem necessariamente ter-se que recorrer a outros critérios, como o tamanho do animal e a capacidade reprodutiva. Os russos agora dispõem de raposas domésticas, e estão a pensar inclusive em colocar algumas à venda como animais de estimação, como uma forma de angariar fundos para continuarem as suas pesquisas, além de isso já ser em si uma "experiência" informal bastante curiosa.

Este texto foi baseado fundamentalmente no artigo
"Early canid domestication: the farm-fox experiment"
American Scientist, 1999, 87, 160-169.
Lyudmila N. Trut
Institute of Cytology and Genetics of the
Russian Academy of Sciences
630090 Novosibirsk 90, Russia
[email protected]
A acuidade das informações é de minha responsabilidade.
© Breno Pannia Espósito.
Sinta-se à vontade para utilizar o texto, apenas concedendo-me os créditos.
O que é que acham???.... Teremos em breve raposas domésticas á venda nas lojas??
<p>Francisco Barros</p>
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fang
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domingo jun 02, 2002 5:42 pm

Em relação ao post anterior, devo confessar que já tive, há 11 anos atrás uma raposa em casa.
Tratava-se de uma fêmea encontrada com cerca de 2 meses em muito mau estado por um miudo quando passeava pelo campo. Foi encontrada amarrada pelas patas traseiras com um arame e pendurada numa árvore ( sempre gostava de saber quem foi o sacana que fez isto! ). Depois de recuperada, uma das patas traseiras nunca ficou a 100%, pois um dos tendões foi afectado. Resolvi ficar com ela pois um animal na natureza não sobrevive com mazelas e alem do mais tratava-se de um animal bastante sociável.
Fora os banhos assíduos ( o almíscar é muito mais intenso que o dos cães ), enquanto foi cachorra nunca deu problemas e adorava colo. Embora muito independente era ao mesmo tempo sociável e afectuosa ( se querem que vos diga quando tive huskies, foi com quem eu mais os identifiquei...) . Mais tarde , após fazer um saque ás galinhas do vizinho, tive de mante-la fechada durante mais tempo. Até aqui tudo bem, perguntava a mim próprio porque é que um animal simpático como este não era usado com vulgaridade como animal de estimação (com as devidas precauções como é lógico).
Ao ano e meio, sensivelmente, por altura do 2º cio, começou a mostrar-se muito inquieta, mostrando-se mesmo indiferente ás brincadeiras. Parecia que a sua mente estava noutro lado.
Tive pena dela e deixei-a solta no quintal á noite para espairecer. Passado +- 2 horas tinha saltado o muro e ido vadiar.
Escusado será dizer que embora chamasse a “fox” por todo o lado, apenas ouvia os cães das redondezas a ladrar. Desisti, o instinto de reprodução que a chamava para os da sua espécie era mais forte do que os laços que a uniam a mim.
Para grande surpresa minha, de manhã, encontrei 1 galinha enterrada no quintal ( ainda hoje estou para saber quem era o dono da mesma...). Fiquei de certo modo contente, ela tinha escolhido aquele como o seu território, pois as raposas tem hábito de fazer despensa nos seus territórios.
O problema é que nunca mais voltou. Fiquei , embora com algumas saudades, contente. A “fox” tinha escolhido o seu destino. Quem sabe não iria ser mãe de lindíssimas crias, e quem era eu para estar contra a sua vontade.
Passado 1 ano chegou-me ao conhecimento que a “fox” tinha sido abatida uma semana depois de ter saído de casa por um caçador furtivo de coelhos a mais de 1 km da povoação e que nem a dignidade de me entregar a coleira teve. É que esse senhor sabia da presença da raposa em minha casa.
Eu sabia que corria esses riscos com a “fox” em liberdade, pois as raposas são espécies cinegéticas, mas custa um bocado que este animal que esteve comigo 1 ano e meio fosse abatida em plena época de defeso. Eu que estava disposto a pagar todos os prejuízos que parece não terem sido muitos, pois ninguém se queixou.

Desculpem lá este testamento mas quando inseri o post acima, fiquei algo nostálgico com este episódio passado. :?

Moral da história: Entre um animal doméstico e domesticado vai alguma diferença... a suficiente para nos dar problemas e “desgostos” mais tarde ou mais cedo...
:|
<p>Francisco Barros</p>
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CindelP
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domingo jun 02, 2002 7:06 pm

Olá fang,

Já tinha conhecimento dessa estudo/experiencia com essas raposas, mas continua a ser algo fascinante, mostrando por um lado que o caracter de um animal é genetico ( instinto) mas que por outro lado eles adaptam-se ao meio onde vivem - osbrivivencia do mais apto ( é claro que neste caso em função da sua utilidade para o Homem).

Se vamos ou não ter brevemente animais selvagens nas nossas casas é um enigna. Sou contra a venda de animais retirados dos seu habitat natural (excepto em certos casos, tal como com a sua "fox"), mas temos um dilema. As coleções particulares de animais selvagens (nunca gostem muito do termo selvagem, mas na falta de outro) vão aumentando (desde animais pacificos como antilopes a grandes felinos) e proliferando pela Europa sendo já bastante comuns nos EUA quanto tempo demorará a chegar á Europa Ocidental ?
Os Zoos tambem têm de arranjar saida para as crias que lá nascem, afinal proibidir os animais de se reproduzirem (podem diminuir a frequencia, mas eliminar ....) poderá causar enorme disturbios no seu comportamento, pois como sabemos o ciclo de vida dos animais "selvagens" está em grande parte orientado para a reprodução, a continuidade da especie. Tendo em conta que os Zoss têm em geral os animais no mais proximo á liberdade, em grupos sociais e propicios ao ciclo normal de vida de cada animal e consequeentemente á sua reprodução. Por isso, especialmente com as especies mais comuns (tipo leoes africanos ) haverá em excesso. Evitar a reprodução nao será benefico para os animais, o abate das crias não será etico, a re-inrodução nos habitats além de cara, complicada pode por em risco os ecosistemas locais e os variebilidade genetica do local. Uma solução logica era "ceder" esses animais a particulares que provassem ter condições e conhecimentos para os manter.
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Nuria
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domingo jun 02, 2002 8:15 pm

Olá

Concordo com a Cindel, menos na parte dos zoos.
Como dizes, o nascimento de algumas espécies é muito frequente, mas é raro eles não terem sitio para ir, se forem fêmeas ficam, se foram machos é que têm de ir para outro sitio.

Acontece que o zoo de lisboa não anda lá muito preocupado com isso, e há um ano quando nasceu um leão macho eles não arranjaram nenhum zoo para ficar com ele(diga-se de passagem, não trabalharam muito para isso) e resolveram que ficaria ali no zoo. Durante um ano correu tudo bem, mas o pequeno começou a crescer e a querer ser o líder do grupo, só que esse lugar já estava tomado por um leão bastante velhote, o simba.

Resultado: O simba e a sua companheira(os leões africanos elegem sempre uma, ao contrário dos asiáticos) tiveram de ir para uma das jaulas minúsculas até se encontrar uma solução.

Cindel, esse problema do destino das crias é pouco comum, visto eles terem um ou dois de cada vez e em alguns casos, por falta de condições, as crias morrem.

No entanto se não der para ter mais leões(ou outro animal) há várias hipóteses:
- ir para outro zoo
- ir para uma reserva natural
- ir para um grupo que voltará a ser posto no seu habitat natural

Abraços
CindelP
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domingo jun 02, 2002 9:26 pm

Olá Nuria,

Pois há sempre a possibilidade de intercambio entre Zoos, mas pegando no exemplo dos leões - animais "comuns" nos Zoos e que se reproduzem com facilidade em cativeiro ( infelizmente até nas tristezas das prisoes dos circos), se for femea, como dizes, podem ficar por lá, mas e quando o recinto está cheio ? De certeza que os Zoos têm um numero limite de animais, tanto devido ao espaço como á economia do proprio. Há a possibilidade de inercâmbio, mas nestas especies comuns, penso que todos os Zoos os possuem e nao devem estar muito interessados em adquirir mais (ás tantas até já têm demais), além da dificuldade de introduzir novos elementos num grupo já estabelecido.
Nas reservas naturais como para serem introduzidos no seu habitat natural, penso que deve haver muito poucos lugares que não tenham estas especies "comuns" (tipo os leoes africanos) e além do dinheiro que custa.
Bom, mesmo que ainda haja Zoos a aceitar estes animais mais "comuns" e alguns lugares/reservas dispostos a resolver vai chegar a um ponto que onde já tudo estará cheio. E o que fazer ás crias ? Voltamos ao meu post original.
visto eles terem um ou dois de cada vez e em alguns casos, por falta de condições, as crias morrem.
Pode haver animais que tenham apenas uma ou duas crias, mas também há animais que têm ninhadas maiores.
Sobre as condições, se estamos a falar de Zoos, supostamente entidades preocupadas com os animais, que proporcionam-lhes as melhores condições, a mortalidade dos recem-nascidos devido ás condições deverá ser muito baixa.

Sobre o Zoo de Lisboa já não lá vou algum tempo, mas as memorias que tenho não são as melhores, começando pelas referidas jaulas minusculas dos felinos até ás "humanizadas" e simples jaulas dos primatas. Não sei como esta agora, mas como dizes, muito diferente nao deve estar.
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fang
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domingo jun 02, 2002 10:59 pm

Olá Cindel e Nuria,
Se vamos ou não ter brevemente animais selvagens nas nossas casas é um enigna. Sou contra a venda de animais retirados dos seu habitat natural (excepto em certos casos, tal como com a sua "fox"), mas temos um dilema. As coleções particulares de animais selvagens (nunca gostem muito do termo selvagem, mas na falta de outro) vão aumentando (desde animais pacificos como antilopes a grandes felinos) e proliferando pela Europa sendo já bastante comuns nos EUA quanto tempo demorará a chegar á Europa Ocidental ?
Acho que estamos a confundir algumas coisas.
Raposas Classe IE São a "elite domesticada": procuram activamente atrair a atenção do tratador, lambendo-lhe as mãos e agindo em tudo como os cães.
Na décima geração, 18% das crias pertenciam à Classe IE. Na vigésima geração, a cifra subiu para 35%. Hoje, 40 anos e 45000 raposas depois de Belyaev ter começado os seus trabalhos, 70 a 80% das raposas são Classe IE.
Juntamente com essas alterações drásticas de comportamento, os cientistas que continuaram os trabalhos de Belyaev foram notando o surgimento de várias características físicas típicas de animais domésticos: despigmentação de grandes áreas do corpo, caudas mais curtas e enroladas, e orelhas pendentes.
Pelo que eu percebo aqui, as raposas da Classe IE são completamente domésticas diferindo das selvagens tal como um cão de raça mais "apurada" difere dos Lobos.

Quanto aos animais "silvestres" fruto da reprodução em cativeiro, de facto pode ser um quebra-cabeças.
Por experiência própria qualquer animal nascido ou criado em cativeiro tem menos de 50% de hipoteses de sucesso quando inserido na natureza.
Os casos de sucesso referem-se sobretudo a animais jovens e recorrendo a ecking durante longos meses, o que implica despesas por veses avultadas.
Tenho muitas reticencias em relação a animais nascidos em cativeiro serem colocados em reservas naturais. Uma reserva natural é uma amostra de um ecossistema protegida onde os seus elementos (neste caso os animais) vivem adaptados na natureza como sempre viveram os seus antepassados, não tolerando exemplares inadaptados.
Gastar avultadas somas para introduzir e adapar á natureza exemplares de uma espécie que não está em risco, parece-me ilógico.
Para isso´era preferível distribui-los pelos excentricos que existem pelo mundo fora, minimizando o tráfico ilegal de animais selvagens retirados ao seu ambiente natural.
Aliás, isso é possível! Eu posso ter um leão em casa desde que tenha um certificado CITES. Claro que tem de ser comprovado que o animal é nascido e criado em cativeiro e que eu tenho condições de alojamento para obter o certificado.

De qualquer modo este assunto não é facil e acabará sempre por ser controverso.
<p>Francisco Barros</p>
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Nuria
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segunda jun 03, 2002 6:59 am

Eu sinceramente acho que existem dois animais domésticos: o cão e o gato.
Estes animais foram criados depropositadamente para ajudar o homem, tanto para lhe fazer companhia, como para o ajudar em algumas tarefas.
Qualquer animal fora destes dois, fazem-me impressão alguém ter em casa, pior ainda se não tiverem condições.

Não estou a dizer que sou contra as pessoas que têm animais que não são domésticos em casa e com condições, simplesmente faz-me impressão.

Abraços
fang
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segunda jun 03, 2002 6:58 pm

Ó Nuria..... então?? So cães e gatos?? :lol:
Está com uma visão muito pouco abrangente... :o

Então e o cavalo, o animal doméstico mais antigo a seguir ao cão?? Para já não falar das vacas, ovelhas, cabras, burros, porcos, furões, coelhos, galinhas, patos, zebus, iaques, alpacas, camelos, etc.etc., muitos dos quais com variadas raças.
Duvido que o homem na época em que domesticou estes animais estivesse preocupado apenas com a sua companhia. Todos os animais domesticados em tempos remotos só o foram porque o homem via neles utilidade, quer como alimento, quer como utilitários de vária ordem incluindo meio de transporte.
Sabia que o gato é uma domesticação muito mais recente do que muitos dos animais que referi anteriormente? E aliás a sua domesticação não é assim tão marcante. Nos meios rurais adaptam-se com frequência á vida selvagem, reproduzindo-se e sobrevivendo na natureza com estrema adapibilidade.
Sabia que a geneta foi introduzida na península ibérica pelos romanos há mais de 2 milénios como animal doméstico? Idem para o saca-rabos, este mais recentemente pelos mouros. Estas espécies tornaram-se novamente selvagens porque caíram em desuso pela utilidade que tinham – caçadoras de ratos, e pela introdução do gato doméstico muito mais especializado nessa função.

O conceito de animal doméstico pura e simplesmente para companhia é muito recente.
Exemplo disso são o canário e o periquito, este último com pouco mais de 1 século de domesticação, e para não falar de domesticações mais recentes de variadas espécies as quais já apresentam varias “raças”.

Qualquer espécie só não é doméstica enquanto não for domesticada. Isso pode levar séculos, mas é mesmo assim.

Um animal doméstico não tem necessariamente que ser de um animal de companhia, no entanto um animal de companhia deveria ser sempre um animal doméstico independente da espécie.

O que eu condeno é deterem-se animais em cativeiro provenientes do habitat natural em condições não apropriadas á espécie, muitas delas em perigo de extinção na natureza. Muitos nunca se reproduzem sequer porque nunca se irão adaptar á clausura.
E muitas mais coisas relacionadas com excêntricos com dinheiro e tráfico de animais....

Saudações caninas... e não só !!
:D
<p>Francisco Barros</p>
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Nuria
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segunda jun 03, 2002 7:24 pm

fang Escreveu:O que eu condeno é deterem-se animais em cativeiro provenientes do habitat natural em condições não apropriadas á espécie, muitas delas em perigo de extinção na natureza. Muitos nunca se reproduzem sequer porque nunca se irão adaptar á clausura.
E muitas mais coisas relacionadas com excêntricos com dinheiro e tráfico de animais....
Era aí que eu queria mais ao menos chegar, se calhar fui um pouco exagerada disso dos cães e gatos :lol:

é claro que os cavalos e restantes "animais de quinta" também são domésticos.

Mas neste caso o meu conceito de doméstico tinha mais a ver com estar com homem, ter um dono, viver com ele, brincar etc. etc. Se calhar pensaste que eu estava a referir-me ao cão e gato como únicos animais domesticados pelo homem ;)

Embora não conheça ninguém que tenha um cavalo ou uma ovelha em casa, não deixam de ser domésticos, é claro ;)

O homem ao ter um animal, em principio, quer uma companhia. Ao ter um cão ou um gato, terão essa companhia porque tanto o cão(ou o gato) como o dono gostam um do outro.

Mas por exemplo no outro dia estive a ver uma reportagem de uma senhora que tinha um cougar, e tinha condições, alimentação adequada e isso tudo, mas o animal simplesmente não era feliz.
Era muito solitário e tinha pouca motivação. Então os donos deram-no ao zoo da florida onde passou a viver com mais exemplares da sua especie e ficou muito mais feliz.

Abraços
fang
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segunda jun 03, 2002 7:44 pm

Embora não conheça ninguém que tenha um cavalo ou uma ovelha em casa, não deixam de ser domésticos, é claro
Olha que não... olha que não.... eheh.. :lol:

Já vi excentricos com porcos em casa... :lol:

E alem disso, animais domésticos de pequeno porte são mesmo muito comuns em casa de muita gente. Já tive em tempos um furão que era um brincalhão de 1ª !! ;) ... O almiscar é que é tramado... :|

Xauuuuu
<p>Francisco Barros</p>
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Bloodberry
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segunda jun 03, 2002 8:26 pm

lololol os porcos são tão lindos... são mesmo fofos.
meus amigos, animais domésticos, em meu ponto de vista, são os nossos melhores amigos sem contar com o homem, isto é, poderá ser uqalquer um. mas os riscos são muitos. é muito difícil perder habitos que vêm desde há gerações. há quem tenha leões em fazendas como toda a gente sabe. se visitarem o meu site verão lá a história verídica que eu vi num programa de animais que dava na sic. é preciso ter muito cuidado com casos excepcionais como este. os casos são muitos. eu adoro todos os animais e sempre quis ter um golfinho... espaço para ele é ke não há :oops: ...
São precisos muitos animais para se fazer um casaco de peles, mas só um para o usar...
Nuria
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segunda jun 03, 2002 8:46 pm

Bloodberry Escreveu: eu adoro todos os animais e sempre quis ter um golfinho... espaço para ele é ke não há :oops: ...
Passo a vida a ouvir isto: "quem me dera ter um golfinho, ou um leão-marinho.... mas não tenho espaço"
Bom, quem não gostava de ter um golfinho, não é? Não é só ter uma piscina e atira-se o bixho lá para dentro.
o espaço é o menos, então e a alimentação?os cuidados? a água(sim porque o p.h. é especial e requere imensos cuidados)? talvez por estar mais próxima disto no zoo de lisboa, sei o trabalhão que dá ter golfinhos mesmo em zoos.
é super complicado, e são raras as vezes em que pessoas(em suas casas) conseguem ter um golfinho em cativeiro.

Cumprimentos
CindelP
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segunda jun 03, 2002 9:02 pm

Olás,

Pois, Fang, realmente estava a confundir os dois exemplos, o de animais selvagens (no seu "estado puro") com as raposas da geração IE - já domesticadas. Mas qual será a definiçao adequada de domesticada para estes casos ? Não apresentar medo do Homem ? Nâo é valido porque qualquer animal só manifesta medo do Homem (ou de qq outra coisa ) após uma má experiencia com a mesma. Manifestar comportamente afectivos ? Ovelhas e cabras são domesticadas, mas poucas são as que manifestam tais comportamentos. A sua sobrivivencia depender do Homem ? É a unica que vejo, no entanto ha imensas excepções.
eu adoro todos os animais e sempre quis ter um golfinho... espaço para ele é ke não há ...
Com todo o respeito, este tipo de afirmações são hilariantes, ridiculas e ao mesmo tempo triste. Ate parece que ter um animal é algo que se põe na prateleira, ainda mais quando estamos a falar de animais "selvagens" (nao gosto mesmo nada deste termo) que necessitam diferentes cuidados de um cão ou gato. É devido a este tipo de afirmações e de desejos, que ter animais selvagens em casa se possivel, pode se revelar numa experiencia terrivel. Já se deu conta que no seu habitat natural os animais tÊm sempre algo que fazer, se for em cativeiro, se queremos que tenham uma vida saudavel há que proporcionar novas e interessantes "brincadeiras" e desafios. E acredite que isto nao é facil, basta ir ao Zoo, passar pelas jaulas dos ursos, e veem a vida triste, monotoma que lá têm. Golfinhos, orcas e outros cetaceos, animais energeticos e extremamente sociaveis para ter numa piscina no quintal das traseiras ........ Na minha modesta opiniao este tipo de animal, olhando só ao temperamento devem ser dos mais dificeis de manter em casa. E sem falar nas instalações.

Mesmo em Zoos, nao sei porquê mas fico sempre com o pé atras, talves por que achar aqueles espectaculos demasiados humanizados para os animais ... mas, só quem vê os bastidores é que pode dizer se os animais realmente gostam ou nao. A verdade, é que tambem estes espectaculos quebram a rotina, e eles parecem gostar. Mas do parecer ao ser .....
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Florinda
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segunda jun 03, 2002 11:35 pm

Olá

Desculpem estar a meter-me na conversa, mas a impressão com que fiquei foi a de que a Bloodberry estava a brincar em relação ao golfinho. Assim como o pessoal diz que aceita Ferrari ou casa com piscina quando aparece mais um a pedinchar cães de raça.

Em relação ao tópico inicial, os critérios para definir "doméstico" parecem-me um pouco dúbios. O gato é considerado uma espécie doméstica. No entanto, os gatos que nascem fora do ambiente doméstico são completamente ariscos (eu diria até selvagens), e só com alguma paciência e persistência é que se consegue ganhar a confiança deles. Apanhá-los é ainda pior. Posto isto, devem considerar-se os gatos como animais domésticos?


Fiquem bem

Florinda
fang
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terça jun 04, 2002 3:45 am

Olá, pessoal !! :D

Para mim, a minha concepção de animal doméstico é a seguinte:
Qualquer espécie que foi seleccionado pelo homem para dela tirar partido, e que actualmente se destingue mais ou menos do ancestral selvagem ( a dependência do homem pode estar mais ou menos evidente ou quase não existir).
Neste rol tanto pode ter sido seleccionada a afectividade como simplesmente a maior produção de carne (não é por acaso que praticamente todos as espécies domesticas “comestíveis” são maiores que essas mesmas espécies em estado selvagem), ou mesmo a agressividade ( note-se os touros de lide).
O que interessa aqui é que ao longo dos tempos o homem manipulou espécies de uma forma ou de outra unicamente para sua utilidade ou seu belo prazer. Essas “variedades” daí resultantes estão alteradas geneticamente por selecção humana e diferenciam-se dos ancestrais selvagens . Estes são os animais domésticos !!
Os gatos domésticos continuam a ser domésticos, embora possam não depender do homem e sobreviver por eles mesmo, pois o património genético já não é exactamente igual ao do gato das areias – o seu ancestral, possuindo características diferentes.
Claro que populações de espécies domesticas quando se tornam "silvestres" tendem para uma uniformização genética podendo-se tornar numa nova sub-espécie ou numa variedade selvagem distinta ( note-se o caso dos dingos e das genetas ibéricas p. ex.).


Em relação a estas raposas, sendo elas canídeos, parece-me que o que se pretendeu com a experiência foi arranjar um paralelo com a domesticação sobretudo dos lobos, ou seja dos cães.
Sinceramente, não me parece que tenha algo de eticamente incorrecto já que não põe em causa a espécie no seu habitat selvagem nem se usa os animais para abate – como acontece na produção de peles.

Saudações a todos os animais domésticos... eheh... :lol:
<p>Francisco Barros</p>
<p><a href="http://vigilantesnatureza.paginas.sapo.pt">http://apgvn.pt.vu</a></p>
<p><a href="http://www.biodiversity4all.org">http://www.biodiversity4all.org</a> </p>
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