quinta jun 12, 2003 8:42 pm
Olá Paulo
Um excelente artigo, que mostra uma das muitas mudanças que ocorrem durante o processo de domesticação de uma espécie.
As espécies adaptam-se ao seu habitat ou ao seu nicho ecológico, adquirindo comportamentos, formas e modos de vida diferentes dos seus antecessores – como os tentilhões de Darwin. As Espécies/variedades domesticadas como é lógico, adaptaram-se ao homem.
Já li (não sei onde...) que alguns comportamentos adquiridos passam a inatos ao longo de muitas gerações.
Há uns tempos coloquei aqui um post sobre a domesticação de raposas na Rússia, onde após cerca de 40 anos de selecção intensiva se conseguiram exemplares com atitudes, comportamentos e mesmo características anatómicas idênticos aos nossos cães (que descendem de outra espécie).
Quando pensamos que os cães actuais são versões domesticadas dos lobos, vem-nos á cabeça as variadas formas e tamanhos. No entanto, não foi apenas nesses aspectos que alterámos o lobo. Também a relação entre “domesticado” e “domesticante” se foi alterando ao longo do tempo.
15 000 anos é o suficiente para “moldarmos” uma espécie em versões bastante “humanizadas”.
Atenuamos no lobo doméstico algumas capacidades ( que para nós humanos não interessavam) , mas acabámos por realçar e fazer evoluir outras que fazem do cão o animal que hoje conhecemos.
Nenhuma outra espécie sofreu tal processo de domesticação, sendo por isso natural que os cães actuais passassem a interpretar os humanos de forma diferente dos lobos. A nossa impregnação sobre esta espécie foi tal que, sob alguns aspectos, quase poderíamos afirmar “ter criado outra espécie”.
De facto tirámo-lhe algumas faculdades, sem as quais dificilmente teriam o mesmo sucesso do seu ancestral na natureza, mas estimulamo-lhe outras que fazem dele a espécie que melhor vive e interage com humanos.
Proporcionalmente, o cão perdeu massa encefálica em relação ao lobo com o processo de domesticação, ficando com algumas características de cachorro toda a vida. Não é um “muitifunções” como o seu ancestral, no entanto, sob o nosso ponto de vista, conceito e proveito, acaba por ser mais “inteligente”, ou como é referido no artigo: - tem uma inteligência diferente.
Pode ser menos inteligente que o lobo ( em relação á inteligencia “total” da espécie), mas o modo de interpretar o homem e de interagir com ele, faz com que nós homens valorizemos isso de tal modo, como de um de nós se tratasse.
Os lobos também “nos olham nos olhos”, no entanto como independentes que são, tentam solucionar os problemas por si mesmo, não tirando o partido dos humanos que os cães aprenderam a tirar. Por mais domesticados que sejam, não é domésticos. Não foram sujeitos ao processo de domesticação.
Para termos lobos a interagir connosco tal qual cães, precisaríamos de muitas gerações. Talvez outros 15 mil anos delas.
Por isso talvez as raças ditas mais “primitivas” são muito menos compreendidas pelos humanos que têm determinado estereotipo de cão domestico.
É pena não serem referidas as raças intervenientes nas experiências. Os resultados podem estar algo “sobrevalorizados” por se ter utilizado o mesmo “tipo” de cão.
Bem...
15 000 anos de domesticação trouxeram uma “cumplicidade” inter-específica que não ocorre entre mais nenhumas espécies. Este processo foi e será contínuo. Como serão os cães daqui a alguns milhares de anos??
<p>Francisco Barros</p>
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