Não tinha culpa de assim pensar! Vivi e cresci, felizmente, num Bairro de Lisboa, onde apenas via animais de raça, sendo raríssimo aparecer por lá um outro qualquer cachorro que não tivesse o seu Dono e/ou não fosse de raça! Estava a um pouco (senão totalmente!) desfasado da realidade que é este país e do modo como este trata/olha/abandona os animais.
Andei até, durante algum tempo em exposições caninas por todos o país, acompanhando e ajudando um criador de cães meu amigo – raça Rottveiler e Pastor Alemão. Se não os podia ter em casa, pelo menos podia conviver directamente com eles…
Com estas andanças conheci e fiz amizade com montes de criadores das mais diversas raças de cães. Dada a minha dedicação e ao gosto pelos animais, foram-me oferecendo cachorrinhos das mais diversas raças, mas dado ainda viver sobre as regras dos meus pais, que sempre respeitei, nunca aceitei nenhum! Mas sempre corria no meu pensamento que quando tivesse a minha casa, iria logo, logo, buscar um cachorro destes. Um se fosse um apartamento, dois ou três se fosse uma vivenda.
Entretanto, chegou a hora! Saí de casa dos meus pais e escolhi uma vivenda, com um terreno bom, nos arredores de Lisboa, junto à praia, para viver!
Poderia então concretizar o sonho de ter os meus cães. Fiz as minhas continhas, contabilizei o tempo que lhes podia dedicar, pensei de como seria quando fosse de férias, de quando teria que me ausentar para o estrangeiro em trabalho, acrescentei ainda uns gastos que poderia ter com qualquer doença súbita de um deles e … comecei à procura, dentro dos criadores das raças que gostava, dos meus dois fieis amigos!
Esta procura durou pouco, no entanto! Um dia, a caminho das compras, num Sábado, deparei-me com um gato atropelado no meio da estrada, que levantou a cabecita no preciso momento em que passei por ele! Assim que pude, inverti a marcha e lá fui eu apanhá-lo! Obviamente que fiquei com ele! Foi (já faleceu) o Bernardo, o meu 1º animal na minha casa nova!
E eu que queria um cão!
O Bernardo, para além de ter ficado sem uma das patas da frente, tinha “todas as doenças e mais algumas” e passei uma boa parte desse tempo em idas ao veterinário com ele! Infelizmente, não resistiu (era PIF) e passados 6 meses foi para o Céu!
Entretanto aquela vontade enorme que tinha de ter um Rotteveiler e um Pastor Alemão, e que finalmente tinha todas as condições para os ter, e que inclusive já estavam quase apalavrados com aquele meu amigo que fazia criação, foi sendo adiada, devido a ter precisamente um gato doente em casa!
Ora, nestas minhas andanças, quase diárias, pelo veterinário, fui falando com as pessoas na sala de espera do consultório, fui vendo os anúncios sem fim de animais abandonados, de animais para dar, tudo afixado naquelas mesmas paredes do consultório.
Aquilo foi mexendo comigo e a minha “cabeça” foi mudando…
Tanto mudou que, ainda antes do Bernardo ter ido para o Céu, já eu tinha mais um Gato, o Gastão! Tipo Siamês, “acabadinho” de ser abandonado! Não resisti e fui buscá-lo! Tal como mais tarde ainda, fui buscar a Mafalda, outra gata abandonada e mal tratada, com uma patita da frente partida.
Bem, o sonho dos cães, esse, estava cada vez mais longe…
Todos os dias, no trabalho, à hora do almoço, navegava por sites sobre animais: sites de Associações, Fóruns, Adopções, etc… e deparei-me com uma realidade, até então, se já não totalmente desconhecida, era ainda pior do que aquela que eu imaginava! Ou que no fundo não queria imaginar/acreditar!
Acabei por me fazer sócio, e à família toda também, de várias Associações de ajuda aos animais. Foi a minha maneira de ajudar um pouco, também, naquela altura.
Passados tempos, num jantar de amigos lá em casa, dei por mim a recusar uma oferta que muitos quereriam: um casal de Rotteveiler’s, com 10 semanas, com LOP e tudo, que o meu amigo criador me quis oferecer. Nesse dia à noite, lembro-me de estar na cama a pensar sobre o porquê de ter recusado aquela oferta, se até era um sonho antigo e tinha todas as condições para os ter?!?
Não cheguei a conclusão nenhuma, mas sei que ao outro dia, uma 6ª feira, dia 22 de Junho de 2007, saí mais cedo do trabalho, e quando dei por mim, estava à porta da União Zoófila!
Tinha visto um apelo qualquer, em algum lado, a pedir ajuda para a situação de falta de dinheiro e a alertar para lotação esgotada da UZ e daí lá ter ido, sem saber bem até ao que ia.
Enquanto estive à porta a pensar bem no que ia (ou não) fazer, reparei num canito que espreitava do lado de lá do muro e que não tirava os olhos de mim! Estive lá fora, sem entrar, seguramente, mais de meia hora e conforme circulava envolto nos meus pensamentos, sempre que levantava a cabeça e olhava, via aquela cabecita a olhar para mim!
Num impulso (embora pensado), entrei e disse: “ Quero levar comigo aquele cão ali empoleirado no muro!”
Fiquei a saber que era uma cadela e que tinha quase 3 anos. Como já “tinha” uma cadela, disse à Sra. que agora também queria um cão! Qualquer um! Queria aquele que ela achasse que precisava mais de um Lar! Após alguns minutos de espera, apareceu-me com um cachorro de 4 meses, que até fazia xixi pelas pernas abaixo, tal o medo que tinha de pessoas! Vinha “preso” no colo da Sra., senão mandava-se contra as grades/paredes a tentar fugir de tudo e de todos.
Agarrei neles, preenchi o que tinha a preencher e vim para casa, com a certeza de ter excedido até o maior dos meus sonhos, que era o de ter um cão! Eu tinha dois!
São a Bia e o Rafa!
Estou mesmo feliz com eles! Duvido que qualquer outro supere a amizade, a meiguice, o agradecimento, a educação, a dedicação, que estes dois nos dão! Por vezes até sinto que não sou merecedor dessa enorme fidelidade e amizade sem igual que eles me dão diariamente!
Daí para cá, já recolhi, mais dois gatos que nasceram na minha rua e que devido ao estado “selvagem” acabei por também ficar com eles. Tal como recolhi, em minha casa, muitos outros, que felizmente foram arranjando Donos, por mérito deles, que eu até conheço bem e que por tal, até os continuo a acompanhar.
Continuo a adorar as raças do início do texto. Continuo a apreciar (e até mesmo quase "babar"!), sempre que passo por alguém que passeia um cão dessas raças, bem tratado. (E aqui agradeço aos criadores a “sério”, o facto de me proporcionarem poder continuar a apreciar estas magníficas raças). Por vezes até meto conversa com os Donos, e fico ali a trocar impressões com eles sobre o cão, mas o meu sonho está concretizado, ali, bem na ponta das minhas trelas!
Um dia, quem sabe, não me aparecerá à porta um desses a precisar de ajuda! Até lá, e como melhor ou pior, o “mercado” vai absorvendo os cães de raça, até porque é ele, criador “sério”, que define qual a melhor altura para ter as ninhadas, ao contrário das outras que nascem na rua sem qualquer controlo, fico-me por estes (por enquanto), que estão abandonados a um canto e que todos teimamos em ignorar ou a fingir que não existe.
Se acompanham o Fórum, como eu, lembrem-se dos “Obamas”, das Michelles, do Salvador e de todos os outros que estão no fórum das adopções a precisar de ajuda!
PS: Espero não melindrar ninguém com este meu texto. Este é apenas isso mesmo, um texto que pode ser visto como de apelo, como de desabafo para com a realidade.
