ChloeS Escreveu: Fang, sinto um tom algo hostil na maneira como se exprime, quando quer eu quer o Franxdaniele nos dirigimos a si num tom calmo e cordial. Eu não me ri na sua cara, utilizei o smiley, precisamente para tornar o discurso mais leve e descontraído, por ter notado que opiniões contrárias à sua, nesta matéria, o irritam.
Eu não tenho, na maioria das vezes, tempo suficiente para poder responder em tempo real a fóruns da internet. Penso que estamos esclarecidos neste ponto e que esta interpretação foi completamente errada.
ChloeS Escreveu:
E, se bem entendi, irritam-no porque nós não trabalhamos no terreno e portanto somos os famosos activistas de sofá. E qualquer pessoa que não seja bióloga ou afim e não ande a defender espécies selvagens tem mais é de estar caladinho e não pode tomar partido nem dar opinião. Já viu como, numa democracia, a sociedade evoluiria mais lentamente sem a chamada opinião pública? Acha que a opinião pública só é constituída por experts na matéria?? Por essa lógica, acho que vou deixar de votar, afinal só quem está no poder e conhece os reais problemas do país e as reais dificuldades de governação é que sabe (é um exagero propositado para perceber porque discordo da sua atitude)
Mais uma coisa que interpretou mal.
ChloeS Escreveu:
Por que motivo parte do princípio que as espécies selvagens não nos preocupam? E por que acha que nós defendemos a extinção das espécies domésticas?
Exactamente pelos argumentos e acções que muitos activistas dos direitos dos animais tomam. Se tiver dúvidas, cito alguns.
ChloeS Escreveu:
Vou fazer-lhe duas perguntas para tentar perceber melhor o seu ponto de vista e, eventualmente, corrigir o meu:
Porque o preocupa a manutenção das espécies domésticas? A espécie para si vale porquê? (atenção: não estou a dizer que para mim não vale, quero é saber o que o leva a si a dar valor à espécie, quando dá muito menos valor aos indivíduos).
Eu não falei em espécies domésticas, mas sim em
Espécies.
A maioria das raças domésticas ainda detêm os seus fenótipos selvagens. Outras infelizmente já não, como o caso da maioria dos ruminantes.
A espécie vale para mim como uma unidade biológica com identidade própria. Cada vez que uma espécie se estingue é património que o planeta perde e consequentemente irá causar mais desiquilírios.
O homem pode "criar" n variedades (raças) dessa espécie, pode extingui-las, voltar a recriá-las, alterá-las etc., mas uma vez extinta a espécie, não há volta a dar após a extinção.
A variedade e diversidade de espécies está intimamente ligada à vida na terra e ao funcionamento regular dos ecossistemas.
Neste momento a maioria dos ecossistemas são já artificializados, ou seja, faltam-lhe já algumas peças (espécies) no puzzle, grande parte das quais devido à acção contínua do homem ao longo de milénios. Portanto, ou existe desiquilíbrio ou esse equilibrio é precário.
Compete ao homem (quer por motivos éticos, quer para a sua própria sobrevivencia futura) lutar a todo o custo para manter algumas peças desse puzzle que teimam em desaparecer, bem como regular o nº de outras que tendem a aumentar fruto desse desiquilibrio.
Compete ao homem regular aquilo que desregulou.
Para mim, as espécies prioritárias (aquelas que estão em 1º plano na minha preocupação), são aquelas cujo tempo escasseia e estão a chegar ao limiar da extinção!
Se para manter essas espécies for necessário recorrer ao sacrifício de indivíduos de outras espécies comuns, é coisa que nada me choca.
Isso também acontece na natureza.
ChloeS Escreveu:
Já que tantas pessoas, como o Fang, lutam pela manutenção de espécies selvagens sem qualquer valor económico, o que o leva a achar que é totalmente inviável a defesa da manutenção das actuais espécies domésticas se elas deixassem de ter valor económico?
Eu não digo que é inviável ou não. Simplesmente apenas conheço o passado e o presente, não vou tecer especulações sobre o caminho da humanidade em termos alimentares.
O que o passado me diz é que tudo aquilo que não serve (animais domésticos incluidos) tem tendencia a deixar de existir.
Em animais domésticos, tem-se visto o que aconteceu em poucas décadas a espécies e raças domésticas que deixaram de servir ao homem.
Algumas extinguiram-se por cruzamentos, outras foram "melhoradas" (o que praticamente vai dar ao mesmo) e outras sobrevivem com "meia dúzia" de indivíduos que alguns "carolas" teimam em preservar.
Mas mesmo salvaguardando o património genético dessas raças, o seu nº reduzido deixa de ter significado em termos ambientais.
É aqui que eu afirmo que muita gente "não vê um boi", pois estão completamente alheios à relação de intimidade que algumas espécies domésticas têm na salvaguarda de espécies selvagens em risco de extinção.
A título de exemplo: Acompanho uma das espécies selvagens com maior decréscimo nacional ao longo dos últimos 20 anos, actualmente restando uns meros 400 indivíduos repartidos por alguns nucleos populacionais isolados - a gralha-de-bico-vermelho - o único passeriforme em perigo de extinção em Portugal!
Monitorizo uma dessas populações há 15 anos e tem sido possível constatar e acompanhar a sua regressão conjuntamente com a regressão e abandono progressivo do pastoreio tradicional em extensivo na serras.
Portanto, a medida mais urgente de salvaguarda, partirá decerto por estimular a criação de gado naqueles locais. E para que isso seja possível é necessário que se aumente a procura daquela carne, leite e queijo.
A morte: Vejo que o principal argumento vegan é a morte de animais.
Não sei se por já ter estado perto dela mais do que uma vez, não valorizo a morte da mesma maneira.
Na natureza a morte é bem mais cruel do que induzida pelo homem (não vamos puxar para aqui apenas os maus exemplos).
Por outro lado, para mim, a morte tem significados diferentes.
A morte de um Lince ibérico não tem o mesmo significado que a morte de um cabrito.
Se para o primeiro, a morte de um indivíduo é uma perda grave na tentativa de o salvar da extinção, para o segundo é por norma um motivo de continuidade da espécie (raça) e consequentemente na continuidade da mesma no auxilio da manutenção da biodiversidade.
Produções industriais: Sim, aqui de facto, ou são nocivas ao ambiente e biodiversidade, ou quando muito têm um papel neutro ou pouco significativo.
As condições de alojamento nem sempre são as melhores e as raças exploradas por vezes chegam ao limiar da aberração, com intuitos meramente produtivos.
Consegue-se carne e outros produtos a preços mais competitivos e estão na base de muito do abandono das produções extensivas que foram durante séculos fulcrais na gestão de habitat de muitas espécies selvagens.
A meu ver, será aqui que se deve intervir, fazendo cumprir a legislação de bem-estar animal (que embora não seja a ideal, sempre é alguma coisa), denunciando os casos às autoridades quando existe negligencia ou abuso. E claro, preferindo carne e produtos oriundo do extensivo.
Mas o que vejo sistemáticamente é meter tudo no mesmo saco e ser-se contra a exploração de animais pura e simples.
Obviamente que não estou de acordo. Por isso digo que há "quem não veja um boi".
E vai continuar a haver... porque estas coisas não são fáceis de transmitir aqui num fórum. Só mesmo no terreno!