Olá,
Finalmente fala-se de cães nesta arca...
Vi um programa no Odisseia que falava precisamente na capacidade que eventualmente qualquer cão tería para detectar os sinais eléctricos de um ataque de epilepsia. Os animais abordados no programa nunca tinham tido qualquer espécie de treino. E todos utilizavam o mesmo método, como ladrar e bater com as patas no peito dos donos, mais ou menos 5 minutos antes do ataque. O tempo suficiente para o dono chamar por ajuda e arranjar um local confortável onde não se magoasse durante a crise. Todos os animais tinham em comum uma forte ligação afectiva com os donos, sendo efectivamente membros da família.
Aqui na minha zona conheço 3 casos com animais sem qualquer treino. Um rapaz que sofreu de paralisia cerebral e ficou com forte descoordenação motora. O cão (rafeiro sem qualquer treino) é a muleta dele. Deu-lhe coragem para sair à rua e fazer uma vida o mais normal possível. Mais uma vez a ligação entre o animal e o dono é muito grande. Todas as necessidades do cão são providas pelo dono deficiente e por mais ninguém. O companheirismo entre os dois é bonito. Muito bonito.
Uma senhora que entrou em depressão profunda depois de o seu filho falecer e anos depois de muitos médicos e internamentos, no auge do desespero o marido arranjou um pequinês. Não teve qualquer treino. Hoje a senhora, apesar de algumas lesões irrecuperáveis, sai à rua, conversa e tem uma vida autónoma e praticamente normal. O cão é a sombra dela e vice versa. Mais uma vez, aqui a ligação entre os dois é fortissima. O problema que se põe agora, é e quando o animal morrer...
Uma criança que depois da separação dos pais modificou de tal forma o comportamento que chegou a ser internada. Mais uma vez, como ultima opção recorreu-se a um rafeirolas que conseguiu em poucos meses o que ninguém mais conseguiu. É igualmente a criança que se responsabiliza por todas as necessidades do animal. Para a criança o cão é o seu irmão. Aliás, ela propria diz o meu mano cão.
Nos três casos, o animal surgiu como recurso final e nos três casos resultou. Básicamente incutiram auto-estima e sensação de utilidade aos donos. Todos foram para os respectivos lares em cachorros, excepto o cão do moço com paralisia que pelos motivos obvios foi adoptado já adulto.
Há uns anos recordo-me de uma forista ter postado aqui na arca que após verificar que o seu cão lhe lambia insistentemente uma perna, sempre no mesmo sitio, resolveu ir ao médico e contar o que cão fazia. Foi-lhe diagnosticado um cancro, creio de pele, ainda muito no início. Algures por aqui deve andar esse relato que ela fez.
Acredito sem duvida nenhuma que qualquer animal pode ser uma mais valia preciosa. E é uma pena que não se utilizem mais animais de canis para projectos destes. Desde acompanhamento de doentes a acompanhamento de pessoas idosas. Como se faz lá fora, aliás.
Acredito que o sobrinho da Maline, só teria a ganhar com a companhia de um cão. Um cão mais adaptado à sua idade. Um animal por quem se pudesse de facto responsabilizar e criar aqueles laços que parecem ser tão necessários para que estes pequenos “milagres” aconteçam.