Desculpem mas há coisas que não consigo compreender. Então o Xico tem de sair de onde está porque a sua cuidadora não consegue dar-lhe a medicação? Um simples comprimido diário? E não há quem lhe possa ensinar uma técnica para o fazer? Parece que, mais uma vez, o Xico vai perder um lar não pelo seu comportameto mas por incapacidade de quem o tem ao seu cuidado. As pessoas têm de perceber que uma medicação, qualquer que seja, tem de ser dada com a frequência indicada, e a saúde mental é tão importante como a saúde física - e neste caso pode mesmo ser uma questão de vida ou de morte! Tem de se ter este pensamento presente, por muito irrealista que pareça: se não tomar a medicação diariamente e a horas certas, morre. Ponto. E não falo de cor, tenho muitos gatos desde 2008, há apenas 4 anos e tive de aprender muitas coisas. Atrevo-me com casos complicados, sim, e fossem todos tão complicados como o Xico...

sofri uma derrota que ainda não consegui engolir, é verdade: um gato obeso de 8 anos, que perdeu a dona idosa, deprimiu ainda com ela doente; encheram-no de Prozac e "aguentou-se" enquanto esteve na sua casa, a ser cuidado pela empregada e por uma amiga. Mas a casa tinha de ser entregue e o Tomé tinha de sair. Ninguém da família o quis e iam eutanasiá-lo; a sua amiga, no entanto, lutou por ele e conseguiu pô-lo para adopção. Eu quis dar uma nova vida ao Tomé... mas não consegui. A lipidose invadiu o seu fígado já fragilizado pelo antidepressivo que tomou durante a fase terminal da doença da dona e ele desistiu de viver, e eu não consegui "entrar" na sua cabecinha o suficiente para o impedir. Mas foi a única coisa que eu não consegui... era preciso medicá-lo, alimentá-lo à força e, mesmo tendo emagrecido bastante, ainda era um gato grande e forte. E também teimoso e determinado, sem pudor em ferrar o dente ou espetar as unhas quando contrariado - o que incluia tomar comprimidos. Como ão comia por si, habitualmente, tive de recorrer a todas as técnicas que conhecia e ainda inventar mais algumas. Em último caso, se não conseguia sozinha, pegava nele e levava-o ao veterinário: verdade, para dar a porcaria de um comprimido. Mas o que tinha de ser, tinha de ser. Julgo que isso não sucedeu mais que duas vezes, e também o fi porque, felizmente, ele não stressava com as idas ao vet. Talvez algumas pessoas não saibam, mas o stress mata facilmente um gato, especialmente se estiver debilitado. O Xico, evidentemente, sofre de stress, evidenciado pelos "ataques de asma", por isso a toma da medicação deve ser feita rápida e tranquilamente...
Cá em casa, como já expliquei, são muitos; chegam a juntar-se 20. Há-os de todas as idades e proveniências, bons e maus feitios. Os que gostam de estar com outros e os que preferem estar sozinhos; os que sempre viveram com outros gatos e mesmo mais animais, e os que eram "filhos únicos", ou viveram muito tempo confinados (alguém se lembra do caso dos gatos da D. Beatriz? O Black viveu numa jaula/marquise durante 5 anos - ia alternando com outro macho, ora ficava um na jaula ora ficava o outro, ambos não castrados... ou ainda o outro caso da gatinha Safira que me chegou com 3 anos de idade e tinha vivido o ultimo ano fechada numa coelheira). Gatos considerados antisociais e que vieram viver comigo porque, e não quisessem conviver com pessoas, não havia problema algum; e se não gostassem de viver dentro de casa, tinham espaço seguro no exterior.... enfim, acho que já perceberam o filme.
Como são vários animais (há também 4 cães e duas coelhas - estas realmente não podem conviver com 3 dos cães), tive de criar e fazer cumprir duas regras: uma, mesmo que não gostem uns dos outros, têm de se tolerar (claro que umas rosnadelas e uns episódios de chapadas acontecem, mas sem comprometer a integridade física ou emocional - não tenho gatos "aterrorizados"); e a segunda, mais importante, é: QUEM MANDA SOU EU. E Faço questão de que todos a aprendam. Muita coisa lhes é permitida, podem subir para os móveis, dormir na minha cama, empoleirarem-se onde bem entenderem, a casa é mais deles do que minha e, tendo de conviver em harmonia tão grande nº de animais, importa minimizar o stress, sempre presente, impondo-lhes grandes limitações. Mas TODOS - e sublinho TODOS - são manuseáveis para tratamentos, seja colocar uma pipeta, seja tomar comprimidos, injecções ou o que for preciso fazer. Uns menos fáceis q outros (sobretudo quando começam a melhorar

) mas para cada um, há sempre estratégias que resultam, porque TÊM DE RESULTAR. Mesmo q isso implique sujeitar-me a arranhadelas e mordeduras (mesmo um aimal dócil pode morder, com dores e/ou medo). Teho plena consciência dos estragos que me podem fazer, mas ter consciência não é ter medo... E nao tenho medo porque eu sou muito maor e mais poderosa do que eles. Tenho consciência, conhecimentos, racionalidade e polegares oponíveis. Consigo imobilizá-los e, se eu quisesse, aniquilá-los. Eles também sabem disso... (e, apesar de já estarem a imaginar q os maltrato, acreditem q o meu vet me considera demasiado "meiga" - e tem razão, por vezes, com a intenção de os tranquilizarmos, estamos a reforçar um comportamento indesejável...).
Tal como a Argay, não sou adepta de sedações e antidepressivos ou ansiolíticos. Se já nos humanos as terapias medicamentosas só "ajudam" se houver alterações coportamentais e uma genuina força de vontade, com os aimais ainda é mais complicado... eles tomam o medicamento, mas quem tem de mudar os comportamentos são os seus responsáveis; se assim não for, o animal fica condenado a depender de químicos apenas para não sofrer "ressaca". Os sintomas de privação são terríveis, é um preço demasiado alto... e há alternativas. Dão muito mais trabalho, claro que dão, exigem muito mais empenho e dedicação por parte das pessoas. Ninguém disse que era fácil e, nos ambientes urbanos, o mais comum é encontrar animais desequilibrados - as próprias pessoas ficam deseuilibradas, não somos feitos para viver a este ritmo e "engavetados" em linhas rectas de betão, com ruido constante, e não é normal termos de tomar medicamentos para "encaixarmos" e nos sentirmos minimamente bem. Aliás, não é normal sentirmo-no bem num ambiente que nos violenta de todas as maneiras, mas adiante. É de gatos que se fala, e do Xico em particular.
O Xico está a tomar medicação que lhe provoca sofrimento quando privado dela; não importa se acho certo ou errado. Seguramente, só poderá iniciar o "desmame" quando a sua zeladora se sentir mais segura e mudar a sua atitude.
Não sei se será completamente idiota propôr que a FAT dê mais ua oportunidade ao Xico. Não é só o gatinho que beneficia, a pessoa também ganhará muito com uma mudança de postura. E o Xico tem algo muito bom a favor dele: não deprimiu. Não desistiu de viver. Está saudável e com apetite, e isso é muito bom. Está receptivo. Entendo o que a Argay pretendeu dizer quando afirmou que o Xico também tem de fazer a sua parte; tem, mas tem de ser levado a fazê-la, com calma e astúcia. Tenho muita pena da gatinha que levou a sova e de todos os traumas que sofreu, e fico contente por já estar melhor, e espero sinceramente, para bem de todos, que possa ultrapassar todos os seus problemas. E o Xico não é, seguramente, o seu problema, porque ela terá o memo tipo de reacção com qualquer outro gato que entre lá em casa... enquanto os donos tiverem muita pena dela e reforçarem os seus comportamentos.
Que se entenda de uma vez: animais não são crianças débeis mentais, e animais não vivem no passado. Sofrem e sentem, mas de forma diferente de nós, humanos. O problema da gatinha, e o problema do Xico, são as pessoas, que vivem agarradas a rótulos, são elas próprias inseguras e "coarções moles", e humanizam os bichanos... afinal, a catlover não consegue dar o compriido ao Xico? Claro que consegue, logo, o problema não é do gato...! O Xico é inteligente, e sabe muito bem quem pode e quem não pode manipular. Se desistirem dele... todos perdem. Perde o Xico (e até pode perder a vida...), perdem as cuidadoras uma boa oportunidade de melhorarem como pessoas e tornarem felizes as criaturas que dependem delas...
Agora, se não houver possibilidade de o Xico vir a ter uma vida "normal", se tiver de viver confinado a um quarto o resto da sua vida... realmente, é preferível a eutanásia. Nenhuma criatura, por mais diabólica que seja, merece tal sorte e, pelo que tenho lido aqui, o Xico não tem nada de mau. É um doce, e apenas reage... e as pessoas da casa são tal e qual como a catlover, têm as mesmas capacidades. Só têm de as pôr em prática, não é nada do outro mundo! O único talento requerido é serem capazes de mudar.
Também me parece bem lembrar que os sintomas de privação não duram para sempre, e o Xico pode ser ajudado a suportá-los e ultrapassar essa fase má mais depressa e com menos sofrimento. É preciso ocupá-lo, fazê-lo gastar a energia q tem de forma positiva. Os gatos precisam de saltar, correr, "caçar", "lutar"... precisam de ser gatos, mesmo entre 4 paredes. Há catnip, há uma espécie de "kongs" para gatos mas tb e podem improvisar... vai haver ração espalhada, vai haver desarrumação e talvez alguns estragos nos móveis, mas isso importa realmente? Arranjem umas penas de pombos, há-as aos milhares pelas cidades, lavem-nas e sequem-nas e prendam-nas na ponta de uma corda. Cansem o bichano, brinquem com ele, espalhem umas caixas de cartão fechadas, apenas com uns buracos para ele poder entrar e sair... e já agora, façam o mesmo à gatinha "da casa" (eu n faço essas distinções, se estão a meu cargo, são da família... e eles tb sentem isso). A catlover certamente não se importará de ensinar algumas técnicas de manuseamento (não é fazer as coisas, é mostrar como se faz, ensinar, corrigir...). Aos poucos, as pessoas ganharão confiança e autonomia e, conhecendo os bichanos, até podem criar técnicas novas, ajustadas à criatura com que têm de lidar (a "chapa 5" nem sempre funciona, aliás... quase nunca resulta mais do que uma vez

). Tenho uma bichana minúscula que é um terror para tomar comprimidos; esteve com coriza, precisou de fazer antibiótico e pôr gotas nos olhos - um inferno, bem pior q os comprimidos!

- e um dia eu estava já tão cansada e desesperada, depois de um longo dia de trabalho e com o dia a seguir igualmente terrivel, que pedi ajuda ao meu vet. Quanto mais me esforçava, mais ela resistia, mais enervada eu ficava e incapaz de agir racionalmente e com a calma necessária, e a certa altura já chorava eu e gata estava nervosíssima. A muito custo e com as forças que me restavam, consegui convencer o meu vet a ficar lá com ela 24 horas, nem tanto, para eu poder descansar um pouco e a gatinha ser tratada como devia ser (e assim que a começasse a tratar tb perceberia o motivo do meu desespero...

). E lá ficou ela depois de se ter debatido um bocado, comigo a segurá-la e o vet a por-lhe as benditas gotas. uando a fui buscar no dia seguinte, ela parecia outra...

cara lavadinha, sem remelas nem ranhocas e duas novas técnicas para a manusear! O veterinário percebeu q ela nao gostava de ser agarrada na prega de pele do pescoço e lutava, mas se a agarrasse um pouco mais acima, na zona da nuca, ela aquietava; e, para pôr as gotas nos olhos, bem... bastava segurar-lhe as 4 patas num "ramalhete", com 3 dedos de uma das mãos e, com o polegar e o indicador, segurar-lhe a cabeça na tal prega na nuca... Eu fiquei impressionada, juro, jamais me ocorreria tal coisa, só faltava dar um nó

Mas os gatinhos são muito flexíveis e rapidamente ela compreendeu que, se se tentasse mexer, magoava-se. E a vantagem de segurar a cabeça agarrando a pele da nuca é que também lhe abria os olhos, ping, ping, quando abria a boca para reclamar, lá ia o comprimidinho goela abaixo (também já estava a postos).
O essecial é mesmo ser firme e agir com calma e sensatez. É um gato, não é um tigre, nem sequer um cão grande...
Desculpem o testamento. Espero que tudo se resolva da melhor forma para todos. Tentem mais uma vez, por favor...